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<p>7</p><p>01</p><p>ORIGEM E DISPERSÃO DOS</p><p>CITROS</p><p>A origem da maioria das espécies de citros não é conhecida com exatidão.</p><p>Isso porque as plantas das diferentes espécies que compõem o gênero Citrus</p><p>vêm sendo utilizadas e disseminadas pelo homem há vários séculos, sem que</p><p>houvesse nenhum tipo de registro dessa movimentação, que ocorreu principal-</p><p>mente na forma de frutos e sementes de um local para outro.</p><p>O primeiro registro escrito sobre os citros ocorreu em cerca de 2000 a.C., na</p><p>China. Nesse documento, os citros foram mencionados em uma lista de tributos</p><p>oferecidos a um imperador chinês.</p><p>A maioria das espécies de citros originou-se nas regiões tropi-</p><p>cais e subtropicais do Sudeste Asiático, abrangendo uma am-</p><p>pla faixa de terra, situada aproximadamente entre os paralelos</p><p>15o e 25o Norte. Essa região se estende desde o Himalaia até a</p><p>China Central, Filipinas, Miamar, Tailândia e Indonésia.</p><p>Existem dúvidas quanto à origem do pomeleiro, também conhecido como</p><p>grapefruit, já que plantas desse tipo de citros não foram encontradas em estado</p><p>selvagem na região de origem das demais espécies. Acredita-se que tenha ori-</p><p>gem americana (Antilhas), provavelmente resultante de hibridação natural entre</p><p>Citrus grandis (toranjeira) e Citrus reticulata (tangerineira).</p><p>Acredita-se que o sabor característico das frutas, com diferenças considerá-</p><p>veis entre espécies e cultivares, a concentração razoável de vitamina C (10-80</p><p>mg/10mL de suco), a facilidade de adaptação às condições de clima e solos va-</p><p>riados e a facilidade de processamento industrial dos frutos foram os principais</p><p>fatores responsáveis pela disseminação e importância dos citros.</p><p>A primeira espécie de citros conhecida na Europa foi a cidreira (Citrus medica),</p><p>cuja introdução ocorreu em 330 a.C. As laranjeiras doces (Citrus sinensis) e azedas</p><p>(Citrus aurantium) e os limoeiros (Citrus lim on) foram introduzidos na Europa no</p><p>século XII e as tangerineiras (C. reticulata), no século XIX.</p><p>Na América, o introdutor dos citros foi Cristóvão Colombo, em 1493, nas</p><p>Antilhas e Haiti, de onde foram levados posteriormente para o México e os Es-</p><p>tados Unidos (Flórida). No Brasil, a introdução foi feita pelos portugueses, pro-</p><p>vavelmente na Bahia, pelas expedições colonizadoras. A partir de 1530, com a</p><p>chegada de novos habitantes, foram plantadas as primeiras árvores de citros.</p><p>Iniciou-se a citricultura brasileira que, entretanto, somente alcançou importân-</p><p>cia econômica cerca de 400 anos após sua introdução no país, a partir do início</p><p>do século XX. Inicialmente, os frutos eram utilizados apenas para consumo in</p><p>natura.</p><p>A produção industrial de suco de laranjas para exportação iniciou-se a partir</p><p>da década de 1960, no estado de São Paulo.</p><p>Õ</p><p>8</p><p>IMPORTÂNCIA ECONÔMICA,</p><p>SOCIAL E ALIMENTAR DOS CITROS</p><p>1. PRODUÇÃO E IMPORTÂNCIA ECONÔMICA</p><p>Os frutos dos citros (laranjas, tangerinas, limas, limões, pomelos, cidras, cun-</p><p>quates) são os mais produzidos no mundo (Tabela 1) e cultivados em quase 150</p><p>países, localizados nas regiões tropicais e subtropicais do planeta. A ampla ca-</p><p>pacidade de adaptação climática, a facilidade de industrialização, associadas às</p><p>características sensoriais e de qualidade dos frutos, são os principais fatores res-</p><p>ponsáveis por essa posição.</p><p>Tabela 1. Principais frutas produzidas no mundo - 2013</p><p>Frutas Produção - t Porcentagem</p><p>Citros</p><p>Banana</p><p>Maçã</p><p>Uva</p><p>Outras frutas</p><p>135.761.181</p><p>106.714.205</p><p>80.822.521</p><p>77.181.122</p><p>276.191.413</p><p>20,1</p><p>15,8</p><p>11,9</p><p>11,4</p><p>40,8</p><p>Total 676.670.442 100,0</p><p>Fonte: FAOST AT, 2015</p><p>O maior produtor de citros do mundo na atualidade é a China. A área cultiva-</p><p>da dos chineses vem aumentando acentuadamente nos últimos anos, enquanto</p><p>a do Brasil está se reduzindo. Apesar disso, ainda ocupa o segundo lugar na</p><p>produção global de citros (Tabela 2).</p><p>02</p><p>9</p><p>Tabela 2. Principais países produtores de frutos dos citros no mundo - 2013</p><p>Países Produção - t Porcentagem</p><p>China</p><p>Brasil</p><p>Estados Unidos</p><p>Índia</p><p>México</p><p>Espanha</p><p>Egito</p><p>Nigéria</p><p>Turquia</p><p>Argentina</p><p>Outros</p><p>32.576.744</p><p>19.734.725</p><p>10.133.246</p><p>10.090.000</p><p>7.613.105</p><p>6.379.100</p><p>4.092.339</p><p>3.800.000</p><p>3.681.158</p><p>2.814.697</p><p>34.846.067</p><p>24,0</p><p>14,5</p><p>7,5</p><p>7,4</p><p>5,6</p><p>4,7</p><p>3,0</p><p>2,8</p><p>2,7</p><p>2,1</p><p>25,7</p><p>Total 135.761.181 100,0</p><p>Fonte: FAOSTAT, 2015</p><p>Por outro lado, considerando apenas a produção de laranjas, o Brasil ocupa a</p><p>primeira posição, com 24,6% da produção mundial, seguido pelos Estados Uni-</p><p>dos, China, Índia, México e Espanha (Tabela 3).</p><p>Tabela 3. Principais países produtores de laranjas do mundo -2013</p><p>Países Produção - t Porcentagem</p><p>Brasil</p><p>Estados Unidos</p><p>China</p><p>Índia</p><p>México</p><p>Espanha</p><p>Egito</p><p>Turquia</p><p>Itália</p><p>África do Sul</p><p>Outros</p><p>17.549.536</p><p>7.574.094</p><p>7.304.840</p><p>6.426.200</p><p>4.409.968</p><p>3.394.100</p><p>2.886.015</p><p>1.781.258</p><p>1.708.337</p><p>1.671.508</p><p>16.739.497</p><p>24,6</p><p>10,6</p><p>10,2</p><p>9,0</p><p>6,2</p><p>4,8</p><p>4,0</p><p>2,5</p><p>2,4</p><p>2,3</p><p>23,4</p><p>Total 71.445.353 100,0</p><p>Fonte: FAOSTAT, 2015</p><p>Após as laranjas, as tangerinas são os principais frutos dos citros produzidos</p><p>no mundo. A China é o principal produtor, com mais da metade da produção</p><p>mundial (52,9%), seguida pela Espanha, que é o principal país exportador de</p><p>laranjas e tangerinas para consumo de mesa do mundo. O Brasil é o quarto</p><p>maior produtor, com 3,3% da produção mundial (Tabela 4). A quantidade de tan-</p><p>gerinas produzidas no Brasil representa apenas 5,3% da produção de laranjas,</p><p>mostrando o predomínio do cultivo de laranjas no país.</p><p>10</p><p>Tabela 4. Principais países produtores de tangerinas do mundo - 2013</p><p>Países Produção - t Porcentagem</p><p>China</p><p>Espanha</p><p>Turquia</p><p>Brasil</p><p>Egito</p><p>Japão</p><p>Irã</p><p>Coreia</p><p>Marrocos</p><p>Itália</p><p>Outros</p><p>15.171.700</p><p>2.198.900</p><p>942.226</p><p>937.819</p><p>917.404</p><p>895.900</p><p>837.347</p><p>682.801</p><p>664.127</p><p>650.465</p><p>4.779.525</p><p>52,9</p><p>7,7</p><p>3,3</p><p>3,3</p><p>3,2</p><p>3,1</p><p>2,9</p><p>2,4</p><p>2,3</p><p>2,3</p><p>16,7</p><p>Total 28.678.214 100,0</p><p>Fonte: FAOSTAT, 2015</p><p>Quanto às limas e aos limões, os principais produtores são Índia, México e</p><p>China. Os dois primeiros produzem quantidades muito próximas entre si, cor-</p><p>respondendo a 16,6% e 14,1% da produção mundial. O Brasil ocupa a quinta</p><p>posição, com 7,7% da produção mundial (Tabela 5).</p><p>A produção mexicana, assim como a brasileira, está concentrada na espécie</p><p>Citrus latifolia, que é conhecida no Brasil como limão Tahiti. Outros nomes dela</p><p>são limón criollo, limón pérsico, Bearss lime e Persian lime. Por outro lado, na China,</p><p>Índia, Argentina, Estados Unidos e Espanha predomina o cultivo dos limões ver-</p><p>dadeiros (Citrus limon).</p><p>Tabela 5. Principais países produtores de limas e limões no mundo - 2013</p><p>Países Produção - t Porcentagem</p><p>Índia</p><p>México</p><p>China</p><p>Argentina</p><p>Brasil</p><p>Estados Unidos</p><p>Turquia</p><p>Espanha</p><p>Irã</p><p>Itália</p><p>Outros</p><p>2.523.500</p><p>2.138.737</p><p>1.914.880</p><p>1.301.902</p><p>1.169.370</p><p>827.353</p><p>726.283</p><p>715.300</p><p>584.614</p><p>336.195</p><p>2.953.349</p><p>16,6</p><p>14,1</p><p>12,6</p><p>8,6</p><p>7,7</p><p>5,4</p><p>4,8</p><p>4,7</p><p>3,8</p><p>2,2</p><p>19,4</p><p>Total 15.191.483 100,0</p><p>Fonte: FAOSTAT, 2015</p><p>No Brasil, as laranjas são produzidas em todas as regiões e estados, com</p><p>maior concentração nas regiões Sudeste (78,6%), Nordeste (10,2%) e Sul (8,4%).</p><p>Na região Sudeste destaca-se o estado de São Paulo, com 72,6% da produção na-</p><p>cional, seguido de Minas Gerais, com 5,5% (Tabela 6). Minas Gerais é o segundo</p><p>estado maior produtor de laranjas do Brasil, com a produção de frutos em todo</p><p>o estado. Porém, as regiões tradicionais de cultivo e produção de citros são o</p><p>Triângulo Mineiro, Norte e Sul de Minas. No Triângulo Mineiro, a produção está</p><p>11</p><p>concentrada nas laranjas, que são destinadas, na maioria, às indústrias produ-</p><p>toras de suco de São Paulo, proprietárias de vários pomares na região. No Sul</p><p>de Minas, concentra-se a produção de tangerinas ‘Poncã’, cujos frutos são de ex-</p><p>celente qualidade em função do clima.</p><p>No Norte de Minas, a produção de citros é toda irrigada, devido ao clima</p><p>semiárido. Nessa região, destaca-se a produção de limas ‘Tahiti’, mas o cultivo</p><p>de tangerineiras, limeiras doces e laranjeiras precoces e de meia estação está</p><p>em pleno crescimento. O diferencial da região consiste em produzir frutos mais</p><p>precoces do que os das regiões tradicionais,</p><p>sólidos solúveis (SS), na acidez e na coloração da casca.</p><p>O ponto adequado de consumo dos frutos dos citros é expresso em função</p><p>de suas características organolépticas, ou seja, pelo “índice de maturação” (IM)</p><p>ou “Ratio”, calculado dividindo-se o teor de SS do suco pelo teor de AT (Acidez</p><p>Total Titulável). A relação adequada depende do cultivar, do destino da produ-</p><p>ção (indústria ou consumo in natura), da época do ano e da preferência dos con-</p><p>sumidores. Uma relação acima de 9,5 é considerada como a mínima aceitável</p><p>para laranjas e tangerinas. Teores mais elevados de açúcares, desde que adequa-</p><p>damente equilibrados com os de ácidos, geralmente resultam em sabor mais</p><p>agradável do fruto.</p><p>O IM não é válido para limas ácidas e limões, visto que durante sua matura-</p><p>ção a concentração de ácidos continua elevada, podendo variar de 60% a 70%</p><p>dos SS. O mesmo se aplica às laranjas classificadas como de “baixa acidez” ou</p><p>“sem acidez” (laranjas ‘Lima’, ‘Piralima’, ‘Serra d’Água’, ‘Lima Tardia’). Nesses cultiva-</p><p>res, os teores de acidez dos frutos são muito baixos (cerca de 10% da acidez das</p><p>laranjas comuns), o que resulta em IM elevado, geralmente superior a 100.</p><p>O conteúdo de açúcares nos frutos depende de vários fatores,</p><p>como cultivar, copa, porta-enxerto, tratos culturais e clima. O</p><p>efeito do clima sobre essa característica é muito importante,</p><p>sendo responsável pelas variações no IM em diferentes anos e</p><p>locais. Geralmente, em locais com temperaturas mais elevadas</p><p>durante o período de amadurecimento dos frutos, os teores de</p><p>açúcares são mais elevados do que nos frutos que amadure-</p><p>cem em locais de clima mais ameno.</p><p>O ácido predominante no suco é o cítrico, que representa aproximadamente</p><p>80% a 85% da AT do fruto. Ele se acumula durante o início do desenvolvimento</p><p>do fruto, alcança um conteúdo máximo e permanece praticamente constante</p><p>até a colheita, portanto, a redução na concentração de ácidos durante a matura-</p><p>ção é devida principalmente à diluição ocasionada pelo aumento do volume de</p><p>suco, visto o conteúdo de AT é praticamente constante.</p><p>A coloração da casca e a maturação interna dos frutos dos citros parecem ser</p><p>controladas por diferentes mecanismos. Em regiões de clima tropical, é comum</p><p>o fruto estar internamente adequado para o consumo e externamente apresen-</p><p>tar a casca verde. Esse fato é evidente nos frutos dos citros cultivados na maior</p><p>parte das regiões Norte, Nordeste e mesmo no Norte de Minas Gerais. O con-</p><p>trário ocorre para alguns cultivares tardios de laranja, como ‘Natal’ e ‘Valencia’,</p><p>em locais com invernos frios, nos quais a casca dos frutos encontra-se amarela</p><p>e internamente estão inadequados ao consumo, por cuasa da elevada acidez e</p><p>baixos teores de açúcares.</p><p>A mudança de coloração da casca dos frutos é devida à degradação das clo-</p><p>rofilas e à síntese de carotenoides, que são responsáveis pela coloração amare-</p><p>Õ</p><p>39</p><p>la ou laranja dos frutos. A cor dos frutos é fortemente influenciada por fatores</p><p>ambientais, como temperatura, umidade, luminosidade, solo, porta-enxertos, e</p><p>endógenos (giberelinas, compostos nitrogenados e carboidratos). A transforma-</p><p>ção de cloroplastos em cromoplastos é reversível, ou seja, frutos que se tornam</p><p>amarelos no outono e inverno podem retornar à cor verde, com o aumento da</p><p>temperatura na primavera, por um processo denominado “reverdecimento”.</p><p>A aplicação de giberelinas nos frutos dos citros, quando eles se encontram</p><p>na fase de mudança de cor, atrasa a degradação das clorofilas e o acúmulo de</p><p>carotenoides (Figura 17).</p><p>Figura 17 - Teor de clorofila total na casca de laranjas ‘ Hamlin’, em função da</p><p>aplicação de 2,4-D (20 mg/L) e de GA3 (10 mg/L) e da mistura 2,4-D +GA3 (20</p><p>mg/L + 10 mg/L), antes da mudança de cor dos frutos</p><p>Esse fato apresenta aplicações práticas, pois frutos de lima ‘Tahiti’, tratados</p><p>com ácido giberélico, mantêm a cor verde por mais tempo após a colheita, pre-</p><p>servando, portanto, o seu valor comercial. Também as laranjas e tangerinas pul-</p><p>verizadas com ácido giberélico, antes da colheita e da mudança da cor da casca,</p><p>apresentam várias alterações que são de interesse agronômico: mantêm a casca</p><p>com a cor verde por mais tempo (Figura 18); são menos atacadas pelas moscas</p><p>das frutas (cor verde atrai menos os insetos); os frutos permanecem mais tempo</p><p>na planta após a época normal de colheita, e apresentam maior resistência da</p><p>casca, sem que ocorram alterações nas características do suco.</p><p>Figura 18 – Tangerinas ‘Poncã’ provenientes da mesma planta e colhidas na</p><p>mesma data, sem aplicação de ácido giberélico, com a casca totalmente</p><p>amarela (a) e pulverizada com ácido giberélico no início do processo de mu-</p><p>dança de cor da casca (b).</p><p>a b</p><p>40</p><p>Quando os frutos alcançam a qualidade adequada para o consumo, podem</p><p>ser colhidos imediatamente ou deixados na planta por mais tempo. A dura-</p><p>ção irá depender do cultivar e das condições climáticas. O “armazenamento” dos</p><p>frutos na planta é importante para o produtor, pois facilita o planejamento e o</p><p>escalonamento da colheita.</p><p>Frutos de alguns cultivares, como laranjas ‘Valência’ e ‘Natal’,</p><p>podem ser mantidos na planta durante meses depois de atingi-</p><p>da a maturidade fisiológica. No entanto, de acordo com o clima</p><p>e o controle de insetos - principalmente mosca das frutas e bi-</p><p>cho furão -, as tangerinas, em geral, se deterioram mais rápido.</p><p>Em locais de clima mais quentes, o tempo de permanência do</p><p>fruto na planta, após o amadurecimento, é menor, devido ao</p><p>processo de senescência ser mais rápido.</p><p>Õ</p><p>41</p><p>CLIMA E SOLO</p><p>1. CLIMA</p><p>Os citros são cultivados desde o Equador até aproximadamente 40° de</p><p>latitude (Norte e Sul), formando um cinturão em torno do planeta. Esta dispersão</p><p>em regiões de climas tão diferentes daquele de origem favoreceu a diversificação</p><p>das espécies. Devido à ampla capacidade de adaptação apresentada pelos</p><p>citros, sabe-se que uma mesma variedade ou cultivar pode ser plantado com</p><p>sucesso em regiões com características climáticas bastante diferentes entre si.</p><p>Entretanto, essas variações podem alterar significativamente as características</p><p>das plantas, como porte, aspecto das folhas, longevidade e dos frutos, como</p><p>forma, tamanho, cor da casca, cor da polpa, textura, teores de ácidos e açúcares.</p><p>Entre os fatores climáticos que exercem influência sobre os citros, destacam-</p><p>se a temperatura e a umidade.</p><p>1.1. Temperatura</p><p>Para as plantas, temperaturas menores que 13 ºC e maiores que 39 ºC fazem</p><p>com que o desenvolvimento seja praticamente interrompido. Por outro lado,</p><p>na faixa compreendida entre 13 ºC e 32 ºC, com o aumento da temperatura, há</p><p>aumento de crescimento - desde que não haja outros fatores limitantes, como</p><p>o estresse hídrico. Abaixo de 13 ºC ou acima de 35 ºC, a taxa fotossintética de</p><p>laranjeiras é cerca de 50% da fotossíntese alcançada em temperaturas ótimas, que</p><p>varia entre 25 ºC e 30 °C. Como a temperatura é variável ao longo de um mesmo</p><p>dia, as plantas ficam submetidas a temperaturas favoráveis e desfavoráveis à</p><p>fotossíntese várias vezes durante o dia.</p><p>Em regiões de clima subtropical, é fundamental a existência de</p><p>um verão quente e suficientemente longo para permitir o cres-</p><p>cimento e maturação dos frutos. Portanto, nos locais com pri-</p><p>maveras e verões curtos, é aconselhável o plantio de cultivares</p><p>precoces. Entre as tangerineiras, as mais precoces pertencem</p><p>ao grupo das satsumas.</p><p>Quando cultivados em regiões de clima tropical, sob temperaturas altas, os</p><p>frutos dos citros se desenvolvem mais rápido e alcançam maiores tamanhos.</p><p>Permanecem esverdeados, mesmo quando alcançam o ponto de consumo, de-</p><p>vido à baixa degradação da clorofila e síntese de carotenoides, resultando em</p><p>frutos pouco atrativos, principalmente laranjas e tangerinas (Figura 19). Nesse</p><p>caso, a aplicação de etileno para provocar o desverdecimento dos frutos faz com</p><p>que sejam evidenciados pigmentos de cor amarela, e não alaranjado, que é a cor</p><p>típica das laranjas e tangerinas.</p><p>06</p><p>Õ</p><p>42</p><p>Frutos produzidos em climas tropicais apresentam</p><p>a casca mais macia, me-</p><p>nor período de conservação na planta e na pós-colheita e são mais suscetíveis</p><p>a manchas devido à maior fragilidade da casca, o que reduz o tempo disponível</p><p>para comercialização.</p><p>Além disso, tendem a apresentar elevados teores de sólidos solúveis e baixos</p><p>teores de ácidos.</p><p>Por outro lado, quando cultivados em locais de clima subtropical, o desen-</p><p>volvimento dos frutos é mais lento, havendo interrupção ou redução no cresci-</p><p>mento durante o inverno, dependendo da temperatura. No verão, o crescimento</p><p>dos frutos é retomado, mas o tamanho final é menor do que aqueles que se de-</p><p>senvolvem em regiões tropicais. O amadurecimento dos frutos é mais lento, ha-</p><p>vendo maior disponibilidade de tempo para a colheita e comercialização, além</p><p>de os frutos serem mais coloridos (casca e polpa).</p><p>As plantas dos citros são de clima subtropical, no qual a temperatura é o</p><p>principal fator limitante ao cultivo. Geralmente, as plantas não toleram tempera-</p><p>turas inferiores a - 3ºC. Entretanto, há diferenças entre as espécies e variedades</p><p>quanto à tolerância ao frio. Em ordem decrescente de tolerância ao frio, estão o</p><p>Poncirus trifoliata, cunquateiros, tangerineiras, laranjeiras azedas, laranjeiras do-</p><p>ces, pomeleiros e, por último, limoeiros, limeiras e cidreiras. Entre as espécies de</p><p>plantas do gênero Citrus, as tangerineiras são as mais tolerantes ao frio, princi-</p><p>palmente quando enxertadas sobre P. trifoliata.</p><p>Os citros, com exceção do Poncirus trifoliata, não toleram geadas. O efeito</p><p>das baixas temperaturas depende da sua intensidade, duração e do estádio de</p><p>desenvolvimento em que as plantas se encontram no momento da geada. Há</p><p>uma escala de tolerância entre os diversos órgãos, dentre os quais as flores são</p><p>os mais sensíveis, passando pelos brotos novos, folhas adultas, frutos, ramos até</p><p>chegar às raízes, que são os mais tolerantes.</p><p>Árvores dos citros não apresentam dormência, como ocorre com as plantas</p><p>de clima temperado, mas sim repouso invernal, no qual ocorre interrupção no</p><p>crescimento devido a baixas temperaturas. Essa interrupção provoca a indução</p><p>floral e o florescimento, que ocorre na primavera, com o início do aumento na</p><p>temperatura. O efeito das baixas temperaturas sobre o florescimento dos citros</p><p>é incrementado pelo tempo em que as plantas ficam submetidas a elas. Estudos</p><p>indicam que o máximo florescimento de laranjeiras ocorre após 1500 a 2500 ho-</p><p>ras de temperaturas abaixo de 24° C ou 800 a 1900 horas abaixo de 19° C.</p><p>Entretanto, quando os citros são cultivados em regiões tropicais, nas quais a</p><p>ocorrência de temperaturas baixas no inverno não é suficiente para a indução do</p><p>florescimento, ele irá ocorrer após a interrupção ou redução do crescimento das</p><p>plantas, ocasionado por estresse hídrico. Estresses hídricos no solo suficientes</p><p>Figura 19 – Tangerinas ‘Poncã’, no ponto de consumo, produzidas em diferentes locais. Frutos pro-</p><p>duzidos em clima tropical no Norte do Estado de Minas Gerais (a), fruto produzido no Norte de</p><p>Minas Gerais, desverdecido com etileno (b); fruto produzido no Sul de Minas Gerais (clima mais</p><p>ameno durante o amadurecimento) (c).</p><p>a b c</p><p>43</p><p>para abaixar o potencial hídrico foliar (Ψw) para valores abaixo de -0,9 MPa são</p><p>suficientes para induzir o florescimento. Após o restabelecimento da umidade</p><p>do solo, decorrente de irrigação ou chuvas, o florescimento ocorre.</p><p>Após o florescimento, as plantas necessitam de temperaturas mais elevadas</p><p>durante a primavera e verão para que ocorra o desenvolvimento dos frutos. Du-</p><p>rante esse período, a faixa ótima de temperatura está entre 23° e 32o C.</p><p>A temperatura de 13° C é considerada limite para os citros, abaixo da qual</p><p>não há crescimento vegetativo ou ele é muito lento, embora haja diferenças en-</p><p>tre espécies e cultivares. Essa temperatura é conhecida como temperatura base.</p><p>Pesquisas indicam que há alta correlação entre o acúmulo de temperaturas su-</p><p>periores à temperatura base e o período compreendido entre o florescimento</p><p>e a colheita dos frutos. O somatório desses valores de temperatura é expresso</p><p>em Graus Dia (GD), Soma Térmica (ST) ou Unidades Térmicas (UT). Em outras pa-</p><p>lavras, para um mesmo cultivar, quanto mais rapidamente houver acúmulo de</p><p>graus dia, mais curto será o período compreendido entre o florescimento e a</p><p>colheita.</p><p>O cálculo do acúmulo de Graus Dia é útil para estimar o tempo</p><p>necessário entre o florescimento e a maturação dos frutos de</p><p>diversos cultivares e espécies de citros, possibilitando um pla-</p><p>nejamento mais adequado das épocas de execução dos tratos</p><p>culturais e da colheita.</p><p>Esse cálculo é feito por meio da equação:</p><p>Em que: GD, é o total de graus-dia acumulado;</p><p>Tmax é a temperatura do ar máxima diária (°C);</p><p>Tmin é a temperatura do ar mínima diária (°C);</p><p>Tb é a temperatura-base (13° C para os citros)</p><p>i e n correspondem aos dias da floração e da colheita dos frutos.</p><p>Para a limeira ácida Tahiti, cultivada em Visconde do Rio Branco (MG), o acú-</p><p>mulo de Graus dia foi de 1494 (Figura 20). Para o cálculo foi considerado o perí-</p><p>odo entre a abertura das pétalas e o dia da colheita dos frutos, que ocorreu em</p><p>dezembro de 2000, quando estavam com diâmetro equatorial superior a cinco</p><p>centímetros, com a casca lisa e teor de suco acima de 40%. Observa-se, na Figura</p><p>20, que a inclinação da linha aumenta a partir de setembro, por causa do aumen-</p><p>to da temperatura ocasionado pelo final do inverno e início da primavera.</p><p>Õ</p><p>44</p><p>Em função da época de colheita, as variedades de citros são classificadas em</p><p>precoces, de meia estação e tardias (Tabela 9). As variedades precoces de laran-</p><p>jas acumulam, para o período compreendido entre a antese e a data de colheita,</p><p>2500 Graus-dia, as de meia estação, 3100 Graus-dia e as tardias, 3600 Graus-dia.</p><p>Nessa classificação foi utilizado o Índice de Maturação (IM) ou relação SS/AT igual</p><p>a doze para definir a data da colheita.</p><p>Os citros são cultivados em várias regiões do mundo, com ampla variação na</p><p>precipitação pluvial, oscilando desde 250 mm (Israel) anuais até 4000 mm</p><p>(Selva Peruana - Amazônia). O consumo anual de água pelas plantas varia de 600</p><p>a 1200 mm, dependendo dos cultivares copa e porta-enxerto, características do</p><p>solo e idade das plantas. A irrigação é essencial em áreas onde a precipitação</p><p>pluvial é abaixo de 700 mm por ano.</p><p>Na principal região produtora de citros do Brasil (Sudeste), a estação seca e</p><p>fria estende-se de maio a agosto e a estação quente e chuvosa vai de outubro</p><p>a março, coincidindo com a época de maior exigência hídrica das plantas, que</p><p>são os períodos de desenvolvimento vegetativo e crescimento dos frutos. Esse</p><p>fato torna possível o cultivo sem irrigação na maioria dos pomares localizados</p><p>na região mencionada.</p><p>Entretanto, mesmo durante a primavera e verão, as plantas estão sujeitas a</p><p>veranicos, que contribuem para redução da produtividade e da qualidade dos</p><p>frutos. Portanto, para evitar os danos causados pela falta de água nos períodos</p><p>de estiagem, muitos produtores utilizam a irrigação. Os sistemas de irrigação</p><p>localizada, como gotejamento e microaspersão são os mais utilizados atualmen-</p><p>te na citricultura. Entre as vantagens desses sistemas estão a alta eficiência de</p><p>aplicação, necessidade de menores pressões, facilidade de operação do sistema</p><p>e melhor controle da umidade e aeração do solo.</p><p>Os citros são plantas exigentes em luz para os processos de crescimento, flo-</p><p>rescimento e frutificação, que ocorrem principalmente na parte exterior da copa.</p><p>O valor do fluxo fotossintético de fótons que corresponde ao ponto de saturação</p><p>ocorre entre 600 e 700 μmol de quanta m-2 s-1 em laranjeiras, ou seja, aproxima-</p><p>damente 25% da radiação solar, que atinge valores ao redor de 2.000 μmol de</p><p>quanta m-2 s-1 em dias ensolarados.</p><p>A capacidade de fixação de CO2 dos citros não chega a 20 μmol m-2 s-1. Esse</p><p>valor é considerado baixo quando comparado ao de outras fruteiras, como as de</p><p>clima temperado, por exemplo, mas que ele é compensado pela alta densidade</p><p>das folhas e pelo</p><p>caráter perenifólio das plantas, cujo processo de fotossintético</p><p>funciona durante todo o ano, enquanto nas plantas de clima temperado a fotos-</p><p>síntese ocorre apenas na primavera e verão.</p><p>Figura 20 - Graus dia acumulados para a lima ‘Tahiti’, desde a ante-</p><p>se até o ponto de colheita. Visconde do Rio Branco – MG</p><p>45</p><p>Um dos fatores que influenciam na fixação do CO2 é o fotoperíodo. Na fai-</p><p>xa equatorial o fotoperíodo permanece em torno de 12 horas durante todos os</p><p>meses do ano, enquanto em latitude mais elevadas ocorre significativa variação</p><p>na duração do dia, dependendo da estação. O principal efeito das variações no</p><p>fotoperíodo está no desenvolvimento das plantas, tendo em vista que nas regi-</p><p>ões tropicais, devido ao maior tempo de exposição das folhas à luz solar, ocorre</p><p>maior assimilação de CO2 com consequente aumento na síntese de carboidra-</p><p>tos. Esse processo resulta em maior e mais rápido crescimento das plantas e dos</p><p>frutos quando comparados com as plantas que se desenvolvem em regiões de</p><p>clima subtropical.</p><p>Tabela 9. Época aproximada de maturação dos frutos1 de alguns cultivares de</p><p>laranjeiras, tangerineiras, tangoreira ‘Murcote’, limeiras e limoeiros nas áreas</p><p>produtoras de citros da região Sudeste brasileira, com exceção da região se-</p><p>miárida situada no Norte de Minas Gerais</p><p>VARIEDADES MESES</p><p>D J F M A M J J A S O N D J F</p><p>Laranjas</p><p>Lima, Piralima, Serra d’Água</p><p>Hamlin</p><p>Bahia, Baianinha</p><p>Barão, Westin, Rubi</p><p>Pêra Rio, Lima tardia</p><p>Natal e Valência</p><p>Folha Murcha</p><p>Tangerinas e tangor</p><p>Tangerina Cravo</p><p>Mexerica Rio</p><p>Tangor Murcote</p><p>Tangerina Poncã</p><p>Limas e limões</p><p>Lima Galego</p><p>Lima Tahiti</p><p>Limões Eureka e Siciliano</p><p>1A época de maturação dos frutos de cada cultivar pode variar, principalmente em função do clima</p><p>do local onde o pomar está situado.</p><p>Quanto à umidade do ar, o efeito mais importante desse fator relaciona-se à</p><p>ocorrência de doenças nos pomares, principalmente de doenças fúngicas, como</p><p>a mancha marrom (Alternaria alternata), verrugose (Elsinoe sp.) e podridão floral</p><p>dos citros (Colletotrichum sp.).</p><p>Entretanto, a umidade do ar também interfere na qualidade dos frutos. Em</p><p>regiões onde a umidade relativa do ar é alta, as laranjas tendem a serem maiores</p><p>e mais achatadas, menos firmes e com menores concentrações de carotenoides</p><p>na casca e no suco e menores teores de sólidos solúveis no suco.</p><p>O vento influi diretamente no microclima dos pomares através de seu efeito</p><p>46</p><p>no transporte de calor, vapor de água e CO2 entre as folhas das plantas e a atmos-</p><p>fera. Essa ação interfere na taxa de assimilação de CO2 e transpiração das plantas,</p><p>atuando, portanto, no seu crescimento, embora de forma mais discreta do que</p><p>os demais fatores descritos.</p><p>Por outro lado, o vento atua diretamente no transporte de patógenos e pra-</p><p>gas entre pomares, além de causar provocar danos mecânicos às plantas e aos</p><p>frutos, no caso de ventos intensos. Esses efeitos desfavoráreis do vento podem</p><p>ser contornados com o uso de quebra ventos.</p><p>2. SOLO</p><p>Os citros são cultivados em solos com grande diversidade de características</p><p>físicas e químicas. Entretanto, desenvolvem-se melhor em solos que tenham</p><p>uma proporção equilibrada de areia e argilas (textura média), para garantir boa</p><p>aeração, facilidade de drenagem, boa retenção de água e capacidade de troca</p><p>de cátions (CTC).</p><p>A profundidade efetiva recomendada do solo para o cultivo</p><p>dos citros deve ser de um metro, no mínimo, para garantir a</p><p>sustentação das plantas e maior exploração do solo pelas raí-</p><p>zes. Entretanto, há relatos de cultivo em solos rasos, com pro-</p><p>fundidade efetiva em torno de 60 cm.</p><p>Os citros não toleram solos salinos, porém sua sensibilidade aos sais depen-</p><p>de de vários fatores, como porta-enxerto, combinação porta-enxerto/copa, solo,</p><p>clima, método de irrigação, etc. De modo geral, a produtividade dos pomares re-</p><p>duz em 13% para cada 1,0 dS m-1 de aumento da condutividade elétrica do solo,</p><p>acima do valor limite de 1,4 dS m-1. Os efeitos da salinidade sobre a redução do</p><p>crescimento e produtividade das plantas são o estresse osmótico causado pela</p><p>redução da absorção de água; efeitos tóxicos dos íons Cl- e Na+ sobre as células e</p><p>desequilíbrios nutricionais causados pelos efeitos tóxicos desses íons.</p><p>Quando há redução na produtividade das plantas, causada pela salinidade,</p><p>sem haver acúmulo excessivo de Cl- e Na+ nos tecidos e sem sintomas aparentes</p><p>de toxidez nas folhas, provavelmente o efeito predominante da salinidade sobre</p><p>as plantas é o estresse osmótico. Teores de sódio maiores que 0,25 g/kg e de clo-</p><p>ro maiores que 0,5 g/kg indicam a presença de salinidade no solo, com possíveis</p><p>problemas no desenvolvimento e produção das plantas.</p><p>Quanto às diferenças entre os porta-enxertos em relação à tolerância à sali-</p><p>nidade causada por cloreto, a ordem decrescente entre os porta-enxertos usa-</p><p>dos no Brasil é: tangerina ‘Sunki’ > tangerina ‘Cleópatra’ > limão ‘Cravo’ > limão</p><p>‘Rugoso’ > Poncirus trifoliata > citrange ‘Troyer’ > citrange ‘Carrizo’. Por outro lado,</p><p>a ordem tolerância ao sódio é: tangerina ‘Cleópatra’ > limão ‘Rugoso’ > limão ‘Cra-</p><p>vo’ > citrumelo ‘Swingle’ > citrange ‘Troyer’ > tangerina ‘Sunki’ > citrange ‘Carrizo’.</p><p>Verifica-se, portanto, que a tangerineira Cleópatra e o limoeiro Cravo são os mais</p><p>tolerantes à salinidade e os trifoliolados citrumeleiro ‘Swingle’ e citranges ‘Troyer’</p><p>e ‘Carrizo’ os mais suscetíveis.</p><p>Os citros são plantas sensíveis à falta de oxigênio no solo causada por exces-</p><p>so de umidade. A exceção é o Poncirus trifoliata, cujas plantas toleram solos mais</p><p>úmidos. Devido à alta demanda por oxigênio no solo, as plantas dos pomares</p><p>implantados em solos com boa drenagem e profundos são mais desenvolvidas,</p><p>Õ</p><p>47</p><p>produtivas e longevas. Já em pomares ou parte de pomares situados em solos</p><p>superficiais e mal drenados, apresentam baixo crescimento, são pouco produti-</p><p>vas e têm menor longevidade.</p><p>O pH é uma das propriedades químicas mais importantes do solo porque</p><p>influencia a disponibilidade de nutrientes para as plantas. Os citros preferem so-</p><p>los com pH entre 6,0 e7,0, bem estruturados e bem drenados. Na maioria das</p><p>regiões produtoras de citros brasileiras, não são encontrados solos com essas</p><p>características. Por isso, na maioria das vezes, os pomares têm que ser implan-</p><p>tados em solos cujas características não são as mais adequadas para as plantas.</p><p>Para que pomares implantados nesses solos (cujas características não são as me-</p><p>lhores para os citros) possam ser produtivos, medidas criteriosas de manejo das</p><p>plantas e do solo devem ser adotadas.</p><p>48</p><p>CULTIVARES</p><p>Pelo fato de serem plantas altamente heterogêneas quanto às características</p><p>dos frutos, os citros são divididos em grupos, procurando reunir plantas cujas</p><p>características morfológicas dos frutos são semelhantes. O objetivo é facilitar</p><p>a comunicação entre as pessoas que se interessam pela citricultura, técnicos,</p><p>pesquisadores, produtores, estudantes e consumidores. Ela é denominada clas-</p><p>sificação agronômica ou hortícola e compreende oito grupos, alguns dos quais</p><p>formados por apenas uma espécie botânica, enquanto outros incluem mais de</p><p>uma espécie.</p><p>1. LARANJEIRAS DOCES [CITRUS SINENSIS (L.) OSBECK]</p><p>É o grupo mais importante economicamente, tanto no Brasil quanto na</p><p>maioria dos países do mundo, com exceção da China, onde predomina o cultivo</p><p>de tangerineiras. Devido às diferenças significativas entre as características dos</p><p>frutos produzidos pelos diferentes cultivares, as laranjas foram divididas em qua-</p><p>tro subgrupos.</p><p>1.1. Laranjas de umbigo (Figura 21a)</p><p>Caracterizam-se pela presença de um fruto rudimentar inserido no fruto</p><p>principal. Esse fruto rudimentar é formado por um segundo grupo de carpelos</p><p>inserido sobre o carpelo inicial, porém dentro do mesmo ovário. Outra caracte-</p><p>rística importante das laranjas de umbigo é a partenocarpia, resultante da falta</p><p>pólen funcional e presença de um número muito reduzido de óvulos viáveis. Por</p><p>isso os frutos quase não têm sementes.</p><p>Os frutos dos cultivares</p><p>pertencentes a esse grupo são indicados para o con-</p><p>sumo de mesa, pois, além da ausência de sementes, o endocarpo apresenta tex-</p><p>tura crocante, o albedo é fácil de ser removido, os gomos são facilmente separá-</p><p>veis, têm sabor agradável e boa coloração externa.</p><p>Não são indicados para a produção de suco, devido à presença de limonina</p><p>monolactona no albedo e no endocarpo dos frutos. Após o processo de extração</p><p>do suco, em pH ácido, esse composto se transforma em limonina dilactona, que</p><p>tem sabor amargo. O sabor amargo pode levar algumas horas para se desenvol-</p><p>ver, após a extração do suco. A presença e a intensidade do sabor amargo no</p><p>suco dependem do cultivar e do estádio de maturação dos frutos: aqueles mais</p><p>maduros geralmente apresentam menor concentração de limonina monolacto-</p><p>na.</p><p>Outro inconveniente das laranjas de umbigo é o seu baixo rendimento para</p><p>produção industrial de suco (em torno de 40%), quando comparado com os fru-</p><p>tos de outros cultivares, como Pêra Rio, Natal, Valencia e Folha Murcha.</p><p>As plantas desse grupo apresentam baixa estabilidade genética, com ten-</p><p>dência a produzir mutantes, pelo processo conhecido como “mutações de gema”.</p><p>07</p><p>49</p><p>Vários desses mutantes foram selecionados, avaliados e multiplicados, gerando</p><p>diversos cultivares em todo o mundo, principalmente nos países que produzem</p><p>laranjas para consumo de mesa em maior escala.</p><p>O cultivar mais importante no Brasil é o ‘Bahia’, conhecido inter-</p><p>nacionalmente como ‘Washington Navel’, seguido pelo ‘Baiani-</p><p>nha’. Acredita-se que a laranjeira ‘Bahia’ tenha se originado no</p><p>estado da Bahia, no século XIX, como uma mutação da laran-</p><p>jeira ‘Seleta’. Além desses cultivares, há vários outros que são</p><p>importantes no mundo, como Navelina, Navelate e Lanelate.</p><p>1.2. Laranjas sanguíneas (Figura 21 b)</p><p>São pouco cultivadas no Brasil, mas apresentam valor comercial em alguns</p><p>países do Mediterrâneo, como Itália, Espanha e Marrocos. O suco dos frutos tem</p><p>cor vermelha, cuja intensidade depende do cultivar e das condições climáticas</p><p>da região de cultivo. Climas amenos e/ou com dias quentes e noites frias favore-</p><p>cem a formação de antocianinas nos frutos, resultando em coloração vermelha</p><p>mais intensa do suco. Tal coloração pode se manifestar também no albedo e fla-</p><p>vedo dos frutos. As antocianinas são conhecidas como um grupo de pigmentos</p><p>antioxidantes. Os principais cultivares desse grupo são ‘Moro’, ‘Sanguinelli’, ‘San-</p><p>guinello’ e ‘Tarocco’.</p><p>Há também as laranjas denominadas falsas sanguíneas, cuja coloração da</p><p>polpa deve-se à presença de carotenoides, principalmente de licopeno, que es-</p><p>tão presentes nas vesículas de suco. Nessas laranjas, embora a polpa seja verme-</p><p>lha, o suco não apresenta essa característica pelo fato dos pigmentos estarem</p><p>nas películas, e não no suco. Nessas variedades, as condições climáticas necessá-</p><p>rias para o desenvolvimento da pigmentação nos frutos são diferentes daquelas</p><p>exigidas pelas verdadeiras sanguíneas, sendo necessária a ocorrência de tem-</p><p>peraturas elevadas durante o desenvolvimento dos frutos. São exemplos desse</p><p>grupo a ‘Cara Cara’, que é uma variedade de Umbigo selecionada na Venezuela e</p><p>a ‘Mombuca’, selecionada em São Paulo.</p><p>1.3. Laranjas sem acidez ou de baixa acidez (Figura 21c)</p><p>Os frutos têm teores de acidez muito baixos, quando comparados aos frutos</p><p>de outros cultivares de laranjeiras, variando de 0,05% a 0,1% de ácido cítrico, en-</p><p>quanto a acidez das laranjas dos demais cultivares está em torno de 1%. A baixa</p><p>acidez permite a colheita precoce dos frutos, tão logo alcancem teores adequa-</p><p>dos de suco para o consumo (40%), mesmo estando com a casca verde.</p><p>Devido à baixa acidez, não são utilizados para a produção de suco, mas são</p><p>apreciados e recomendados para pessoas que não podem consumir frutos áci-</p><p>dos de citros. Os principais cultivares de laranjas desse grupo no Brasil são as</p><p>laranjeiras ‘Lima’; ‘Piralima’, ‘Lima tardia’ e ‘Serra d’água’.</p><p>1.4. Laranjas comuns (Figura 21d)</p><p>Fazem parte desse subgrupo, os cultivares que não se enquadram nos ante-</p><p>riores, incluindo as principais laranjeiras do Brasil. Há grande heterogeneidade</p><p>entre plantas e frutos dos cultivares pertencentes a esse grupo. Quanto às plan-</p><p>tas, as variações ocorrem no tamanho, morfologia foliar, época de produção e</p><p>produtividade.</p><p>Nos frutos, diferenças são observadas tanto nas características externas (ta-</p><p>manho, cor, formato) quanto nas internas (acidez, açúcares, quantidade e cor do</p><p>Õ</p><p>50</p><p>suco). No entanto, todos apresentam acidez média entre 0,8-1,1%, suco com cor</p><p>amarela e ausência de umbigo. Os cultivares de laranjeiras mais importantes em</p><p>área cultivada e produção no Brasil pertencem a esse subgrupo. Os principais</p><p>são as laranjeiras ‘Pêra Rio’, ‘Natal’, ‘Valência’, ‘Hamlin’, ‘Rubi’, ‘Westin’, ‘Folha Murcha’</p><p>e ‘Salustiana’. A ordem dos cultivares não está relacionada à importância de cada</p><p>um.</p><p>2. LARANJAS AZEDAS (CITRUS AURANTIUM) (Figura 21e)</p><p>Durante muitos anos, cultivares desse grupo foram usados como porta-en-</p><p>xertos nas regiões citrícolas do mundo, inclusive no Brasil. Com a disseminação</p><p>da “tristeza dos citros” (virose), porém, ela deixou de ser usada para essa finali-</p><p>dade. No Brasil, o vírus da tristeza dos citros foi introduzido em 1937. Há relatos</p><p>sobre a perda de milhões de plantas após a introdução do vírus. Esse problema</p><p>foi resolvido com a utilização de porta-enxertos tolerantes.</p><p>Inicialmente, foi classificada botanicamente como pertencente à mesma es-</p><p>pécie das laranjas doces (Citrus sinensis), mas diferenças entre as plantas e frutos</p><p>foram responsáveis pela sua separação em duas espécies. As plantas da laran-</p><p>jeira azeda são menores, com a copa mais arredondada do que a das laranjeiras</p><p>doces. As folhas são mais estreitas, menos espessas, com pecíolos mais longos e</p><p>asas mais desenvolvidas. A coloração das folhas é mais escura e com aroma mais</p><p>intenso. Os frutos apresentam pericarpo mais espesso, rugoso e o albedo tem</p><p>coloração alaranjada forte e brilhante. As glândulas de óleo estão deprimidas,</p><p>em relação ao nível da casca.</p><p>Os frutos têm sabor amargo quando maduros, devido à presença do com-</p><p>posto químico neo-hesperidina. Atualmente, são usados principalmente para a</p><p>fabricação de doces em calda, cristalizados, ou para a produção de óleos essen-</p><p>ciais a partir da casca dos frutos. A partir das flores, é destilado um óleo, conheci-</p><p>do como o “óleo essencial de neroli”, usado na perfumaria e para fins medicinais.</p><p>As plantas são usadas para fins ornamentais, em vasos e também para arboriza-</p><p>ção de ruas e praças de vários países mediterrâneos.</p><p>Embora existam muitos cultivares de laranja azeda no mundo, no Brasil eles</p><p>são pouco conhecidos. Os principais cultivares de laranja azeda são Sevilhano e</p><p>Buquê de Flores.</p><p>3. TANGERINAS</p><p>As tangerinas formam um grupo que apresenta alta variabilidade nas carac-</p><p>terísticas das plantas e dos frutos. Só perdem em importância econômica para as</p><p>laranjas. São muito importantes na Ásia, principalmente na China, que é o maior</p><p>produtor mundial de tangerinas, e também no Japão.</p><p>As plantas apresentam espinhos em pequeno número ou ausentes, as folhas</p><p>são pequenas e lanceoladas com pecíolo comprido e com asas muito pequenas</p><p>ou ausentes. Entre as espécies do gênero Citrus, são as mais tolerantes às baixas</p><p>temperaturas, 52 delas adaptam-se bem em locais com temperaturas altas.</p><p>As sementes são poliembriônicas, com cotilédones verdes. As características</p><p>principais dos frutos são a casca solta, presente na maioria dos cultivares; forma-</p><p>to achatado (oblado). Normalmente, têm grande número de sementes, embora</p><p>existam cultivares aspérmicos (sem sementes).</p><p>Os problemas mais frequentes observados nas tangerinas são a produção de</p><p>frutos de pequeno tamanho, devido à excessiva fixação de frutos e competição</p><p>entre eles; a produção de grande número de sementes, como observado nas</p><p>51</p><p>tangerinas ‘Poncã’, ‘Cravo’, mexerica ‘Rio’; alternância de produção e fragilidade</p><p>da casca, causando problemas na colheita, transporte e</p><p>beneficiamento. As tan-</p><p>gerinas são classificadas em seis subgrupos.</p><p>3.1. Satsumas (C. unshiu) (Figura 21f)</p><p>Originárias do Japão e cultivadas principalmente no Japão, Espanha e China,</p><p>as Satsumas não se adaptaram bem as condições de clima e solo do Brasil e, por</p><p>isso, são pouco cultivadas aqui. Há um grande número de cultivares que foi sur-</p><p>gindo, uns a partir de outros, por mutações de gema.</p><p>As plantas produzem frutos pequenos, casca fina, lisa e facilmente separá-</p><p>vel da polpa; glândulas de óleo salientes; normalmente sem sementes, devido</p><p>à presença de esterilidade masculina e feminina em suas flores. Os frutos são</p><p>usados para consumo de mesa e produção de sucos. A ausência de sementes os</p><p>torna adequados para a industrialização dos gomos, que são preparados em cal-</p><p>da adocicada e acondicionados em latas ou vidros. Os frutos são muito utilizados</p><p>também para o processamento mínimo, que consiste em lavá-los, descascá-los</p><p>e acondicioná-los em embalagens plásticas rígidas de polipropileno com tampa,</p><p>que são mantidas sob temperatura baixa até o momento do consumo.</p><p>Alguns cultivares são muito precoces, possuindo, entre os citros, a mais bai-</p><p>xa necessidade em graus dia para o amadurecimento dos frutos. De todas as</p><p>tangerinas, as satsumas são as mais tolerantes ao frio, principalmente quando</p><p>enxertadas em Poncirus trifoliata. Exemplos de cultivares: Hashimoto, Miyamoto,</p><p>Clausellina, Miho, Okitsu, Kawano, Owari, Clausellina.</p><p>3.2. King (Citrus nobilis)</p><p>A tangerineira King é pouco cultivada no Brasil e no mundo. Seus frutos são</p><p>grandes, com a casca grossa, rugosa e moderadamente aderida ao endocarpo.</p><p>Produzem grande número de sementes.</p><p>Os frutos são de colheita tardia e, por isso, é comum serem de safras diferen-</p><p>tes na mesma planta. Devido ao fato de as plantas terem folhagem esparsa, os</p><p>frutos ficam expostos ao sol e, consequentemente, estão sujeitos a queimadu-</p><p>ras. Alguns autores consideram a tangerineira King como híbrido entre laranjeira</p><p>e tangerineira, enquanto outros a consideram como híbrido entre tangerineira</p><p>e toranjeira.</p><p>3.3. Mediterrâneo (Citrus deliciosa) (Figura 21g)</p><p>Mexeriqueiras desse grupo foram as primeiras a serem introduzidas na re-</p><p>gião do Mediterrâneo, a partir da região de origem (China). Por isso, recebeu</p><p>a denominação de tangerina do Mediterrâneo. No Brasil, o principal cultivar é</p><p>conhecido como mexerica Rio.</p><p>As plantas apresentam crescimento lento, tamanho médio, com ramos pen-</p><p>dentes, quase sem espinhos. As folhas são facilmente reconhecidas, em função</p><p>de seu tamanho e largura reduzidos.</p><p>Os frutos são de tamanho médio, com casca lisa, fina, brilhante de cor amare-</p><p>lada, com grandes glândulas de óleo. Normalmente, produzem grande número</p><p>de sementes por fruto. O óleo da casca tem um cheiro característico, que distin-</p><p>gue as mexericas das tangerinas. No Rio Grande Sul são conhecidas como ber-</p><p>gamotas.</p><p>Exemplos: Mexerica Rio, Avana di Palermo, Clemendor, Montenegrina (origi-</p><p>nada por mutação da mexerica do Rio, no Rio Grande de Sul, em Montenegro).</p><p>3.4. Tangerinas comuns</p><p>52</p><p>Esse grupo dispõe de um grande número de cultivares, com características</p><p>das plantas e dos frutos bastante variáveis entre si, dificultando obter caracterís-</p><p>ticas que sejam comuns a todos. A exceção é o fato de que os frutos geralmente</p><p>apresentam a casca um pouco mais presa do que a das das tangerinas Satsuma e</p><p>do Mediterrâneo. Também têm menor tendência, com exceção da ‘Poncã’ (Citrus</p><p>reticulata), de apresentar um problema nos frutos, conhecido como inchamento</p><p>do fruto, bufado (espanhol), peel puffing ou puffiness (inglês), que se caracteriza</p><p>pela separação da casca da polpa, antes ou após a colheita, principalmente nos</p><p>frutos colhidos no final da safra.</p><p>Nesse grupo estão incluídos alguns dos mais importantes cultivares de ci-</p><p>tros do mundo, como as tangerineiras ‘Poncã’ (Figura 21h), ‘Cravo’, ‘clementinas’</p><p>(Figura 21i), ‘Dancy’ e ‘Tankan’. No Brasil, a ‘Poncã’ é a tangerineira mais cultivada,</p><p>embora existam pomares, principalmente no Rio Grande do Sul, de mexeriquei-</p><p>ras Rio e Montenegrina (Citrus deliciosa).</p><p>As clementinas são constituídas por um grupo grande de variedades, cultiva-</p><p>das em larga escala na Espanha para consumo interno e exportação dos frutos.</p><p>A classificação é baseada mais em razões comerciais do que botânicas. Os frutos</p><p>são de tamanho pequeno a médios, e os diversos cultivares foram selecionados</p><p>de plantas onde houve a ocorrência natural de mutações de gema.</p><p>Uma característica comum das clementinas é que os frutos não têm semen-</p><p>tes, devido à autoincompatibilidade, que é a incapacidade de uma planta fértil</p><p>formar sementes quando fertilizada por seu próprio pólen. Entretanto, o plantio</p><p>de pomares de outros cultivares de tangerineiras, híbridos ou mesmo de laran-</p><p>jeiras, próximos aos pomares de clementinas, resultará em polinização e fecun-</p><p>dação entre elas, propiciando a formação de sementes nos frutos, característica</p><p>essa que reduz o seu valor comercial.</p><p>Alguns cultivares de clementinas: Fina, Hernadina, Oronules, Clemenules, Ar-</p><p>rufatina, Marisol e Lorentina.</p><p>3.5. Tangerinas de frutos pequenos</p><p>Formam um grupo amplo e com várias espécies, das quais algumas varieda-</p><p>des são usadas na China para o consumo de mesa. Os dois cultivares mais co-</p><p>nhecidos no Brasil são as tangerineiras ‘Sunki’ e ‘Cleópatra’, que produzem frutos</p><p>com poucos centímetros de diâmetro, de acidez alta e indicados para uso como</p><p>porta-enxertos ou como plantas ornamentais.</p><p>4. LIMAS</p><p>Também existe grande variação morfológica entre as espécies e cultivares</p><p>de lima. As características comuns entre elas são: as folhas lanceoladas, de ápice</p><p>arredondado; os frutos de casca fina e lisa, de forma arredondada a elípticos;</p><p>planta com várias floradas ao ano; boa adaptação a locais de clima tropical e me-</p><p>nor tolerância ao frio do que outras espécies de citros. As limeiras são as plantas</p><p>do gênero Citrus menos tolerantes ao frio e, por isso, são indicadas para cultivo</p><p>em locais de clima tropical e úmidos ou semiáridos, com irrigação.</p><p>No grupo das limas, existem cultivares que produzem frutos ácidos, com</p><p>alto valor comercial, conhecidos popularmente como “limões” e as limas doces.</p><p>As limas ácidas importantes no Brasil são ‘Tahiti’ (Citrus latifolia) (Figura 21 j) e</p><p>‘Galego’(Citrus aurantifolia) (Figura 21 l).</p><p>A lima ‘Tahiti’, ao longo dos anos, está substituindo a ‘Galego’ no mercado de</p><p>frutos ácidos, sendo atualmente a mais plantada no Brasil. As principais razões</p><p>são a ausência de sementes; frutos de maior tamanho; plantas mais tolerantes à</p><p>53</p><p>tristeza dos citros, garantindo maior longevidade e produtividade aos pomares,</p><p>e ausência de espinhos nas plantas, facilitando o manejo.</p><p>Os dois principais clones de ‘Tahiti’ usados no Brasil são o ‘Quebra Galho’ e o</p><p>‘IAC 5’ ou ‘Peruano’. Esse último apresenta copa vigorosa, frutos redondos, com</p><p>casca rugosa e maior conservação pós-colheita. Por outro lado, o clone ‘Quebra</p><p>Galho’ está infectado com o complexo de viroides da exocorte, o que induz me-</p><p>nor porte às plantas e a presença de fissuras ou rachaduras na casca do tronco e</p><p>dos ramos grossos. A copa é menos vigorosa, havendo, por isso, maior arejamen-</p><p>to e incidência de luz no seu interior. Os frutos são alongados e com casca lisa.</p><p>Muitas flores apresentam hipertrofia do cálice, ocasionando queda dos frutos.</p><p>As plantas do ‘Galego’ são menos vigorosas que as de ‘Tahiti’, com folhas me-</p><p>nores, copa arredondada e irregular, e a safra é mais concentrada no primeiro se-</p><p>mestre, com pouca produção extemporânea. Os frutos têm aroma característico,</p><p>são menores que do ‘Tahiti’, apresentam sementes e são comercializados tanto</p><p>com a casca verde quanto amarela.</p><p>As limas doces foram classificadas como Citrus limettioides por Tanaka. Em-</p><p>bora não tenham a mesma expressão comercial que as limas ácidas, têm con-</p><p>sumidores fiéis no Brasil, sendo cultivada para consumo de mesa em diversos</p><p>estados.</p><p>As plantas apresentam copa aberta, com folhas de coloração verde claro,</p><p>e</p><p>ramos longos. A colheita dos frutos é de meia estação, mas as plantas têm ten-</p><p>dência de florescer várias vezes ao ano.</p><p>As limas doces, da mesma forma que as laranjas de baixa acidez, têm teor de</p><p>ácidos muito baixos e, por isso, os frutos são considerados insípidos. Têm casca</p><p>muito fina e lisa, aderidas à polpa. Há cultivares cuja casca e polpa dos frutos</p><p>são de coloração amarelo claro quando estão maduros, como a lima da ‘Pérsia’</p><p>(Figura 21m) e cultivares cujos frutos têm a casca alaranjada, semelhante à das</p><p>laranjas, como a lima ‘Dourada’. A polpa apresenta sabor levemente amargo, que</p><p>é característico das limas doces.</p><p>5. LIMÕES (CITRUS LIMON) (FIGURA 21N)</p><p>Também são pouco cultivados no Brasil, embora as condições de clima e solo</p><p>sejam adequadas ao seu cultivo. A pequena importância dos limões no Brasil</p><p>provavelmente deve-se ao desconhecimento das qualidades dos frutos e à falta</p><p>de tradição de consumo, mas há tendência de aumento na área de cultivo. No</p><p>Brasil, os limões são cultivados principalmente em São Paulo, cujos frutos são</p><p>usados preferencialmente para produção de suco e extração de óleos essenciais</p><p>da casca. O suco fresco é indicado para uso na gastronomia, como condimento</p><p>para sopas, saladas, bebidas, peixes e sobremesas. Há bebidas alcoólicas famosas</p><p>feitas a partir da casca dos limões, como o licor Limoncello, produzido na Itália.</p><p>As plantas são vigorosas, com folhas grandes de cor verde claro quando</p><p>adultas e com as brotações de cor púrpura. As flores são grandes, de cor púrpura</p><p>na parte externa das pétalas e produzidas em inflorescências. Frequentemente,</p><p>produzem flores estaminadas, ou seja, apenas com o androceu. Os limões ten-</p><p>dem a florescer durante todo o ano, da mesma forma que as limas.</p><p>Os frutos são ovais, com um “mamilo” característico na extremidade estilar e</p><p>com “pescoço” na extremidade basal (pecíolo). A casca é aderida ao endocarpo,</p><p>fina e amarela quando os frutos estão maduros. A polpa é de cor amarelo claro</p><p>ou esverdeada, com acidez titulável elevada, que varia entre 5,0% a 5,5% de áci-</p><p>do cítrico.</p><p>Exemplos de cultivares de limão: ‘Eureka’, ‘Siciliano’, ‘Lisboa’ e Feminello’.</p><p>54</p><p>6. POMELOS – GRAPEFRUIT (CITRUS PARADISI) (FIGURA 21 O)</p><p>Os pomelos têm pouca importância comercial no Brasil, devido à falta de</p><p>hábito de consumo pela população e ao sabor amargo dos frutos. Inicialmente,</p><p>sua origem foi atribuída a uma mutação de gema ocorrida em toranjeira. Poste-</p><p>riormente, surgiu a hipótese de que fosse resultante da hibridação natural entre</p><p>toranjeira e laranjeira doce. Mesmo com a possível origem híbrida, os pomelos</p><p>são classificados como Citrus paradisi.</p><p>As plantas se adaptam bem em regiões de clima tropical, mas são pouco</p><p>tolerantes ao frio, quando comparadas com as laranjeiras e tangerineiras. Os po-</p><p>meleiros adultos chegam a medir até 6 m de altura, apresentando o topo arre-</p><p>dondado e ramos espalhados. As folhas são grandes, medindo de 7,5 a 15 cm de</p><p>comprimento e 4,5 a 7,5 cm de largura, apresentando asas muito desenvolvidas</p><p>no pecíolo. As flores e os frutos também são grandes, sendo inferiores apenas</p><p>aos das toranjeiras, no gênero Citrus. Os frutos são usados para consumo in natu-</p><p>ra ou para a produção de suco e as sementes são grandes e rugosas. Em regiões</p><p>de inverno frio, os frutos apresentam sabor ácido e amargo (conferido pelo gli-</p><p>cosídeo naringina), prejudicando sua qualidade.</p><p>Os pomelos são classificados em dois grupos, em função da cor da polpa dos</p><p>frutos: pomelos comuns (polpa e casca dos frutos de cor amarelo-pálido) e po-</p><p>melos pigmentados (polpa de cor vermelha ou rosa, cuja intensidade depende</p><p>do cultivar e do clima). Atualmente, os pomelos de polpa pigmentada são pre-</p><p>feridos, devido à natureza de seu pigmento, que é o licopeno. Diferentemente</p><p>do pigmento das laranjas sanguíneas, o licopeno é um pigmento carotenoide</p><p>que alcança altas concentrações nos frutos produzidos por plantas cultivadas</p><p>em locais quentes.</p><p>Entre os cultivares de polpa amarela, os mais conhecidos são ‘Marsh seedless’</p><p>e ‘Duncan’. Os de polpa pigmentada mais conhecidos são ‘Rubi’, ‘Star Rubi’e ‘Red</p><p>Blush’.</p><p>7. TORANJAS (CITRUS MAXIMA) (FIGURA 21 P)</p><p>Praticamente não são cultivadas no Brasil, porém têm importância na Ásia</p><p>(China, Tailândia, Indonésia) e são comercializados frequentemente na Europa.</p><p>As toranjeiras são plantas pequenas, compactas, que produzem folhas muito</p><p>grandes e com asas muito desenvolvidas nos pecíolos. As nervuras das folhas e</p><p>as brotações novas apresentam pelos. As folhas, flores e os frutos são os maio-</p><p>res produzidos entre as plantas do gênero Citrus. Os frutos medem de 15 a 25</p><p>centímetros de diâmetro, pesando entre 1 e 2 kg, mas alguns podem chgar a</p><p>3 kg. A casca dos frutos é espessa, com 2-3 cm de espessura e albedo frouxo e</p><p>esponjoso.</p><p>Como no grupo dos pomelos, existem toranjas comuns e pigmentadas (cor</p><p>rósea ou vermelha dos frutos). Os frutos são usados para consumo in natura e</p><p>para a produção de doces. O sabor dos frutos é amargo, mas mais suave do que</p><p>o dos pomelos. Existe cultivares que produzem frutos com baixa acidez, como</p><p>as laranjeiras.</p><p>8. CIDRAS (CITRUS MEDICA) (FIGURA 21Q)</p><p>As cidras são pouco importantes no Brasil, porém são cultivadas em pomares</p><p>domésticos de todos os estados, para a produção de frutos que são usados para</p><p>55</p><p>a elaboração de doces, nas formas de compotas e cristalizado.</p><p>As plantas são arbustos com formato irregular de copa, com folhas grandes,</p><p>ovais, com pecíolo curto ou sem pecíolos. As flores são grandes e de cor púrpu-</p><p>ra, para os cultivares ácidos, e brancas para cultivares de polpa doce. Como os</p><p>limões, produzem certo número de flores masculinas. São pouco tolerantes ao</p><p>frio e apresentam tendência de produção de flores durante todo o ano.</p><p>Os frutos são grandes, ovalados e irregulares, com um “mamilo” na extremi-</p><p>dade estilar. Aprsentam a casca muito firme, compacta, espessa e rugosa, com</p><p>aroma característico.</p><p>Os principais cultivares são ‘Diamante’ (polpa ácida), ‘Córsega’ (polpa doce),</p><p>‘Mão de Buda’ (ornamental), ‘Etrog’.</p><p>Laranja “Bahia” Laranja “Sanguínea”</p><p>Laranja “Sorocaba” Laranja “Valencia”</p><p>Laranja Azeda</p><p>Satuma “Okitsu”</p><p>Mexerica “Rio”</p><p>Tangerina “Poncã”</p><p>a b</p><p>c d</p><p>e f</p><p>g h</p><p>56</p><p>“Clemenules”</p><p>Lima ácida “Tahiti”</p><p>Lima ácida “Galego”</p><p>Lima da “Pérsia”</p><p>Limão “verdadeiro”</p><p>Pomelo</p><p>Toranja</p><p>Cidra</p><p>Figura 21: Classificação agronômica dos citros – Laranja de Umbigo (a); laranja Sanguínea (b); la-</p><p>ranja de baixa acidez (c); laranja comum (d); laranja azeda (e); tangerina satsuma (f ); tangerina do</p><p>Mediterrâneo (g); tangerina comum (h); tangerina clementina (i); limas ácidas (j, l); lima doce (m);</p><p>limão (n); pomelo (o); toranja (p) e cidra (q). Observação: as diferenças entre os tamanhos dos fru-</p><p>tos visualizados não condizem com a realidade, porque as fotografias não estão na mesma escala.</p><p>i j</p><p>l</p><p>o</p><p>m</p><p>n</p><p>p q</p><p>57</p><p>PORTA-ENXERTOS</p><p>A escolha do porta-enxerto é um dos principais fatores a considerar quan-</p><p>do se pretende implantar um pomar de citros, porque ele é responsável pela</p><p>sustentação da planta, absorção de água e nutrientes do solo; síntese de alguns</p><p>hormônios, pelo sistema radicular; adaptação a solos com diferentes característi-</p><p>cas, tolerância a pragas e doenças, tamanho das plantas, e a qualidade dos frutos</p><p>do cultivar copa enxertado sobre ele (Tabela 10). Em função de sua influência</p><p>sobre todas essas características tão importantes para o citricultor, fica eviden-</p><p>ciado que a escolha de um porta-enxerto inadequado às condições de clima e</p><p>solo do local onde o pomar será implantado pode resultar em fracasso do em-</p><p>preendimento.</p><p>Além disso, para os viveiristas, é importante que as plantas dos porta-enxer-</p><p>tos tenham crescimento vigoroso e facilidade de cultivo no viveiro, sejam homo-</p><p>gêneas e apresentem compatibilidade de enxertia com as principais variedades</p><p>de copa cultivadas comercialmente.</p><p>Entretanto, é importante ressaltar que nem todos os porta-en-</p><p>xertos de interesse dos citricultores atendem aos interesses dos</p><p>viveiristas. Por exemplo, o porta-enxertos ananicante trifoliata</p><p>‘Flying Dragon’, que induz baixo crescimento à planta como um</p><p>todo, apresenta crescimento lento no viveiro. Por isso, o tempo</p><p>para a produção da muda aumenta consideravelmente.</p><p>Também é importante lembrar que não existe um porta-enxerto que seja</p><p>adequado para todos os locais, variedades e condições de manejo. Isso significa</p><p>que é necessária a realização de análise criteriosa das condições de clima e solo</p><p>da área destinada à implantação do pomar, das variedades de copa a serem uti-</p><p>lizadas e dos tratos culturais a serem empregados no pomar, principalmente a</p><p>irrigação, para definição de quais porta-enxertos deverão ser utilizados. A citri-</p><p>cultura é uma atividade dinâmica, que exige mudanças frequentes com o passar</p><p>do tempo, devido a alterações nas preferências de mercado, necessidade de au-</p><p>mento da produtividade, alterações climáticas, novas pragas e doenças, plantios</p><p>em novas regiões, com características de solo e de clima diferentes daquelas das</p><p>regiões tradicionais de cultivo. Esses fatores demandam, entre outras modifica-</p><p>ções, a criação de novos cultivares copa e novos porta-enxertos, seja via intro-</p><p>dução a partir de outros países ou regiões ou via programas de melhoramento</p><p>conduzidos no Brasil. Embora existam pesquisas sendo conduzidas nessa área,</p><p>os porta-enxertos usados pelos citricultores brasileiros têm sido os mesmos nos</p><p>últimos anos, com predomínio do limoeiro Cravo. Os principais porta-enxertos</p><p>usados no Brasil estão descritos a seguir.</p><p>08</p><p>Õ</p><p>58</p><p>Tabela 10. Características influenciadas pelos principais porta-enxertos de</p><p>citros recomendados para o Brasil</p><p>Características</p><p>influenciadas</p><p>pelos</p><p>porta-enxertos</p><p>Principais porta-enxertos</p><p>Limoeiro</p><p>‘Cravo’</p><p>Limoeiro</p><p>‘Volkameriano’1</p><p>Tangerineira</p><p>‘Sunki’</p><p>Tangerineira</p><p>‘Cleópatra’</p><p>Poncirus</p><p>trifoliata2</p><p>Citrumeleiro</p><p>‘Swingle’2</p><p>Citrangeiro</p><p>‘Troyer’2</p><p>Citrangeiro</p><p>‘Carrizo’2</p><p>Laranjeira</p><p>‘Caipira’</p><p>Tristeza Grande Grande Grande</p><p>Phytophthora Média Média Média Médi a Alta Alta Alta Alta Baixa</p><p>Declínio Suscetível Suscetível Tolerante Tolerante Suscetível Tolerante Suscetível Suscetível Tolerante</p><p>Morte Súbita Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível Tolerante Tolerante Tolerante Tolerante Tolerante</p><p>Nematóide</p><p>T.semipenetrans</p><p>Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível Resistente Resistente Resistente Resistente Suscetível</p><p>Solo indicado Arenoargi-</p><p>loso</p><p>Arenoargiloso Argiloso Argiloso Úmido/</p><p>argiloso</p><p>Arenoso/</p><p>Argiloso</p><p>Arenoso/</p><p>Argiloso</p><p>Arenoso/</p><p>Argiloso</p><p>Argiloso</p><p>Tolerância à</p><p>seca</p><p>Grande Grande Média Média Média Média Média Média Baixa</p><p>Início da</p><p>produção</p><p>Precoce Precoce Médio Tardia Precoce Precoce Precoce Precoce Médio</p><p>Produtividade Boa Boa Boa Boa Boa Boa Boa Boa Boa</p><p>Qualidade dos</p><p>frutos</p><p>Média Média Boa Boa Alta Boa Boa Boa Boa</p><p>Vigor da copa Médio Médio Grande Grande Pequeno Grande Médio Médio Grande</p><p>1. LIMOEIRO CRAVO - CITRUS LIMONIA (L.) OSBECK</p><p>O limoeiro ‘Cravo’ (Figura 22 a) é originário da Índia. Provavelmente é um hí-</p><p>brido envolvendo uma tangerina como genitor, visto que seus frutos apresen-</p><p>tam semelhanças com as tangerinas, como o formato e cor da casca. É o porta-</p><p>-enxerto mais utilizado no Brasil e praticamente o único usado em Minas Gerais.</p><p>Cabe observar que existem várias seleções de limoeiro Cravo, com diferenças</p><p>morfológicas entre si, e provavelmente, com diferentes comportamentos, como</p><p>porta-enxertos. Portanto, é importante saber exatamente qual seleção está sen-</p><p>do usada para a produção de mudas. A existência de diferentes seleções deve-</p><p>-se à multiplicação por sementes e à sobrevivência de um número expressivo</p><p>de embriões zigóticos. Isso porque a porcentagem de poliembrionia do ‘Cravo’</p><p>varia de 40 a 50%. Outra provável explicação é a existência de plantas oriundas</p><p>de mutações. Essa observação também é válida para outros porta-enxertos.</p><p>O limoeiro Cravo, como porta-enxerto, apresenta características importantes</p><p>para a citricultura brasileira, principalmente por sua tolerância ao estresse hídri-</p><p>co, precocidade de produção a partir do plantio das mudas e indução de boa</p><p>produtividade nas variedades copa.</p><p>Peter Henry Rolfs, ex-diretor da Escola Superior de Agricultura e Veteriná-</p><p>ria (Esav), em 1927, - hoje Universidade Federal de Viçosa (UFV) - foi o primeiro</p><p>a reconhecer a importância do Cravo como porta-enxerto para os citros, fato</p><p>documentado em seu livro A muda de citros, pedra angular da indústria citrícola,</p><p>publicado em 1931.</p><p>As principais características do ‘Cravo’ com porta-enxerto são a tolerância à</p><p>tristeza, resistência à seca, alta produtividade das plantas, precocidade da pro-</p><p>dução, compatibilidade com todas os cultivares copa usados no Brasil, susceti-</p><p>bilidade à exocorte, xiloporose, declínio e moderada suscetibilidade à gomose</p><p>e verrugose, sendo que a última ocorre na fase de produção do porta-enxerto.</p><p>1 Não é indicado como porta-enxerto para a laranja ‘Pêra Rio’</p><p>2Não é indicado como porta-enxerto para laranja ‘Pêra Rio’ e tango reira ‘Murcote’</p><p>59</p><p>As copas recém-enxertadas sobre o limoeiro Cravo crescem vigorosamente</p><p>e, quando adultas, as plantas dos cultivares copa apresentam tamanho médio.</p><p>O limoeiro Cravo induz qualidade média aos frutos das copas enxertadas sobre</p><p>ele, com a produção de frutos geralmente grandes e com baixo a médio teor de</p><p>sólidos solúveis.</p><p>A maturação dos frutos do limoeiro ‘Cravo’ ocorre a partir de maio, esten-</p><p>dendo-se até julho ou agosto. O número médio de sementes por quilo é 16.555,</p><p>apresenta peso médio dos frutos de 77 g, e nove sementes por fruto, em média.</p><p>É recomendado como porta-enxerto para os principais cultivares copa usados</p><p>no Brasil (laranjas, tangerinas, limas e limões).</p><p>2. LIMOEIRO ‘VOLKAMERIANO’ - CITRUS VOLKAMERIANA TEN & PASQ.</p><p>O limoeiro ‘Volkameriano’ (Figura 22 b) é, provavelmente, um híbrido nat ural</p><p>de limoeiro (Citrus limon) com laranjeira azeda (Citrus aurantium). Como porta-</p><p>-enxerto, induz a produção de plantas de grande porte, vigorosas e produtivas,</p><p>apresentando características similares às apresentadas pelo Cravo. Suas princi-</p><p>pais desvantagens são suscetibilidade ao declínio e a morte súbita dos citros, má</p><p>qualidade do suco, inferior à obtida sobre o limão ‘Cravo’, incompatibilidade com</p><p>a laranjeira ‘Pêra’ e moderada sensibilidade à Phytophthora spp.</p><p>A planta de ‘Volkameriano é tolerante a tristeza, xiloporose e exocorte, mas</p><p>é susceptível aos nematóides e ao declínio. Adapta-se a todos os tipos de solos,</p><p>porém, por ser suscetível à gomose, recomenda-se sua utilização em solos pro-</p><p>fundos e bem drenados. Apresenta sensibilidade ao frio.</p><p>Seus frutos amadurecem a partir de abril, apresentam 12.625 sementes por</p><p>quilo, em média, peso médio dos frutos de 152 g e número médio de sementes</p><p>por fruto igual a 23. O ‘Volkameriano’ é indicado para laranjas doces, com exce-</p><p>ção de alguns clones de laranjeira ‘Pêra’.</p><p>3. TANGERINEIRA ‘CLEÓPATRA’ - CITRUS RESHNI HORT. EX. TAN.</p><p>Nativa da Índia, a ‘Cleópatra’ (Figura 22 c) foi introduzida nos Estados Unidos</p><p>em torno de 1888 (século XIX), a partir da Jamaica. A planta, em virtude de ser</p><p>muito produtiva e apresentar frutos bastante coloridos (alaranjados), pode tam-</p><p>bém ser utilizada como ornamental.</p><p>As mudas de ‘Cleópatra’ apresentam vigor médio no viveiro. As plantas en-</p><p>xertadas sobre a tangerineira ‘Cleópatra ‘apresentam vigor moderado a alto, pro-</p><p>duzem sistema radicular amplo e denso, o que confere uma razoável tolerância</p><p>a seca, porém menor que a induzida pelo ‘Cravo’.</p><p>Um dos principais fatores limitantes ao uso da ‘Cleópatra’ é que as variedades</p><p>copa enxertadas sobre ela demoram mais tempo para iniciar as primeiras produ-</p><p>ções após o plantio das mudas, quando comparada com outros porta-enxertos.</p><p>Esse fato é evidenciado principalmente quando as copas são laranjeiras. O pro-</p><p>blema é menos pronunciado quando a copa é de tangerineiras.</p><p>A tangerineira ‘Cleópatra’ é tolerante a tristeza, xiloporose, exocorte, solos</p><p>salinos e parcialmente tolerante ao declínio dos</p><p>citros, sendo indicada para áreas</p><p>ou regiões onde o problema ocorre. É susceptível ao nematóide Tylenchulus e à</p><p>gomose. Adapta-se a solos com características bastante diversificadas, desde so-</p><p>los arenosos até solos argilosos, embora as plantas enxertadas sobre a Cleópatra</p><p>apresentem maior produção em solos argilosos.</p><p>Os frutos produzidos pelas plantas enxertadas sobre Cleópatra geralmente</p><p>60</p><p>são menores que os produzidos por plantas enxertadas em outros porta-enxer-</p><p>tos. Induz boa qualidade aos frutos das variedades de tangerineiras, laranjeiras</p><p>e pomeleiros.</p><p>Seus frutos amadurecem a partir de maio, apresentando cerca de 12.152 se-</p><p>mentes por quilograma. O peso médio dos frutos é de 47 g e o número médio</p><p>de sementes por fruto é 20.</p><p>4. TANGERINEIRA ‘SUNKI’ - CITRUS SUNKI HORT. EX. TAN</p><p>Provavelmente originária do Sul da China, o comportamento da Sunki (Figu-</p><p>ra 22 d) como porta-enxerto é semelhante ao da ‘Cleópatra’. As principais diferen-</p><p>ças são a sua maior suscetibilidade à gomose e a produção inicial mais precoce.</p><p>Seu maior inconveniente está na obtenção de sementes, pois normalmente</p><p>produz de duas a três sementes viáveis por fruto. Entretanto, existem algumas</p><p>seleções que produzem maior quantidade de sementes por fruto. Em trabalho</p><p>de avaliação de 20 seleções de tangerina ‘Sunki’, a Embrapa Mandioca e Fruti-</p><p>cultura indicou a seleção ‘Sunki Tropical’ como alternativa de uso em programas</p><p>de diversificação de porta-enxertos, principalmente em função de seu elevado</p><p>número médio de sementes por fruto (18,7) e uniformidade de seedlings, decor-</p><p>rente de sua elevada porcentagem de poliembrionia, próxima a 100%.</p><p>Resultados obtidos com limoeiro ‘Siciliano’ como copa indicam que a altura</p><p>e a produção média por planta não foram diferentes dos valores obtidos com o</p><p>uso do limoeiro ‘Cravo’ como porta-enxerto. Já a circunferência do tronco e da</p><p>copa foram maiores nas plantas enxertadas sobre ‘Cravo’. A laranjeira ‘Pêra’, clone</p><p>premunizado, quando enxertada sobre a ‘Sunki’, produziu maior quantidade de</p><p>frutos e houve maior crescimento vegetativo em comparação ao ‘Cravo’.</p><p>Os frutos da ‘Sunki’ amadurecem a partir de março, estendendo-se até junho</p><p>e apresentam cerca de 14.917 sementes por quilo. O peso médio dos frutos é de</p><p>24 g e o número médio de sementes por fruto é dois.</p><p>5. LARANJEIRA AZEDA - CITRUS AURANTIUM (L.)</p><p>Originária do Nordeste da Índia, próximo à fronteira com a China e Butão,</p><p>também é conhecida como laranja amarga e laranja da terra (Figura 22 e). Pelo</p><p>fato de ser susceptível ao vírus da tristeza, suas cultivares somente podem ser</p><p>utilizados como porta-enxertos para limões. Isso porque cultivares de laranja</p><p>azeda e de limões são intolerantes ou hipersensíveis ao vírus da tristeza, haven-</p><p>do a morte das células inoculadas com o vírus, isolando-o no local de infecção</p><p>antes que ele se dissemine para outras partes da planta.</p><p>Tolerante à gomose, à seca e ao frio, adapta-se bem a solos argilosos, induz</p><p>elevada produtividade à copa, boa a excelente qualidade aos frutos, que são de</p><p>tamanho médio e com elevado teor de sólidos solúveis. Quando utilizada como</p><p>porta-enxerto para o limoeiro ‘Siciliano’, possibilita a obtenção de excelentes</p><p>produções médias por planta.</p><p>6. CITRANGES TROYER E CARRIZO - [CITRUS SINENSIS (L.) OSBECK X PONCI-</p><p>RUS TRIFOLIATA (L.) RAF ]</p><p>São resultantes da hibridação da laranja ‘Bahia’, com pólen de Poncirus</p><p>trifoliata. A motivação inicial para a produção de citranges foi a necessidade</p><p>de obter variedades copa de híbridos que fossem tolerantes ao frio da Flórida.</p><p>61</p><p>Devido à má qualidade dos frutos, que os torna impróprios para o consumo,</p><p>o programa foi mal-sucedido. No entanto, os híbridos apresentaram bom</p><p>desempenho, quando usados como porta-enxertos. O citrange ‘Carrizo’ (Figura</p><p>22 f ) é o porta-enxerto mais empregado na Espanha, porém no Brasil é pouco</p><p>utilizado, talvez por desconhecimento de produtores e viveiristas ou pela</p><p>inexistência de resultados de pesquisa que indiquem o seu uso.</p><p>Os dois citranges são irmãos e visualmente as plantas são muito semelhan-</p><p>tes. São tolerantes a tristeza, xiloporose e gomose. As copas enxertadas sobre</p><p>esses porta-enxertos apresentam elevada produtividade e tolerância ao frio.</p><p>Ambos são tolerantes ao nematóide T. semipenetrans, porém, são suscetíveis ao</p><p>declínio e à exocorte, e apresentam baixa tolerância à seca.</p><p>A qualidade dos frutos das copas sobre esses porta-enxertos é considerada</p><p>excelente. São de tamanho médio e com elevado teor de sólidos solúveis totais.</p><p>Plantas enxertadas sobre ‘Carrizo’ se adaptam a solos com diferentes caracterís-</p><p>ticas físicas e químicas, mas não toleram solos salinos e calcários. Os citranges,</p><p>como os trifoliatas, apresentam crescimento em diâmetro do tronco superior ao</p><p>da copa, na região da enxertia.</p><p>Os frutos de ‘Troyer’ amadurecem a partir de abril e contêm, em média, 14</p><p>sementes. O peso médio dos frutos é de 80 gramas e o número médio de se-</p><p>mentes por quilograma é 4.621. Os frutos de ‘Carrizo’ amadurecem a partir de</p><p>maio, apresentando cerca de 18 sementes por fruto. O peso médio dos frutos e</p><p>o número médio de sementes por quilo são, respectivamente, de 90 g e 8.110.</p><p>7. CITRUMELEIRO ‘SWINGLE’ [CITRUS PARADISI MACF. X PONCIRUS TRIFO-</p><p>LIATA (L.) RAF ]</p><p>É um híbrido de Poncirus trifoliata com o pomelo ‘Duncan’, criado em 1907,</p><p>na Flórida e introduzido no Brasil no final da década de 1940.</p><p>Plantas enxertadas sobre citrumeleiro ‘Swingle’ (Figura 22 g) são tolerantes à</p><p>tristeza, exocorte, xiloporose, declínio e morte súbita, embora existam alguns re-</p><p>latos de plantas com baixo crescimento enxertadas sobre o ‘Swingle’, indicando</p><p>a possível presença de exocorte.</p><p>As plantas se desenvolvem bem em solos arenosos e argilosos, desde que</p><p>bem estruturados, mas não se adaptam bem a solos mal drenados, e com exces-</p><p>so de cálcio. ‘Swingle’ é imune ao nematóide T. semipenetrans e apresenta alta</p><p>tolerância ao fungo causador da gomose.</p><p>Os frutos produzidos pelas plantas enxertadas sobre ‘Swingle’ apresentam</p><p>excelente qualidade, com tamanho, sólidos solúveis totais e acidez adequados.</p><p>A maturação dos frutos das variedades copa é mais tardia, quando compara-</p><p>da com outros porta-enxertos. É considerado um dos melhores porta-enxertos</p><p>para laranjeiras, com exceção da laranjeira ‘Pêra’, devido à incompatibilidade de</p><p>enxertia. Também apresenta incompatibilidade com o limoeiro ‘Eureka’ e tango-</p><p>reira ‘Murcote’.</p><p>Os frutos amadurecem a partir de maio e pesam, em média, 192 g, apresen-</p><p>tando cerca de 20 sementes. O número médio de sementes por quilograma é de</p><p>5.435.</p><p>8. TRIFOLIATA - PONCIRUS TRIFOLIATA (L.) RAF.</p><p>Nativo da região central e nordeste da China, o trifoliata apresenta cerca de</p><p>40 clones já identificados e descritos, que mostram diferenças entre si como</p><p>62</p><p>porta-enxertos.</p><p>O trifoliata (Figura 22 h) é considerado um porta-enxerto ananicante. Alguns</p><p>autores, porém, atribuem essa característica à presença do viroide da exocorte,</p><p>visto que algumas estirpes do viroide não provocam a soltura da casca do tronco</p><p>das plantas em forma de escamas, mas apenas a redução no porte da planta. É</p><p>utilizado como porta-enxerto para tangerineiras, laranjeiras e limas em diversas</p><p>partes do mundo. No Brasil, é o porta-enxerto mais importante no Rio Grande</p><p>do Sul.</p><p>Plantas de citros enxertadas sobre trifoliata apresentam menor produção</p><p>quando comparadas às plantas enxertadas sobre outros porta-enxertos. Mas,</p><p>devido ao menor tamanho, podem ser plantadas em espaçamentos menores,</p><p>resultando em maior produtividade.</p><p>Plantas enxertadas sobre trifoliata são tolerantes ao vírus da tristeza, xilo-</p><p>porose, resistentes ao nematóide T. semipenetrans e a gomose, e susceptíveis à</p><p>exocorte e ao declínio. Apesar de o crescimento das plantas ser prejudicado em</p><p>solos de baixa fertilidade, arenosos e secos, são bem adaptadas a solos pesados</p><p>e com drenagem insuficiente.</p><p>O suco dos frutos produzidos em plantas sobre trifoliata é de excelente qua-</p><p>lidade, apresentando</p><p>teores de sólidos solúveis e de acidez titulável superiores</p><p>aos de outros porta-enxertos.</p><p>Pesquisas realizadas em São Paulo apontam como principais limitações do</p><p>trifoliata a menor resistência à seca e à sua pouca afinidade com as variedades</p><p>de laranja ‘Pêra’, tangor ‘Murcote’ e limoeiros ‘Siciliano’ e ‘Eureka’. Plantas desses</p><p>cultivares quando enxertadas em trifoliata apresentam, alguns anos após o plan-</p><p>tio, sintomas de deficiências nutricionais e sinais de anelamento na região de</p><p>enxertia. Com a remoção da casca, nota-se a presença de pontos de goma no le-</p><p>nho - sintoma característico de incompatibilidade. As plantas apresentam baixas</p><p>produções e são economicamente inviáveis.</p><p>Os frutos amadurecem a partir de maio, pesando, em média, 56 g e contendo</p><p>cerca de 15 sementes por fruto. O número médio de sementes por kg é 5.435.</p><p>9. TANGELEIRO ‘ORLANDO’ - [CITRUS PARADISI MACF. X CITRUS TANGERINA</p><p>HORT. EX TAN]</p><p>Híbrido do pomeleiro ‘Duncan’ com a tangerineira ‘Dancy’, o tangeleiro</p><p>‘Orlando’ (Figura 22 i) foi obtido na Flórida, em 1897, por Webber e Swingle. Em</p><p>muitos países, é utilizado para o consumo como fruta fresca ou industrialização,</p><p>mas, no Brasil, é utilizado fundamentalmente como porta-enxerto. O vigor das</p><p>mudas no viveiro é semelhante às do limoeiro ‘Cravo’.</p><p>O seu comportamento como porta-enxerto é satisfatório, muitas vezes</p><p>equivalente ao do limoeiro ‘Cravo’ e até superando-o, quando se considera</p><p>em conjunto fatores como produção, crescimento e qualidade dos frutos das</p><p>copas nele enxertadas. Apresenta-se como porta-enxerto recomendável para</p><p>as laranjeiras ‘Lima’, ‘Piralima’, ‘Barão’, ‘Natal’ e ‘Valência’, e para as tangerineiras</p><p>‘Cravo‘e ‘Poncã’, às quais proporciona boa qualidade dos frutos. É susceptível</p><p>à xiloporose, tolera o declínio e apresenta moderada resistência à gomose.</p><p>Adapta-se a solos argilosos e não tolera a seca.</p><p>10. LARANJEIRA ‘CAIPIRA’ - CITRUS SINENSIS (L.) OSBECK)</p><p>O uso da laranja ‘Caipira’ como porta-enxerto é limitado pelo fato de ser</p><p>63</p><p>sensível à seca e suscetível à gomose. Entretanto, existe uma seleção (laranja</p><p>Caipira DAC), que apresenta maior tolerância à gomose.</p><p>Excetuando esses problemas, o seu desempenho como porta-enxerto para</p><p>maioria das variedades copas é razoável, sendo considerada como boa opção</p><p>para as laranjeiras ‘Pêra’, ‘Valência’, ‘Natal’, ‘Hamlin’ e outras. Plantas enxertadas</p><p>sobre a laranjeira ‘Caipira’ são tolerantes à tristeza, declínio, exocorte e xiloporose,</p><p>mas suscetíveis ao nematoide dos citros. As mudas apresentam baixo vigor no</p><p>viveiro, resultando em aumento no período de formação da muda.</p><p>11. LIMOEIRO RUGOSO DA ‘FLÓRIDA’ – CITRUS JAMBHIRI LUSHINGTON</p><p>Provavelmente, trata-se de um híbrido natural, pois apresenta elevada</p><p>poliembrionia, que normalmente não é observada em outras espécies de limões.</p><p>O fruto apresenta casca rugosa e é utilizado exclusivamente como porta-enxerto.</p><p>Entre as principais características do limoeiro ‘Rugoso’ (Figura 22 j), está</p><p>sua excelente adaptação a solos arenosos, de baixa fertilidade. Laranjeiras,</p><p>pomeleiros, tangerineiras e limoeiros enxertados sobre esse porta-enxerto</p><p>são plantas altas, vigorosas e produtivas, principalmente em solos com as</p><p>características citadas. O sistema radicular é amplo, alcançando profundidades</p><p>que o tornam muito tolerante à seca, adaptando-se a uma ampla faixa de pH. Por</p><p>sua vez, as variedades copa enxertadas sobre o ‘Rugoso’ são muito suscetíveis</p><p>aos danos causados pelas geadas devido à presença de brotações frequentes</p><p>nas copas.</p><p>A planta é tolerante ao vírus da tristeza, aos viroides da exocorte e xiloporose</p><p>e altamente suscetível à gomose (Phytophthora) e ao nematoide Tylenchulus.</p><p>O excessivo vigor induzido às variedades copa geralmente conduzem à</p><p>baixa qualidade dos frutos produzidos, que apresentam baixos teores de sólidos</p><p>solúveis totais e acidez, fato que tem limitado seu uso no Brasil. Além disso,</p><p>muitas vezes, a casca dos frutos é mais grossa do que a dos produzidos por</p><p>plantas enxertadas em outros porta-enxertos.</p><p>Os frutos amadurecem a partir de abril e contêm, em média, 25 sementes</p><p>por fruto. O peso médio dos frutos é de 207 g e número médio de sementes por</p><p>quilograma é 15.240.</p><p>Limão</p><p>a b</p><p>64</p><p>Tangerina “Cleópatra” Tangerina “Sunki”</p><p>Laranja Azeda</p><p>Citrange “Troyer”</p><p>Citrumelo “Swingle” Trifoliata “Flying Dragon”</p><p>Limão “Rugoso”</p><p>Figura 22 – Principais porta-enxertos de citros recomendados para uso no Brasil - limão Cravo (a);</p><p>limão ‘Volkameriano’ (b); tangerina ‘Cleópatra’ (c); tangerina ‘Sunki’ (d); laranja ‘Azeda’ (e); citrange</p><p>‘Carrizo’ (f ); citrumelo ‘Swingle’ (g); Poncirus trifoliata ‘Flying Dragon’ (h); tangelo ‘Orlando’ (i), limão</p><p>rugoso da ‘Flórida’ (j)</p><p>c</p><p>d</p><p>e</p><p>f</p><p>g h</p><p>i j</p><p>65</p><p>PROPAGAÇÃO</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>Para o pomar de citros ser produtivo, com produção de frutos de boa qua-</p><p>lidade e apresentar a longevidade esperada, é necessário que o citricultor se</p><p>preocupe com a qualidade das mudas que serão usadas para o plantio. Normal-</p><p>mente, observa-se que a exigência quanto à qualidade das mudas depende do</p><p>comprador, da disponibilidade de recursos para investir e do seu acesso às infor-</p><p>mações técnicas. Empresas e grandes citricultores geralmente são mais exigen-</p><p>tes, enquanto pequenos produtores nem tanto, já que o preço das mudas é o</p><p>fator preponderante para a decisão de compra por esses produtores.</p><p>Para a aquisição de mudas de qualidade, deve-se, em primeiro lugar, fazer</p><p>uma seleção criteriosa do viveirista que vai produzir as mudas. Deve ser pessoa</p><p>idônea, que tenha instalações adequadas e dominar as técnicas de produção</p><p>para que as mudas sejam produzidas dentro das normas e padrões previstos na</p><p>legislação pertinente.</p><p>Em segundo lugar, deve-se escolher cultivares de porta-enxertos e copas in-</p><p>dicados para a região de plantio do pomar. As mudas devem estar isentas de</p><p>patógenos e pragas, principalmente daqueles transmissíveis por enxertia.</p><p>A variabilidade genética de citros é enorme, havendo centenas</p><p>de genótipos que podem ser usados. Entretanto, se não hou-</p><p>ver um sistema organizado e regulamentado para controle e</p><p>manutenção desse material, há riscos de troca de cultivares du-</p><p>rante a produção das mudas, disseminação de mutantes com</p><p>características indesejáveis e também de doenças. Para mini-</p><p>mizar ou evitar a ocorrência desses problemas, é importante</p><p>que os viveiristas obtenham as borbulhas de produtores regis-</p><p>trados nos órgãos competentes.</p><p>Os citros são portadores de dezenas de doenças transmissíveis por enxertia</p><p>(vírus, viroides, fitoplasmas, bactérias), que proliferam nos feixes vasculares</p><p>das plantas hospedeiras sensíveis. No caso de viroides, a transmissão pode ser</p><p>mecânica, por borbulhas e ferramentas. Outras enfermidades são transmitidas</p><p>por insetos vetores como a Tristeza dos citros, Clorose Variegada dos Citros e</p><p>“Huanglongbing” (ex-“Greening”), transmitidas por pulgões, cigarrinhas e</p><p>psilídeos, respectivamente. Essas doenças são sérias, pois pode haver cultivares</p><p>tolerantes que são portadores assintomáticos de doenças, sendo responsáveis</p><p>por sua disseminação para cultivares suscetíveis.</p><p>Por outro lado, a presença de doenças nas matrizes de porta-enxertos,</p><p>antes da retirada de sementes, apresenta baixo risco, porque a transmissão de</p><p>09</p><p>Õ</p><p>66</p><p>patógenos dos citros via sementes não foi comprovada. Por essa razão, as plantas</p><p>destinadas ao fornecimento de sementes para produção de porta-enxertos</p><p>podem ser mantidas a céu aberto.</p><p>A implantação de programas de certificação para produção de mudas de</p><p>citros e de outras frutíferas não é atribuição do citricultor. Trata-se de um processo</p><p>complexo e contínuo, que, para ter sucesso, necessita da participação dos vários</p><p>segmentos da cadeia produtiva dos citros (pesquisadores, extensionistas,</p><p>responsáveis técnicos, produtores, viveiristas, governo e órgãos fiscalizadores).</p><p>Além disso, é necessário o aporte contínuo de recursos.</p><p>2. TIPOS DE MUDAS</p><p>No Brasil, atualmente, as mudas de citros são produzidas usando dois</p><p>siste-</p><p>mas: produção certificada em ambiente protegido e a produção tradicional a</p><p>céu aberto.</p><p>É importante destacar que as mudas, para serem certificadas, devem cum-</p><p>prir uma série de requisitos, não bastando, portanto, somente serem produzidas</p><p>em ambiente protegido. Em outras palavras: mudas produzidas em ambiente</p><p>protegido nem sempre são certificadas; mudas certificadas obrigatoriamente</p><p>devem ser produzidas em ambiente protegido.</p><p>Nos sistemas de produção de mudas a céu aberto, elas podem ser produzidas</p><p>diretamente no solo ou em recipientes. No primeiro caso, não há necessidade de</p><p>preparar e manipular substratos. Alguns tratos culturais podem ser mecaniza-</p><p>dos (redução de mão de obra) e permitem a produção de mudas mais rústicas</p><p>e baratas que as produzidas em estufas. Por outro lado, as plantas estão mais</p><p>sujeitas ao ataque de pragas e doenças, requerem maiores áreas para produção</p><p>e apresentam um ciclo de produção mais longo, sem garantias de sua sanidade.</p><p>A produção de mudas protegidas iniciou-se nos Estados Unidos, na Flórida</p><p>(1957) e Califórnia (1968). Posteriormente o sistema foi utilizado na Austrália</p><p>(1981) e África do Sul (1993). Atualmente, o sistema é usado em vários países,</p><p>(Brasil, Espanha, Tailândia, Argentina, Uruguai, Turquia, etc.).</p><p>No Brasil, a produção de mudas em ambiente protegido foi</p><p>iniciada em São Paulo, de forma facultativa. Tornou-se obriga-</p><p>tória a partir de 01 de janeiro de 2003, quando ficaram proibi-</p><p>dos, em todo território do estado de São Paulo, o comércio e o</p><p>transporte de porta-enxertos e de mudas cítricas produzidas</p><p>em viveiros a céu aberto.</p><p>A partir 24 de setembro de 2013 a Instrução Normativa nº 48, do Ministério</p><p>da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estabeleceu Normas de Produção e</p><p>Comercialização de Material de Propagação de Citros - Citrus spp, Fortunella</p><p>spp, Poncirus spp e seus híbridos, bem como seus padrões de identidade e de</p><p>qualidade, com validade em todo o território nacional. Segundo o documento,</p><p>quatro anos a partir da publicação da Instrução Normativa, as mudas deveriam</p><p>ser produzidas em duas categorias: “Muda Certificada” e “Muda”. Além disso, seria</p><p>permitida a produção de mudas de citros somente com a utilização de substrato</p><p>que não contivesse solo.</p><p>No caso das mudas certificadas, Planta Básica, Planta Matriz, Borbulheira</p><p>e Muda deveriam ser mantidas em ambiente protegido, revestido por tela de</p><p>Õ</p><p>67</p><p>malha nas dimensões mínimas de 87 centésimos de milímetro por 30 centésimos</p><p>de milímetro, tanto na cobertura, quanto nas laterais; ter antecâmara na entrada,</p><p>com dimensão mínima de 4,0 m2, contendo pedilúvio interno e com dispositivo</p><p>para lavagem das mãos com sabão ou detergente. Na cobertura do telado,</p><p>poderia ser usado filme plástico em substituição à tela.</p><p>A produção de mudas em ambiente protegido permite a obtenção de plantas</p><p>sadias, não requer preparo do solo, remoção das mudas do solo e embalagem</p><p>delas, visto que são produzidas em recipientes. O ciclo de produção é mais curto,</p><p>devido ao melhor controle dos tratos culturais e substrato, além das mudas</p><p>poderem ir para o campo antes da formação dos ramos primários (pernadas).</p><p>3. PLANTAS MATRIZES</p><p>A primeira etapa do processo de propagação consiste na obtenção dos</p><p>cultivares ou clones, que podem ser introduzidos de outros países ou obtidos no</p><p>próprio país, vindos de seleção de mutações ou de programas de melhoramento,</p><p>usando as várias metodologias disponíveis. É importante lembrar que existe</p><p>legislação que regulamenta a introdução de sementes, frutos e propágulos</p><p>vegetativos provenientes de qualquer parte do mundo. Essa legislação visa,</p><p>principalmente, impedir a introdução de pragas provenientes de outros países</p><p>ou regiões do próprio país em locais onde elas não estão presentes.</p><p>As plantas desses cultivares, denominadas “candidatas a plantas básicas ou</p><p>candidatas a plantas matrizes”, devem ser avaliadas no campo para testar as</p><p>características agronômicas que são de interesse do produtor e dos consumidores</p><p>(produção, qualidade dos frutos, época de produção, porte da planta, adaptação</p><p>ambiental e resistência a pragas, entre outros).</p><p>Após a avaliação, devem ser multiplicadas e testadas para verificação da</p><p>presença de patógenos sistêmicos em seus tecidos (indexação). No caso da</p><p>detecção dos patógenos, plantas dos cultivares de interesse devem passar por um</p><p>processo de limpeza dos patógenos, usando técnicas como termoterapia e micro-</p><p>enxertia e mantidas em ambientes à prova de insetos. Essa etapa é fundamental</p><p>para o êxito do processo. Para as indexações e limpeza clonal, devem ser usadas</p><p>técnicas modernas e sensíveis para detecção de possíveis patógenos presentes</p><p>nas plantas. Deve ser realizada em instituições de pesquisa por necessitarem de</p><p>alto conhecimento técnico-científico e estrutura laboratorial complexa. Após a</p><p>avaliação agronômica, indexação e limpeza, no caso da presença de viroses, as</p><p>plantas recebem o nome de “plantas básicas”.</p><p>O passo seguinte consiste em formar blocos de plantas produzidas usando</p><p>borbulhas das plantas básicas selecionadas anteriormente. Esses blocos</p><p>devem, preferencialmente, estar em áreas com o mínimo risco fitossanitário e,</p><p>portanto, isoladas de pomares comerciais. São plantadas três ou mais plantas</p><p>de cada cultivar, diretamente no solo ou em recipientes (Figura 23), usando o</p><p>espaçamento normal indicado para os cultivares. Essas plantas são conhecidas</p><p>como plantas matrizes.</p><p>68</p><p>Figura 23 - Plantas matrizes de citros mantidas em ambiente protegido e culti-</p><p>vadas diretamente no solo</p><p>Recomenda-se deixar uma das plantas matrizes de cada cultivar sem retirar</p><p>borbulhas, visando avaliar a fidelidade genética, ou seja, verificar se têm todas</p><p>as características típicas, descritas para o cultivar em questão. Essa avaliação é</p><p>feita analisando as características das plantas e dos frutos, que são comparadas</p><p>às descritas para cada cultivar.</p><p>As plantas matrizes fornecem borbulhas para as borbulheiras (Figura 24)</p><p>que, por sua vez, têm como objetivo ampliar o número de borbulhas produzidas</p><p>pelas matrizes. Esse procedimento é feito devido à necessidade de se manter</p><p>um reduzido número de plantas matrizes nos telados para redução de custos.</p><p>Dessa forma, essa pequena quantidade de plantas matrizes por cultivar não tem</p><p>capacidade para produzir borbulhas em quantidade suficiente para atender</p><p>à necessidade dos viveiristas. Portanto, as borbulheiras tem como finalidade</p><p>multiplicar a quantidade de borbulhas provenientes das plantas matrizes</p><p>para posterior distribuição aos viveiristas, que, por sua vez, vão usá-las para a</p><p>produção de mudas de citros usadas comercialmente.</p><p>Finalmente, a última etapa do processo consiste na produção das mudas,</p><p>que podem ser certificadas ou não.</p><p>Figura 24 – Borbulheiras de</p><p>citros mantida em ambien-</p><p>te protegido e cultivadas</p><p>em vasos, mostrando as</p><p>hastes cortadas para a reti-</p><p>rada das borbulhas</p><p>69</p><p>Independentemente da muda ser certificada ou simplesmente “muda”, as</p><p>etapas do processo de produção são as mesmas. O que difere são as instalações e</p><p>os cuidados usados para a produção dos dois tipos de mudas. As principais etapas</p><p>de formação da muda consistem na semeadura dos porta-enxertos, transplante,</p><p>enxertia, forçamento da brotação e muda pronta, conforme descrição a seguir.</p><p>4. ESCOLHA DO LOCAL PARA A IMPLANTAÇÃO DE VIVEIROS E ESPAÇA-</p><p>MENTO USADO PARA A PRODUÇÃO DE MUDAS A CÉU ABERTO</p><p>O viveiro deve ser instalado em local de fácil acesso, para facilitar o transporte</p><p>das mudas, mesmo durante a estação chuvosa. A sua área deve ser calculada</p><p>em função da quantidade de mudas a ser produzida e do espaçamento a ser</p><p>utilizado. Também deve ser considerada a necessidade de área para produção</p><p>de sementes de porta-enxertos, escritório, almoxarifado, armazenamento de</p><p>adubos, agrotóxicos, ferramentas, máquinas e implementos.</p><p>Na escolha do local de instalação do viveiro devem ser considerados ainda</p><p>outros aspectos: as características químicas do solo, topografia, disponibilidade</p><p>devido ao clima e ao manejo, prin-</p><p>cipalmente da irrigação.</p><p>No Nordeste, os maiores produtores são a Bahia e Sergipe, situando-se na se-</p><p>gunda e quarta posição na produção de laranjas, com 6,1% e 3,3% da produção</p><p>brasileira.</p><p>Embora a introdução dos citros no Brasil tenha ocorrido no sé-</p><p>culo XVI, a citricultura somente ganhou importância econômi-</p><p>ca no início do século XX, quando o Brasil exportou volumes</p><p>significativos de laranjas para consumo de mesa, principal-</p><p>mente para a Argentina. A partir dos anos de 1960, a citricultu-</p><p>ra brasileira, que até então estava concentrada em São Paulo,</p><p>mudou de foco, direcionando a produção de laranjas para a fa-</p><p>bricação de suco, situação que persiste até a atualidade.</p><p>No entanto, esse modelo, que foi responsável pelo grande crescimento da</p><p>citricultura paulista, parece estar se esgotando. Os baixos preços recebidos pe-</p><p>los produtores pela laranja nos últimos anos, associados ao aumento do custo</p><p>de produção, devido à maior incidência de problemas fitossanitários e o maior</p><p>custo de mão de obra e insumos, fez com que centenas de citricultores desistis-</p><p>sem da atividade, com a erradicação de pomares de laranjeiras, resultando na</p><p>redução significativa no número de postos de trabalho.</p><p>Segundo informações de associações de produtores, cerca de 1% dos po-</p><p>mares e 47% das laranjeiras dos pomares paulistas estão concentradas em 120</p><p>propriedades, quase todas pertencentes a apenas três indústrias processadoras</p><p>de suco. Essa concentração da produção de frutas e suco nas mãos de apenas</p><p>três empresas, caracterizada pela economia como verticalização e formação de</p><p>cartel, é apontada como a principal responsável pelos problemas da citricultura</p><p>paulista.</p><p>Do total das laranjas produzidas em São Paulo, mais de 80% é destinada ao</p><p>processamento; menos de 20% é destinado ao mercado interno e menos de 1%</p><p>é exportado para consumo de mesa. Essas informações indicam a grande de-</p><p>pendência do citricultor em relação às indústrias produtoras de suco, já que o</p><p>mercado interno e a exportação de frutos para consumo de mesa não conseg-</p><p>uem absorver a produção. É importante lembrar que laranjas produzidas em São</p><p>Paulo são comercializadas em todo o Brasil, pois a maioria dos estados não é</p><p>autossuficiente quanto à produção de laranjas.</p><p>Õ</p><p>12</p><p>Tabela 6. Produção de laranjas nas regiões e estados brasileiros – 2013</p><p>Regiões Estados Área colhida</p><p>(ha)</p><p>Produção Porcentagem Produtividade</p><p>(t/ha)</p><p>Norte AM</p><p>RR</p><p>PA</p><p>AP</p><p>MA</p><p>3.156</p><p>222</p><p>11.821</p><p>1.560</p><p>1.007</p><p>68.426</p><p>2.153</p><p>195.941</p><p>14.150</p><p>6.391</p><p>0,4</p><p>0</p><p>1,2</p><p>0,1</p><p>0</p><p>21,7</p><p>9,7</p><p>16,6</p><p>9,1</p><p>6,3</p><p>Total 17.766 287.061 1,7 -</p><p>Nordeste PI</p><p>CE</p><p>PB</p><p>PE</p><p>AL</p><p>SE</p><p>BA</p><p>353</p><p>1.965</p><p>834</p><p>606</p><p>4.504</p><p>52.221</p><p>63.202</p><p>3.235</p><p>13.556</p><p>6.002</p><p>3.166</p><p>30.075</p><p>626.440</p><p>994.841</p><p>0</p><p>0,1</p><p>0</p><p>0</p><p>0,2</p><p>3,8</p><p>6,1</p><p>9,2</p><p>6,9</p><p>7,2</p><p>5,2</p><p>6,7</p><p>12</p><p>15,7</p><p>Total 123.685 1.677.315 10,2 -</p><p>Sudeste MG</p><p>ES</p><p>RJ</p><p>SP</p><p>39.427</p><p>1.208</p><p>4.439</p><p>455.000</p><p>894.283</p><p>15.882</p><p>60.279</p><p>11.830.000</p><p>5,5</p><p>0,1</p><p>0,4</p><p>72,6</p><p>22,7</p><p>13,1</p><p>13,6</p><p>26,0</p><p>Total 500.074 12.800.444 78,6 -</p><p>Sul PR</p><p>SC</p><p>RS</p><p>28.100</p><p>3.103</p><p>27.063</p><p>927.300</p><p>46.037</p><p>390.538</p><p>5,7</p><p>0,3</p><p>2,4</p><p>33,0</p><p>14,8</p><p>14,4</p><p>Total 58.266 1.363.875 8,4 -</p><p>Centro Oeste MS</p><p>MT</p><p>GO</p><p>DF</p><p>679</p><p>493</p><p>6.577</p><p>243</p><p>15.433</p><p>4.454</p><p>130.062</p><p>5.832</p><p>0,1</p><p>0</p><p>0,8</p><p>0,04</p><p>22,7</p><p>9,0</p><p>19,8</p><p>24,0</p><p>Total 7992 155.781 0,94 -</p><p>BRASIL 707.661 16.284.476 100 23</p><p>Para amenizar a crise, é importante incentivar a citricultura de mesa, não so-</p><p>mente em São Paulo, mas em todo o país, já que a citricultura de vários estados</p><p>acompanhou a paulista, no manejo dos pomares e na escolha dos cultivares,</p><p>com predomínio das laranjeiras ‘Pêra’, ‘Valencia’ e ‘Natal’, que são as variedades</p><p>usadas para a indústria.</p><p>Nos países em desenvolvimento predomina a citricultura de mesa. São usa-</p><p>dos cultivares cujos frutos apresentam balanço adequado entre açúcares e aci-</p><p>dez, casca lisa e fina, fáceis de descascar, sem sementes, cor intensa da casca e</p><p>do suco, entre outros. Um exemplo de cultivares entre as laranjeiras, cujos frutos</p><p>preenchem as características descritas anteriormente, são os do grupo da laran-</p><p>ja Bahia (laranjas de umbigo).</p><p>A indicação aos citricultores dos melhores cultivares para produção de frutos</p><p>de mesa, entretanto, demanda tempo. Depende do trabalho de melhoristas, no</p><p>caso de criação de novos cultivares, testes de campo de cultivares já existentes</p><p>e introdução daqueles de outros países. É um trabalho longo e oneroso, mas</p><p>importante e necessário. A importância da citricultura de mesa para o Brasil já</p><p>foi percebida por vários citricultores e pesquisadores, que atualmente já estão</p><p>atuando nessa área em alguns estados.</p><p>As indústrias brasileiras produtoras de suco, além do suco, também comer-</p><p>Fonte: Agrianual 2015</p><p>13</p><p>Õ</p><p>cializam os melhores frutos dos cultivares ‘Pêra’, ‘Valencia’, ‘Natal’, Folha Murcha,</p><p>etc. nos mercados de todo o país, para consumo de mesa. Por isso, o cultivo des-</p><p>ses mesmos cultivares pelos citricultores resultará em frutos que irão competir</p><p>com os comercializados pelas indústrias, no mercado de frutos de mesa.</p><p>Devido à enorme escala de produção e logística de classificação e distribui-</p><p>ção dos frutos, as indústrias tendem a dominar o mercado de frutas de mesa</p><p>desses cultivares. Portanto, é importante que os citricultores adotem o plantio</p><p>de cultivares de citros desenvolvidos para a produção de frutos de mesa.</p><p>Cerca de 50% de toda a produção de suco de laranjas do mun-</p><p>do é brasileira. Em torno de 98% do total produzido pelo Brasil</p><p>é exportado, representando cerca de 85% do volume comer-</p><p>cializado no mercado mundial. As principais explicações para</p><p>o baixo consumo no mercado interno são a falta de adaptação</p><p>do paladar do brasileiro ao sabor do suco concentrado; a falta</p><p>de oferta do suco concentrado congelado no mercado, princi-</p><p>palmente nos pequenos municípios brasileiros; e ao alto pre-</p><p>ço, devido, entre outros fatores, às altas cargas tributárias e às</p><p>margens de lucro no varejo.</p><p>Os principais importadores do suco de laranjas brasileiro são a União Euro-</p><p>peia, com 70% do volume exportado pelo Brasil, e Estados Unidos, com 18%.</p><p>Importadores menores são China e Japão. Em 2014, o Brasil exportou 1.037.178</p><p>toneladas de suco de laranjas no valor de US$ 1.897.871.698. Apesar dos nú-</p><p>meros serem surpreendentes pelos altos valores, a Associação dos Exportadores</p><p>Nacionais de Sucos Cítricos (Citrus BR) informa que o mercado internacional está</p><p>em crise, em função do baixo consumo de suco de laranja industrializado nos</p><p>Estados Unidos e Europa.</p><p>2. COMPOSIÇÃO DOS FRUTOS</p><p>Os principais componentes da laranja, em termos quantitativos, são a água</p><p>e os açúcares. A água é responsável por mais de 85% da massa das laranjas e os</p><p>açúcares redutores (glicose e frutose) e não redutores (sacarose) representam</p><p>em torno de 12% da massa do suco dos frutos, sendo divididos em aproximada-</p><p>mente 50% para cada um (Tabela 7).</p><p>Como principais componentes do suco, os açúcares solúveis são as princi-</p><p>pais fontes de calorias das laranjas e tangerinas. Entretanto, teores mais eleva-</p><p>dos de açúcares nos frutos, quando adequadamente equilibrados com os ácidos,</p><p>resultam em sabor mais agradável do suco. Os açúcares se acumulam durante</p><p>o amadurecimento dos frutos, concomitantemente com a redução da acidez,</p><p>de tal forma que o conteúdo de sólidos solúveis totais aumenta lentamente ou</p><p>permanece praticamente constante.</p><p>Aproximadamente 1% da massa do suco corresponde aos ácidos, com pre-</p><p>domínio do ácido cítrico (Tabela 7). Os ácidos são muito importantes para a qua-</p><p>lidade dos frutos, considerando que a aceitação pelo consumidor depende da</p><p>relação entre os teores de sólidos solúveis e a acidez. Em frutos verdes ou “pas-</p><p>sados”, a relação é baixa. O valor de 9,5 é considerado o mínimo aceitável para o</p><p>consumo dos frutos, entretanto, esse valor depende da variedade, da época do</p><p>ano e da preferência dos consumidores.</p><p>14</p><p>Os ácidos se acumulam durante o desenvolvimento inicial dos frutos, com</p><p>estabilização do conteúdo em seguida. A queda de concentração dos ácidos ob-</p><p>servada durante o amadurecimento dos frutos deve-se, principalmente</p><p>de água, aspectos fitossanitários, drenagem, disponibilidade de mão de obra,</p><p>etc.</p><p>Os terrenos planos ou levemente inclinados são os mais indicados para a</p><p>implantação de viveiros, devido à facilidade de execução dos tratos culturais,</p><p>remoção das mudas do solo e trânsito de veículos e máquinas.</p><p>No viveiro deve haver disponibilidade de água para possibilitar irrigações e</p><p>pulverizações das plantas. Embora não exista recomendação mínima, o viveiro</p><p>deve estar distante o máximo possível de pomares de citros e de estradas para</p><p>reduzir os riscos de incidência de pragas e doenças. A área deve ser cercada</p><p>para evitar o acesso de animais e de pessoas estranhas. Em regiões onde as</p><p>doenças Clorose Variegada, Morte Súbita e Greening estão presentes, é proibida</p><p>a produção de mudas de citros a céu aberto.</p><p>Em Minas Gerais, a produção de mudas de citros a céu aberto tem sido feita</p><p>em sacolas preenchidas com solo do próprio local do viveiro, que são dispostas</p><p>em fileiras simples ou duplas e parcialmente enterradas (Figura 25).</p><p>5. ESCOLHA DO LOCAL PARA A IMPLANTAÇÃO DE VIVEIROS PARA PRODU-</p><p>ÇÃO DE MUDAS EM AMBIENTE PROTEGIDO</p><p>Como nos viveiros a céu aberto, os telados para a produção de mudas em</p><p>Figura 25 – Viveiros de produção de mudas de citros localizados em Dona Euzébia (MG): Disposi-</p><p>ção das sacolas em linhas simples (a) e duplas (b)</p><p>a b</p><p>70</p><p>ambiente protegido devem ser instalados em locais de fácil acesso, em terrenos</p><p>com boa drenagem, não sujeitos a alagamentos e distantes de pomares de citros.</p><p>A área deve ser cercada para evitar o acesso de animais e de pessoas estranhas</p><p>(Figura 26 a). Caso seja necessário, deve-se plantar também quebra-ventos ao</p><p>redor do viveiro.</p><p>Na entrada do viveiro, devem ser construídas instalações para desinfestação</p><p>de veículos, que consistem em tanque de imersão para desinfestação de pneus</p><p>e arco rodolúvio para desinfestação das demais partes dos veículos (Figura 26</p><p>b). Espumas com solução desinfestante ou fungicidas cúpricos em pó devem ser</p><p>colocadas na entrada dos telados para desinfestação de calçados.</p><p>Também é desejável que o viveiro disponha de construções de apoio,</p><p>como escritório, câmara fria para armazenamento de sementes e hastes</p><p>porta-borbulhas, armazenamento de ferramentas, fertilizantes e produtos</p><p>fitossanitários, vestiário e laboratório para avaliações dos substratos (pH,</p><p>condutividade elétrica) e sementes.</p><p>6. SUBSTRATO, OBTENÇÃO DAS SEMENTES DOS PORTA-ENXERTOS E SE-</p><p>MEADURA</p><p>Os cultivares de porta-enxertos de citros devem ser poliembriônicos, para</p><p>que não haja perda da fidelidade genética, já que a produção de porta-enxertos</p><p>de citros é realizada usando sementes. Esse método tem custo mais baixo,</p><p>quando comparado a outras técnicas de propagação; permite a produção de</p><p>porta-enxertos que desenvolvem sistema radicular vigoroso, além de ser um</p><p>método seguro para obter plantas sadias.</p><p>O substrato para o enchimento de tubetes para produção dos porta-enxertos</p><p>e, posteriormente, das sacolas de plástico onde as mudas serão produzidas,</p><p>pode ser adquirido de empresas especializadas ou misturado no próprio</p><p>viveiro. Nesse caso, o viveiro deve dispor de um local para armazenamento,</p><p>dividido em compartimentos para receber os vários componentes usados para a</p><p>mistura do substrato. Os viveiristas preferem adquirir os substratos de empresas</p><p>especializadas, em vez de prepará-los no viveiro, devido a questões de qualidade</p><p>do substrato, homogeneidade na composição, custos e outras dificuldades</p><p>técnicas e operacionais.</p><p>É importante lembrar que a Instrução Normativa nº48, de 24/09/2013, do</p><p>Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que trata das Normas de</p><p>Produção e Comercialização de Material de Propagação de Citros, estabeleceu</p><p>que não será permitida a produção de mudas de citros com a utilização de</p><p>Figura 26 – Viveiro protegido por cerca de tela e cerca viva, na lateral esquerda da fotografia (a);</p><p>entrada de viveiro de citros, com arco rodolúvio (b)</p><p>a b</p><p>71</p><p>substrato que contenha solo depois de quatro anos da publicação das normas.</p><p>Ainda é comum, em algumas regiões do Brasil, a produção dos ‘cavalinhos’ ou</p><p>porta-enxertos em sementeiras preparadas diretamente no solo ou em tubetes</p><p>mantidos a céu aberto (Figura 27).</p><p>O substrato não deve conter componentes de fácil decompo-</p><p>sição, com composição uniforme para facilitar o manejo das</p><p>plantas e apresentar custo que seja economicamente viável</p><p>para o viveirista. Outras características importantes dos subs-</p><p>tratos são isenção de sementes de plantas daninhas, nematoi-</p><p>des, Phytophtora e outros patógenos prejudiciais aos citros.</p><p>Deve ser leve para facilitar o transporte e manuseio; apresentar</p><p>boa porosidade, drenagem e capacidade de retenção de água.</p><p>As plantas matrizes, fornecedoras de sementes para produção de porta-</p><p>enxertos, podem ser cultivadas a céu aberto e plantadas em blocos homogêneos</p><p>quanto à espécie ou variedade, isolados uns dos outros por quebra-ventos,</p><p>visando reduzir a polinização cruzada. O espaçamento a ser usado depende da</p><p>espécie de porta-enxerto, tendo em vista que as plantas das espécies usadas</p><p>com essa finalidade diferem consideravelmente entre si com relação ao vigor.</p><p>Recomenda-se que a quantidade de sementes a ser usada para a produção</p><p>de mudas seja, no mínimo, duas vezes superior ao número de plantas desejado.</p><p>Quando a semeadura for feita diretamente no solo, o número de sementes deve</p><p>ser ainda maior, geralmente superior ao número de mudas desejado em três a</p><p>quatro vezes. Para o cálculo da quantidade de sementes a adquirir, deve-se</p><p>conhecer o número médio de sementes por quilograma de cada cultivar de</p><p>porta-enxerto (Tabela 11). Vale lembrar que os valores apresentados na tabela,</p><p>podem variar de acordo com os anos e locais de cultivo, devido às variações</p><p>climáticas e de solo.</p><p>Os frutos fornecedores de sementes devem ser colhidos maduros ou de vez,</p><p>evitando o uso de frutos catados do solo, pois podem estar contaminados com</p><p>Phytophthora.</p><p>Õ</p><p>Figura 27 – Sementeira de citros mantida a céu aberto, com semeadura feita diretamente no solo</p><p>(a) e em tubetes (b)</p><p>a b</p><p>72</p><p>Tabela 11. Características dos frutos de alguns porta-enxertos de citros</p><p>cultivados em Viçosa (MG) e época de início de maturação dos frutos</p><p>Porta-enxerto Peso de 1.000</p><p>sementes (g)</p><p>Sementes</p><p>por kg</p><p>Sementes</p><p>por fruto</p><p>Início da</p><p>maturação dos</p><p>frutos</p><p>Limoeiro ‘Cravo’</p><p>Limoeiro ‘Volkameriano’</p><p>Limoeiro ‘Rugoso’</p><p>Tangerineira ‘Cleópatra’</p><p>Tangerineira ‘Sunki’</p><p>Citrangeiro ‘Troyer’</p><p>Citrangeiro ‘Carrizo’</p><p>Citrumeleiro ‘Swingle’</p><p>60,4</p><p>79,2</p><p>65,6</p><p>82,3</p><p>67,0</p><p>216,4</p><p>123,3</p><p>184,0</p><p>16.556</p><p>12.625</p><p>15.240</p><p>12.152</p><p>14.917</p><p>4.621</p><p>8.110</p><p>5.435</p><p>8,8</p><p>23,5</p><p>25,3</p><p>20,5</p><p>2,4</p><p>14,2</p><p>18,4</p><p>20,0</p><p>Maio</p><p>Abril</p><p>Abril</p><p>Maio</p><p>Março</p><p>Abril</p><p>Maio</p><p>Maio</p><p>A extração das sementes pode ser manual ou mecânica. É comum o uso de</p><p>máquinas construídas pelos próprios viveiristas para a extração das sementes.</p><p>Após a extração, no sistema de produção de mudas certificadas, faz-se um tra-</p><p>tamento térmico das sementes visando à eliminação de Phytophthora, cujas</p><p>estruturas de multiplicação podem estar no seu interior. O tratamento consiste</p><p>em submeter as sementes em banho-maria na temperatura de 52oC, durante 10</p><p>minutos, e após submergi-las rapidamente em água fria.</p><p>Após o tratamento, devem ser secadas à sombra em finas camadas, que de-</p><p>vem ser revolvidas periodicamente. Após a secagem, as sementes devem rece-</p><p>ber um tratamento químico com fungicida, que tem como objetivo eliminar e</p><p>prevenir o desenvolvimento de patógenos superficiais. Depois de secas, devem</p><p>ser guardadas em sacolas plásticas, pesadas e identificadas, com nome da varie-</p><p>dade, origem, peso e data.</p><p>A semeadura pode ser realizada imediatamente após o preparo ou as se-</p><p>mentes podem ser armazenadas em temperatura entre 3º e 4oC e 60% a 90%</p><p>de umidade relativa. Nesse caso, devem ser inspecionadas mensalmente para</p><p>eliminar sementes com eventuais ataques de fungos.</p><p>Os viveiristas devem ficar atentos ao fato de que a germinação das sementes</p><p>dos diferentes cultivares de</p><p>porta-enxertos difere muito após o armazenamento.</p><p>Por exemplo, sementes dos porta-enxertos limoeiro ‘Cravo’, ‘Rangpur x Swingle</p><p>1707’, ‘Citradia 1708’ e ‘Citrange Carrizo’ armazenadas durante 150 dias em câ-</p><p>mara fria (temperatura de 5-7°C e umidade relativa do ar de 70%) estavam com</p><p>cerca de 71%, 62%, 59% e 54% de emergência, respectivamente, enquanto a</p><p>das sementes dos porta-enxertos ‘Trifoliata’ e ‘Citrandarin foi de 23,7% e 34,6%,</p><p>respectivamente.</p><p>A semeadura e condução dos porta-enxertos pode ser realizada de duas for-</p><p>mas: para a produção de mudas certificadas, os porta-enxertos devem ser pro-</p><p>duzidos em ambiente protegido (telados). A semeadura normalmente é realiza-</p><p>da em tubetes de 50 cm3 de capacidade, em forma cônica, com estrias longitu-</p><p>dinais. Alguns viveiristas removem os tegumentos das sementes manualmente,</p><p>após imersão em soluções químicas, com a finalidade de melhorar a sanidade,</p><p>acelerar e uniformizar a germinação (Figura 28).</p><p>Para a remoção dos tegumentos, podem ser utilizados, para</p><p>cada litro de sementes: 500 mL de hipoclorito de sódio (12%),</p><p>uma colher de sopa de soda caústica e 3 mL de ácido m uriáti-</p><p>co, que devem ser bem misturados em dois litros de água. As</p><p>Õ</p><p>73</p><p>sementes devem permanecer durante 45 minutos na solução.</p><p>Posteriormente, são lavadas e os tegumentos retirados manu-</p><p>almente.</p><p>A semeadura deve ser feita utilizando-se de 1 a 3 sementes por tubete, de-</p><p>pendendo da disponibilidade de sementes e germinação, na profundidade de</p><p>1 a 2 cm (Figuras 29 a). Como os tubetes são perfurados no fundo e mantidos</p><p>suspensos, ocorre a morte da raiz pivotante (poda aérea), havendo emissão de</p><p>raízes secundárias.</p><p>No sistema tradicional de propagação dos citros, a semeadura é feita em</p><p>canteiros semelhantes aos usados para o cultivo de hortaliças, mantidos a céu</p><p>aberto. As sementes são semeadas em sulcos transversais (Figura 29 b) ou dis-</p><p>tribuídas a lanço e cobertas com uma camada de substrato (terra ou areia) de</p><p>aproximadamente dois centímetros de altura. Após a germinação, que ocorre de</p><p>20 a 40 dias após a semeadura, dependendo da temperatura, as plantas atípicas</p><p>e com baixo crescimento devem ser eliminadas. Alguns viveiristas fazem a seme-</p><p>adura em tubetes, mantidos a céu aberto. Nesse caso, deve-se fazer o desbaste,</p><p>quando as plantas estiverem com cerca de 5 cm, deixando apenas a muda mais</p><p>desenvolvida no tubete.</p><p>Durante a germinação e o desenvolvimento inicial dos porta-enxertos, a</p><p>irrigação deve ser realizada periodicamente, evitando excessos. Para facilitar o</p><p>manejo das mudas nos tubetes, elas devem ser separadas em lotes homogêneos</p><p>quanto ao desenvolvimento vegetativo.</p><p>Õ</p><p>Figura 28 – Remoção manual dos tegumentos de sementes de porta-enxertos de citros (a) e se-</p><p>mentes com os tegumentos removidos (b)</p><p>Figura 29 – Semeadura de sementes de porta-enxertos de citros, usando uma semente por tubete</p><p>(a); semeadura em canteiros, em sulcos transversais (b)</p><p>a b</p><p>a b</p><p>74</p><p>7. PREPARO DO SOLO E PLANTIO DE MUDAS NO VIVEIRO</p><p>No preparo do viveiro para formação das mudas diretamente no solo (Figura</p><p>30 a), são realizadas as mesmas operações recomendadas para o plantio de</p><p>qualquer cultura, como análises química e física do solo, uso de práticas de</p><p>conservação, aplicação de calcário e matéria orgânica, aração e gradagem.</p><p>Após o preparo da área, ela deve ser dividida em blocos homogêneos, nos quais</p><p>devem ser plantados separadamente cada porta-enxerto e cultivar copa, que</p><p>devem ser identificados para evitar misturas de mudas de diferentes cultivares.</p><p>A adubação de plantio poderá ser realizada distribuindo de</p><p>três a cinco quilos de esterco curtido por metro linear de sulco.</p><p>Deve-se aplicar também adubo fosfatado, cuja quantidade de-</p><p>pende do resultado da análise de solo. O sistema de produção</p><p>das mudas diretamente no solo (sementeira e viveiro) é cada</p><p>vez menos utilizado, mas ainda é permitido pela legislação vi-</p><p>gente.</p><p>8. TRANSPLANTE</p><p>O transplante das mudas da sementeira para o viveiro a céu aberto é realizado</p><p>quando estão com comprimento entre 15 a 25 cm. Aproximadamente um mês</p><p>antes da data prevista para o transplante, as irrigações devem ser reduzidas para</p><p>que haja o “endurecimento” das mudas, ou seja, para torná-las mais resistentes,</p><p>visando suportarem melhor o estresse gerado pelo transplante.</p><p>A sementeira deve ser irrigada logo antes da retirada das mudas para facilitar</p><p>o trabalho. Para arrancar as mudas dever ser feito um sulco transversal, com 20</p><p>a 30 cm de profundidade, em uma das extremidades da sementeira. Logo após,</p><p>usando uma pá ou vanga, faz-se o tombamento de cada linha de mudas para o</p><p>interior do sulco, removendo-as manualmente.</p><p>Após a remoção, devem ser levadas para um local sombreado, selecionadas,</p><p>preparadas e acondicionadas, para posterior transplante. Na seleção, devem ser</p><p>eliminadas mudas atípicas (muito pequenas ou muito grandes) e defeituosas</p><p>(raízes bifurcadas, enoveladas e tortas).</p><p>Na seleção, são classificadas em três tamanhos: as maiores são as mudas</p><p>de primeira; as intermediárias, de segunda, e as menores, de terceira. Essas</p><p>mudas devem ser plantadas em lotes separados no viveiro para obter maior</p><p>uniformidade, o que facilita o manejo.</p><p>Para reduzir a transpiração das mudas, as folhas maduras podem ser</p><p>cortadas pela metade, antes do transplante. O comprimento da raiz pivotante</p><p>também deve ser reduzido a cerca de um terço de seu tamanho original, para</p><p>evitar o enovelamento das raízes no momento do plantio no viveiro. Após essas</p><p>operações, as mudas devem ser envolvidas com pano úmido e mantidas à</p><p>sombra até o momento do transplante.</p><p>O plantio das mudas pode ser feito em covas abertas ao longo dos</p><p>sulcos adubados ou usando uma haste de madeira, com ponta em uma das</p><p>extremidades, denominada chucho. Com ele, são abertos orifícios nos quais são</p><p>colocadas as mudas de raízes nuas.</p><p>Para as mudas produzidas em tubetes, o transplante é feito quando os porta-</p><p>enxertos estão com 10 a 15 cm de altura. Podem ser transplantados para o viveiro</p><p>Õ</p><p>75</p><p>no campo ou para recipientes definitivos, onde será completada a formação das</p><p>mudas (Figura 30 b).</p><p>No caso de produção de mudas em recipientes, eles devem apresentar</p><p>dimensões mínimas de 10 cm de largura por 30 cm de altura. Esses recipientes</p><p>podem ser de plástico rígido ou sacolas plásticas. Os vasos de plástico rígido são</p><p>comercialmente denominados de citrovasos ou citropotes. As sacolas plásticas</p><p>apresentam custo menor, não ocupam espaço quando vazias e são descartadas</p><p>após o plantio das mudas. Por isso, seu uso predomina, principalmente, em</p><p>viveiros comerciais.</p><p>O tamanho das sacolas pode ser usado como diferencial de qualidade das</p><p>mudas entre viveiros, considerando que quanto maior a sacola, maior será</p><p>o volume de raízes das mudas. Em função disso, alguns viveiros produzem</p><p>lotes em sacolas com capacidade de até sete litros, procurando obter mudas</p><p>com maior desenvolvimento das raízes e mais homogêneas, devido à menor</p><p>competição entre elas na fase de produção. Mudas com essas características</p><p>terão maior desenvolvimento da copa e maior produtividade nos primeiros anos</p><p>de produção.</p><p>9. TRATOS CULTURAIS NO VIVEIRO</p><p>Após o transplante, as mudas devem ser adubadas e irrigadas, normalmente</p><p>usando irrigação por aspersão, quando plantadas diretamente no solo (Figura 30</p><p>c), e com mangueiras, quando transplantadas para sacolas plásticas e mantidas</p><p>em viveiro protegido. Deve-se fazer o controle periódico de plantas daninhas e</p><p>eliminar as brotações laterais dos porta-enxertos para promover o desenvolvi-</p><p>mento mais rápido, visando antecipar a enxertia e, consequentemente, reduzir o</p><p>tempo de formação da muda.</p><p>O controle fitossanitário também deve ser realizado. As pragas que incidem</p><p>nos viveiros são praticamente as mesmas dos pomares adultos, embora com</p><p>graus de importância diferenciados pelo fato de as mudas não produzirem fru-</p><p>tos. No caso dos porta-enxertos Cravo e ‘Volcameriano’, é importante o controle</p><p>da verrugose, que será descrita</p><p>posteriormente.</p><p>10. ENXERTIA</p><p>Para a produção de mudas certificadas, as borbulhas devem</p><p>ser obtidas de plantas matrizes ou de borbulheiras registradas,</p><p>cultivadas em ambiente protegido e inspecionadas periodica-</p><p>mente.</p><p>As borbulhas são retiradas de ramos denominados “porta-borbulhas”, que</p><p>são ramos angulares ou cilíndricos, dependendo do seu grau de maturação, com</p><p>comprimento entre 30-40 cm, cujas folhas são removidas com tesoura. Quando</p><p>o viveirista pretende fazer a enxertia nos porta-enxertos mais novos e, portanto,</p><p>mais finos, são utilizadas borbulhas provenientes de hastes angulares, por terem</p><p>a base mais estreita, o que viabiliza o seu encaixe no porta-enxerto de baixa</p><p>espessura. Os ramos porta-borbulhas podem ser armazenados em câmara fria,</p><p>entrentanto o tempo de armazenamento, depende da variedade, época de co-</p><p>lheita e maturação dos ramos.</p><p>Õ</p><p>76</p><p>Conforme o cultivar e condições de cultivo, os porta-enxertos estão aptos</p><p>para a enxertia entre 3 e 6 meses após o transplante para o campo ou para a</p><p>sacola plástica ou citropote.</p><p>A forma de realização da enxertia nos dois sistemas de produção de mudas é</p><p>semelhante, mas a realizada por borbulhia em T invertido é a mais usada.</p><p>Antes da realização da enxertia, deve-se fazer a toalete do porta-enxerto,</p><p>que consiste na remoção de folhas, espinhos e brotações presentes até a altura</p><p>de 30 cm mais ou menos, a partir do colo da muda, para facilitar a realização</p><p>da enxertia. Essa operação deve ser realizada no dia da enxertia, pois se feita</p><p>anteriormente dificulta o desprendimento da casca. A enxertia deverá ser feita</p><p>entre 10 e 20 centímetros de altura, medidos a partir do colo do porta-enxerto.</p><p>Quando se tratar dos limões verdadeiros [Citrus limon (L.) Burm. F.] ou a muda</p><p>for destinada para plantio com colheita mecanizada, a enxertia deverá ser feita</p><p>entre 20 e 40 centímetros.</p><p>11. FORMAÇÃO DAS MUDAS</p><p>Essa etapa também não apresenta diferenças significativas entre os dois sis-</p><p>temas de produção de mudas. Entre 15 e 20 dias após a enxertia, a fita plásti-</p><p>ca usada para amarrar a borbulha no porta-enxerto deve ser retirada. Em torno</p><p>de uma semana após a remoção da fita, deve-se verificar em quais plantas não</p><p>pegou a enxertia, caracterizada pela cor amarela ou escura da borbulha. Nesse</p><p>caso, faz-se uma segunda enxertia, abaixo do ponto onde foi realizada a primei-</p><p>ra.</p><p>Após a remoção da fita, é feita a indução de brotação da gema do enxer-</p><p>to, que é realizada usando a prática denominada “forçamento de brotação”. Ela</p><p>pode ser feita de várias maneiras, como a decapitação do porta-enxerto, encur-</p><p>vamento do porta-enxerto com corte parcial, encurvamento do porta-enxerto</p><p>sem corte, anelamento total e anelamento parcial.</p><p>• Decapitação: é feita geralmente de 1 a 2 cm acima do ponto de enxertia.</p><p>Deve-se deixar uma pequena parte do caule do porta-enxerto acima da enxer-</p><p>tia, para ser eliminada no momento da primeira poda de formação.</p><p>• Encurvamento do porta-enxerto com corte parcial (Figura 30 d): faz-se</p><p>um corte a aproximadamente três centímetros acima e do mesmo lado do en-</p><p>xerto, com uma profundidade um pouco inferior à metade do diâmetro do cau-</p><p>le. Logo após, o porta-enxerto é curvado para baixo, no sentido contrário ao do</p><p>enxerto.</p><p>• Anelamento total: consiste na remoção de um anel de casca do porta-</p><p>-enxerto, com cerca de 0,5 cm de largura, a 1cm acima do ponto de enxertia.</p><p>• Anelamento parcial: é feito da mesma forma, porém a casca é removida</p><p>apenas acima do local onde foi feita a enxertia.</p><p>• Forçamento da brotação por encurvamento do porta-enxerto: é o mé-</p><p>todo mais usado atualmente, pois permite um crescimento mais rápido do en-</p><p>xerto. Consiste em envergar o porta-enxerto para o lado contrário ao local onde</p><p>foi realizada a enxertia, de forma que a borbulha fique mais ou menos entre 3 e</p><p>5 cm abaixo da curvatura (Figura 30 e).</p><p>Com exceção da decapitação total, nos demais métodos de forçamento de</p><p>brotação da enxertia, o “desmame” ou eliminação do porta-enxerto normalmen-</p><p>te é realizado no momento da primeira poda de formação das mudas.</p><p>Em seguida ao forçamento da brotação, a borbulha inicia o processo de bro-</p><p>tação (Figura 30 f ). Durante o crescimento do enxerto, ele deve ser tutorado,</p><p>utilizando estaca, geralmente de arame galvanizado ou de bambu, que é intro-</p><p>77</p><p>duzida no substrato ou no solo, no lado oposto ao do enxerto. O uso do tutor</p><p>evita o tombamento e crescimento lateral do enxerto, com formação da muda</p><p>fora do padrão (Figura 30 g), e também da possível quebra do enxerto.</p><p>Durante o crescimento do enxerto, devem-se eliminar todas as brotações</p><p>que surgem na planta até a altura de 30 a 60 centímetros, medida a partir do</p><p>colo, principalmente quando se usa a decapitação total, pois nesse método há</p><p>tendência de ocorrer mais brotação no porta-enxerto.</p><p>As mudas de citros (“mudas” e “mudas certificadas”) podem ser comerciali-</p><p>zadas em haste única ou com copa formada. Em ambos os casos, procede-se a</p><p>poda de formação, que consiste na eliminação da parte apical da muda, deve ser</p><p>feita entre 30 a 60 centímetros, medidos a partir do colo da planta. A haste deve</p><p>estar madura (lignificada) no local da poda.</p><p>No caso das mudas de copa formada, após a primeira poda, todas as bro-</p><p>tações da haste devem ser removidas, com exceção de três a cinco brotos que</p><p>formarão as pernadas: ramos maduros, radialmente dispostos nos últimos 20</p><p>centímetros da parte superior da haste.</p><p>a b</p><p>c d</p><p>e f</p><p>78</p><p>12. REMOÇÃO DAS MUDAS DO SOLO E PADRÕES</p><p>As mudas de citros produzidas no solo, em sacolas, são removidas cortan-</p><p>do as raízes grossas, cujo desenvolvimento ultrapassou as dimensões da sacola</p><p>plástica e penetraram no solo.</p><p>Para serem comercializadas, as mudas enxertadas de qualquer categoria</p><p>devem apresentar as seguintes características: constituir haste única e ereta,</p><p>tolerando-se uma pequena curvatura logo acima do ponto de enxertia de, no</p><p>máximo, 15º; apresentar, na fase de comercialização, diferença menor ou igual</p><p>a 5 milímetros entre os diâmetros medidos a 5 centímetros acima e abaixo do</p><p>ponto de enxertia, com exceção das mudas de tangerineiras, cuja diferença</p><p>entre os diâmetros do enxerto e do porta-enxerto poderá ser de, no máxi-</p><p>mo, 1 centímetro; tecido amadurecido, ramos sem danos físicos e corte do</p><p>porta-enxerto cicatrizado. As mudas de haste única devem ter idade máxima,</p><p>contada a partir da data de semeadura do porta-enxerto, de 24 meses para</p><p>mudas com interenxertia ou oriundas do porta-enxerto Poncirus trifoliata e</p><p>seus híbridos, ou 18 meses nos demais casos; diâmetro mínimo de 5 milíme-</p><p>tros, medido a 5 centímetros acima do ponto de enxertia.</p><p>As mudas com copa formada devem ter idade máxima de 24 meses, contada</p><p>a partir da data de semeadura do porta-enxerto e diâmetro mínimo de 7 milíme-</p><p>tros, medido a 5 centímetros acima do ponto de enxertia.</p><p>Na fase de pré-comercialização, as mudas de ambas as categorias (“muda”</p><p>e “muda certificada”) deverão apresentar sistema radicular bem desenvolvido,</p><p>com as radicelas ocupando todo ou quase todo o volume do substrato, com, no</p><p>máximo, 5% das mudas com raízes defeituosas.</p><p>Figura 30 – Viveiro de citros a céu aberto, com</p><p>as mudas plantadas diretamente no solo (a);</p><p>porta-enxertos recém-transplantados para</p><p>sacolas de plástico (b); viveiro de citros a céu</p><p>aberto, com as mudas em sacolas, irrigadas por</p><p>aspersão (seta) (c); método de forçamento de</p><p>brotação com encurvamento do porta-enxerto</p><p>com corte parcial (d); método de forçamento</p><p>de brotação com encurvamento do porta-en-</p><p>xerto sem corte; brotação do enxerto (e). bro-</p><p>tação do enxerto (f ); crescimento horizontal</p><p>do enxerto devido à falta de tutoramento da</p><p>muda (g))</p><p>g</p><p>79</p><p>MELHORAMENTO GENÉTICO</p><p>Os objetivos dos programas de melhoramento dos citros diferem em função</p><p>do uso da planta (copa, porta-enxerto ou ornamental), do destino dos frutos</p><p>(mesa ou indústria), e da região de cultivo, considerando que as condições de</p><p>clima, solo e problemas fitossanitários diferem de uma região para</p><p>outra.</p><p>De forma geral, programas de melhoramento visando à obtenção de cultiva-</p><p>res copa, cujos frutos serão destinados a indústria de suco, têm como principais</p><p>objetivos obter plantas com alta produtividade, frutos com alto rendimento de</p><p>suco, bom equilíbrio entre açúcares e acidez, suco com coloração atrativa (ala-</p><p>ranjado), teores elevados de óleos essenciais, plantas sem alternância de produ-</p><p>ção e resistência às principais pragas e doenças. No momento, um dos principais</p><p>objetivos da citricultura brasileira, é a obtenção de cultivares resistentes ou tole-</p><p>rantes ao greening.</p><p>Em programas de melhoramento de cultivares para para consumo de mesa,</p><p>além das características mencionadas anteriormente, a qualidade dos frutos é</p><p>fundamental. A qualidade dos frutos pode ser definida como a combinação de</p><p>seus atributos que são importantes para a sua aceitação pelo consumidor. Per-</p><p>cebe-se, portanto, que o conceito de qualidade é variável, pois a sua percepção</p><p>varia de acordo com os hábitos de cada população ou consumidor. No caso dos</p><p>citros, os principais atributos levados em consideração pelos consumidores para</p><p>definir a qualidade dos frutos são tamanho, rugosidade e espessura da casca,</p><p>ausência de sementes; facilidade de descascar, cor da polpa e da casca e sabor.</p><p>Para o melhoramento de porta-enxertos, busca-se basicamen-</p><p>te obter plantas adaptadas a determinadas características de</p><p>solo (acidez, alcalinidade, umidade, teor de argila, seca), resis-</p><p>tência ou tolerância a patógenos, resistência ou tolerância ao</p><p>frio, vigor e produtividade da parte aérea, qualidade dos frutos</p><p>(tamanho, espessura da casca, teor de suco, sabor do fruto) e</p><p>compatibilidade de enxertia com os principais cultivares copa.</p><p>Na citricultura ornamental, ainda pouco explorada no Brasil, os principais</p><p>objetivos do melhoramento são obter plantas com fase juvenil curta, com fo-</p><p>lhagem atrativa, várias floradas ao ano e produção de frutos pequenos, com cor</p><p>alaranjada intensa, variegados (Figura 31 a) ou com formato exótico, como o ob-</p><p>servado na cidra Mão de Buda (Figura 31 b).</p><p>10</p><p>Õ</p><p>80</p><p>Os principais métodos de melhoramento usados na citricultura são apresen-</p><p>tados neste capítulo.</p><p>1. SELEÇÃO DE MUTAÇÕES</p><p>O melhoramento genético por hibridação de plantas lenhosas perenes,</p><p>como os citros, gerou poucos resultados até o momento, devido a várias caracte-</p><p>rísticas das plantas, que serão descritas posteriormente. Por isso, na citricultura, a</p><p>seleção de mutantes de ocorrência natural é um dos mais importantes métodos</p><p>de melhoramento na citricultura.</p><p>Variações genéticas em células somáticas, conhecidas como mutações de</p><p>gema, ocorrem espontaneamente nos citros e levam à formação de novos genó-</p><p>tipos. Essas mutações são a principal origem de novos cultivares na citricultura,</p><p>pois quando borbulhas provenientes de ramos originados de células mutantes</p><p>são enxertadas, o novo fenótipo é mantido indefinidamente, originando uma</p><p>nova variedade.</p><p>Geralmente, os mutantes são detectados nos pomares pelos citricultores, em</p><p>plantas cujos ramos ou frutos oriundos de mutações apresentam características</p><p>diferentes daquelas que caracterizam o fenótipo da planta que sofreu mutação.</p><p>Estas mutações podem ser responsáveis por alterações nas características ve-</p><p>getativas ou dos frutos, como época de maturação, teores de açúcares e acidez,</p><p>época de maturação frutos, dentre outros. Muitas vezes, essas mutações podem</p><p>passar despercebidas ou ser muito evidentes, como a formação de ramos varie-</p><p>gados (Figura 32).</p><p>Figura 31 – Cunquateiro ornamental, com folhas e frutos variegados (a); Cidreira Mão de Buda,</p><p>usada para fins ornamentais</p><p>a b</p><p>81</p><p>Quase todos os cultivares de citros usados atualmente no mundo foram ob-</p><p>tidos utilizando a seleção de mutantes espontâneos. Diversas laranjeiras doces,</p><p>tangerineiras, pomeleiros, limoeiros, etc. originaram-se dessa forma nas regiões</p><p>de cultivo dos citros. No Japão, a maioria dos clones comerciais de tangerineiras</p><p>satsumas são originários de mutações somáticas espontâneas. Na região Medi-</p><p>terrânea, principalmente na Espanha, são conhecidas várias mutações naturais</p><p>do grupo das tangerineiras clementinas, todos originados da ‘Clementina Fina’.</p><p>Acredita- se que a laranjeira ‘Shamouti’, laranjas sem acidez e pomelos com pol-</p><p>pa cor de rosa são exemplos de cultivares produzidos a partir de seleções de</p><p>quimeras, que é um tipo de mutação.</p><p>Um exemplo clássico de mutações de gema na citricultura é a seleção da</p><p>laranjeira ‘Bahia’, originada a partir de mutação de gema da laranjeira ‘Seleta’.</p><p>Posteriormente, novos mutantes de laranjeiras de Umbigo foram selecionados</p><p>em todo o mundo, como a ‘Baianinha’, ‘Navelina’, ‘Navelate’ e ‘Lanelate’. No Brasil,</p><p>ainda podem ser mencionados os cultivares de laranjeiras ‘Piralima’, ‘Lima Soro-</p><p>caba’ e ‘Lima tardia’ como prováveis mutantes do cultivar ‘Lima’.</p><p>A seleção de mutações apresenta uma série de vantagens em relação a ou-</p><p>tros métodos de melhoramento dos citros, como alta frequência de mutações</p><p>naturais, embora a eficiência da seleção dependa da capacidade de observação</p><p>dos produtores e pesquisadores; ausência de características juvenis nos mutan-</p><p>tes selecionados de plantas adultas no campo e a possibilidade de obter varie-</p><p>dades melhoradas sem alterar as demais características da planta.</p><p>Entretanto, o método apresenta limitações, como: a dificulda-</p><p>de de deteção das mutações no campo; várias mutações são</p><p>instáveis, como alguns tipos de quimeras e, por isso, podem</p><p>não se perpetuar ao longo dos anos; longo tempo para carac-</p><p>terização dos mutantes e risco da presença de vírus nos tecidos</p><p>dos mutantes selecionados. Esse risco advém do fato de que</p><p>os mutantes selecionados serão multiplicados por propagação</p><p>vegetativa, visando à obtenção de mudas do novo cultivar.</p><p>Se a planta que produziu a mutação estiver infectada com vírus, logicamente</p><p>qualquer ramo dessa planta, mutante ou não, estará também infectado. Vírus e</p><p>Õ</p><p>Figura 32 – Laranjeira ‘Valencia’ com brotação de ramo mutan-</p><p>te, com folhas variegadas (seta branca)</p><p>82</p><p>bactérias sistêmicos são disseminados da planta-mãe para as mudas, quando</p><p>se adota qualquer método de propagação vegetativa (enxertia, estaquia, micro-</p><p>propagação) para a produção das mudas.</p><p>Quimeras são dois ou mais tecidos somáticos geneticamente diferentes na</p><p>mesma planta ou no mesmo ramo. Elas surgem por meio de mutações espon-</p><p>tâneas ou induzidas, em uma ou mais células do meristema, onde acontecem.</p><p>As principais etapas do processo de melhoramento dos citros por seleção</p><p>de mutações são as seguintes:</p><p>- Detecção das mutações no campo;</p><p>- Enxertia de gemas das mutações em plantas da variedade original para</p><p>facilitar comparação ou em mudas para avaliação no campo;</p><p>- Avaliação e caracterização das mutações por, pelo menos, cinco anos;</p><p>- Indexação e limpeza clonal (vírus), caso necessário;</p><p>- Avaliação do novo cultivar (mutante) em diversas condições ambientais.</p><p>2. INDUÇÃO DE MUTAÇÕES</p><p>Esse método é apropriado quando o objetivo do melhorista é tentar modi-</p><p>ficar apenas uma ou duas características do genótipo, mantendo as demais. No</p><p>caso dos citros, essa característica do método é importante devido à elevada he-</p><p>terozigose existente, que dificulta a obtenção de progênies com características</p><p>semelhantes às dos genitores quando se usa o melhoramento por hibridação.</p><p>Entretanto, as mutações ocorrem nos tecidos submetidos aos agentes mutagê-</p><p>nicos, ao acaso, não sendo possível ao melhorista escolher a característica a ser</p><p>modificada. Além disso, a maioria das mutações observadas em tecidos subme-</p><p>tidos a agentes mutagênicos produz efeitos indesejados.</p><p>Vários tipos de tecidos podem ser usados como alvo para os agentes mu-</p><p>tagênicos, como pólen (haploide), sementes, células embriogênicas, gemas e</p><p>segmentos de caule. Cada um deles tem vantagens e desvantagens. O uso de</p><p>tecidos multicelulares para indução de mutações, como borbulhas e sementes,</p><p>pode levar à formação de quimeras, o que é indesejável. Por outro lado,</p><p>a exposi-</p><p>ção de células individualizadas a agentes mutagênicos não induz a formação de</p><p>quimeras. Vários agentes mutagênicos podem ser usados, como irradiação com</p><p>raios X, raios gama ou mutagênicos químicos, como metanossulfonato de etila.</p><p>Em 1959, em programa de melhoramento de citrus da Texas A&I University,</p><p>mais de 3.000 sementes de pomelo Hudson, cuja polpa é de cor rosa, foram sub-</p><p>metidas à radiação gama. Seis sementes produziram plantas com frutos com a</p><p>casca de cor laranja, com manchas vermelhas na casca e suco vermelho. Dessas</p><p>plantas, foi selecionada uma cujos frutos apresentavam menos sementes. Ela</p><p>foi lançada como novo cultivar que recebeu o nome de ‘Star Ruby’, conhecido</p><p>e cultivado em todas as regiões do mundo onde os pomeleiros são cultivados,</p><p>inclusive no Brasil.</p><p>As principais etapas do processo de melhoramento dos citros por indução</p><p>de mutações são as seguintes:</p><p>- Tratamento das gemas, sementes, células, etc. com um agente mutagênico,</p><p>físico ou químico.</p><p>- Multiplicação do material tratado por enxertia, no caso de gemas, germina-</p><p>ção no caso de sementes e cultivo in vitro no caso de células.</p><p>- Seleção.</p><p>- Caracterização dos mutantes por um período mínimo de três anos.</p><p>83</p><p>- Avaliação dos novos cultivares (mutantes) em diversas condições ambien-</p><p>tais.</p><p>3. HIBRIDAÇÃO</p><p>Os primeiros trabalhos com hibridação dos citros no mundo foram feitos por</p><p>W. T. Swingle e H. J. Webber, nos Estados Unidos (Flórida), e iniciados em 1893. O</p><p>objetivo do programa era obter plantas resistentes a doenças e tolerância ao frio,</p><p>utilizando o Poncirus trifoliata como fonte resistência. Como as plantas prove-</p><p>nientes dos cruzamentos não produziram frutos com qualidade adequada para</p><p>o consumo, os híbridos foram utilizados como porta-enxertos, sendo que alguns</p><p>deles são utilizados em todo o mundo como os citrangeiros Carrizo e Troyer (lan-</p><p>çados em 1934) e o citrumeleiro ‘Swingle’.</p><p>Posteriormente, o programa de melhoramento americano, conduzido por</p><p>Swingle, Webber e Reece e Gardner, produziu diversos cultivares copa de citros,</p><p>bastante conhecidos em todo o mundo como os tangeleiros ‘Minneola’ e ‘Orlan-</p><p>do’ (pomeleiro ‘Duncan’ x tangerineira ‘Dancy’) em 1930, ‘Robinson’, ‘Osceola’ e</p><p>‘Lee’ (tangerineira clementina x tangeleiro ‘Orlando’), em 1959, ‘Page’ (tangeri-</p><p>neiras clementinas x tangeleiro ‘Minneola’) e ‘Nova’ (tangerineira clementina x</p><p>tangeleiro ‘Orlando’) em 1964.</p><p>O melhoramento dos citros usando os métodos convencionais é limitado,</p><p>devido às características genéticas e reprodutivas das espécies da subfamília Au-</p><p>rantioidea, à qual pertencem os Citrus.</p><p>O período juvenil das plantas é longo, podendo durar vários anos para al-</p><p>gumas espécies, fato que contribui para aumentar o tempo para a obtenção de</p><p>novos cultivares. O modo de herança da maioria das características de interesse</p><p>agronômico é desconhecido, além do sistema de reprodução ser complexo. Há</p><p>vários exemplos da presença de esterilidade (masculina e feminina), autoincom-</p><p>patibilidade, interincompatibilidade, que dificultam programas de melhoramen-</p><p>to usando diversos cultivares, como as laranjeiras de umbigo, pomeleiro ‘Marsh’,</p><p>limeira ‘Tahiti’, tangerineiras satsumas e clementinas.</p><p>A poliembrionia, presente em quase todas as espécies e cultivares de citros,</p><p>dificulta a identificação das plântulas provenientes de embriões nucelares e zi-</p><p>góticos, além da menor sobrevivência dos embriões zigóticos, havendo a neces-</p><p>sidade de serem resgatados e cultivados in vitro antes de abortarem.</p><p>O tamanho relativamente grande das plantas é outro complicador, pois en-</p><p>carece o programa, em virtude da necessidade de maiores áreas para avaliação</p><p>dos híbridos.</p><p>No Brasil, os programas de melhoramento dos citros mais conhecidos são</p><p>o do Centro de Citricultura Sylvio Moreira, situado em Cordeirópolis (SP) e o do</p><p>Centro Nacional de Pesquisa com Mandioca e Fruticultura, da Embrapa, localiza-</p><p>do em Cruz das Almas (BA).</p><p>4. OBTENÇÃO DE POLIPLOIDES</p><p>São denominadas de poliploides as plantas com três ou mais conjuntos cro-</p><p>mossômicos completos. Com exceção de poucos cultivares, como a limeira ácida</p><p>Tahiti (Citrus latifolia), que é triploide (2n=3x=27), as espécies do gênero Citrus</p><p>são diploides (2n=2x=18) - embora triploides e tetraploides possam ser produ-</p><p>zidos espontaneamente. No caso dos triploides, nos citros eles são produzidos</p><p>pela fecundação de óvulos, cujo número de cromossomos durante a meiose não</p><p>84</p><p>foi reduzido, pelo gameta masculino haploide. Tetraploides espontâneos podem</p><p>ocorrer a partir de sementes poliembriônicas devido à duplicação do número de</p><p>cromossomos dos tecidos nucelares do ovário.</p><p>O principal objetivo dos programas de melhoramento de citros que traba-</p><p>lham com poliploides é a obtenção de cultivares triploides, cujo interesse se</p><p>deve à ausência de sementes nos frutos, que é uma característica muito valori-</p><p>zada pelos consumidores. A ausência de sementes aumenta o valor de mercado</p><p>dos frutos e facilita a sua comercialização.</p><p>Os triploides podem ser obtidos pelo cruzamento entre diploides e tetraploi-</p><p>des ou a partir da busca de triploides espontâneos em sementes provenientes</p><p>de hibridação entre diploides. A ocorrência espontânea de triploides a partir de</p><p>genitores diploides depende do cultivar e condições ambientais. Por isso, a fre-</p><p>quência com que os triploides são formados pode variar de 1% a 15%.</p><p>As principais etapas do processo de melhoramento dos citros por hibridação</p><p>são as seguintes:</p><p>- Emasculação das flores;</p><p>- Polinização;</p><p>- Obtenção das sementes híbridas;</p><p>- Isolamento e cultivo in vitro dos embriões zigóticos de espécies poliem bri-</p><p>ônicas;</p><p>- Desenvolvimento dos híbridos;</p><p>- Enxertia em porta-enxertos vigorosos;</p><p>- Cultivo durante vários anos até o desaparecimento das características ju-</p><p>venis;</p><p>- Seleção dos híbridos;</p><p>- Avaliação dos híbridos em diversas condições ambientais.</p><p>5. BIOTECNOLOGIA</p><p>Técnicas da biotecnologia, como multiplicação in vitro e biologia molecular,</p><p>abrem novas possibilidades para auxiliar na superação das dificuldades</p><p>encontradas nos programas tradicionais de melhoramento. Com elas é possível</p><p>a obtenção de haploides e poliploides, úteis para a produção de triploides sem</p><p>sementes; transformação genética com vários objetivos, como introdução</p><p>de genes para resistência a patógenos em cultivares comerciais suscetíveis e</p><p>microenxertia in vitro para limpeza clonal (produção de plantas livres de vírus),</p><p>entre outros.</p><p>à dilui-</p><p>ção, devido ao aumento na quantidade de água do suco dos frutos.</p><p>Entre as vitaminas, a que mais se destaca nos citros é a vitamina C ou ácido</p><p>ascórbico. Embora existam outras espécies de frutas com teores superiores de</p><p>vitamina C, os frutos dos citros são a fonte mais barata e de mais fácil acesso pela</p><p>população, além de ser consumidos em larga escala.</p><p>A distribuição da vitamina C é irregular no fruto, havendo maior concentra-</p><p>ção na casca do que no suco - nesse local, pode ser cinco ou sete vezes maior</p><p>do que no suco. A parte comestível, que é a polpa, contém somente 25% da</p><p>vitamina C total do fruto.</p><p>O máximo conteúdo de vitamina C nos frutos ocorre no início do amadure-</p><p>cimento, permanecendo relativamente constante a partir desse ponto. A con-</p><p>centração de vitamina C nos frutos dos citros depende muito da espécie e do</p><p>cultivar. Em laranjas, ela varia entre 50 e 60 mg por 100 g de suco (Tabela 7).</p><p>A composição da fração mineral do suco tem as mesmas características es-</p><p>peradas de qualquer órgão da planta que recebe nutrientes pelo floema e não</p><p>pelo xilema. Como a seiva do floema é rica em potássio, que é o cátion presente</p><p>mais abundante, os órgãos das plantas supridos preferencialmente pela seiva do</p><p>floema, como os frutos, são ricos em potássio e pobre em cálcio (Tabela 7).</p><p>As substâncias nitrogenadas representam 1% do volume de suco (Tabela 7),</p><p>podendo ser considerado um valor alto, quando comparado aos teores de áci-</p><p>dos, mas muito baixo em comparação a qualquer alimento de origem animal e</p><p>a alguns vegetais, como as leguminosas, espinafre, couve e brócolis. Os lipídios</p><p>representam apenas 0,2% e as cinzas entre 0,3 e 0,4% da massa do suco.</p><p>Na composição das frutas dos citros existem ainda centenas de substâncias</p><p>na casca dos frutos e dissolvidas no suco. Até o momento foram identificadas</p><p>mais de 400 substâncias diferentes no suco de laranjas. Entre elas, estão os flavo-</p><p>noides, carotenoides, vitaminas, minerais, etc. Entretanto, a maior parte dessas</p><p>substâncias é volátil, sendo as responsáveis pelo aroma dos frutos.</p><p>Devido à riqueza da composição química, os citros são alimen-</p><p>tos importantes para a saúde humana, havendo na literatura</p><p>internacional dezenas de artigos publicados sobre o efeito dos</p><p>citros sobre a saúde. Entre as propriedades dos citros, mere-</p><p>cem ser citadas as antioxidantes, que previnem enfermidades</p><p>degenerativas associadas à idade, como câncer e doenças car-</p><p>diovasculares, além de terem propriedades anti-inflamatórias</p><p>e antialérgicas. Entre as substâncias antioxidantes, estão a vi-</p><p>tamina C, carotenoides e flavonoides.</p><p>Õ</p><p>15</p><p>Tabela 7. Composição média do suco de laranja</p><p>Componente Quantidade/ 100g de suco</p><p>Água (g)</p><p>Proteínas (g)</p><p>Lipídios (g)</p><p>Carboidratos (g)</p><p>Calorias (kcal)</p><p>Vitamina A (U.I. )</p><p>Vitamina B1 (mg)</p><p>Vitamina B2 (mg)</p><p>Vitamina B6 (mg)</p><p>Ácido nicotínico (mg)</p><p>Ácido pantotênico (mg)</p><p>Vitamina C (mg)</p><p>Ácido cítrico (mg)</p><p>Ácido oxálico (mg)</p><p>Sódio (mg)</p><p>Potássio (mg)</p><p>Cálcio (mg)</p><p>Magnésio (mg)</p><p>Manganês (mg)</p><p>Ferro (mg)</p><p>Cobre (mg)</p><p>Fósforo (mg)</p><p>Enxofre (mg)</p><p>Cloro (mg)</p><p>87,10</p><p>1,00</p><p>0,29</p><p>12,20</p><p>49</p><p>190-400</p><p>0,1</p><p>0,03</p><p>0,03</p><p>0,2</p><p>0,2</p><p>35-56</p><p>980</p><p>24</p><p>1,7</p><p>179</p><p>11,5</p><p>11,5</p><p>0,02</p><p>0,3</p><p>0,07</p><p>21.7</p><p>4,6</p><p>1,2</p><p>3. PRODUTOS E SUBPRODUTOS DOS FRUTOS DOS CITROS</p><p>No Brasil, a principal forma de consumo dos frutos dos citros é in natura ou</p><p>na forma de suco fresco, devido à facilidade de acesso da população às frutas em</p><p>qualquer região do país. Entretanto, em muitos países que não cultivam citros</p><p>ou cuja produção não é suficiente para atender à demanda do mercado, o suco</p><p>processado é o produto mais consumido.</p><p>Existem basicamente dois tipos de suco: o concentrado congelado (Frozen</p><p>Concentrated Orange Juice - FCOJ), cuja água é removida via calor do suco natu-</p><p>ral até a concentração de 66°Brix, e o não concentrado (Not From Concentrate -</p><p>NFC), em que o suco é pasteurizado, sem a retirada de água. Em função da forma</p><p>de preparo, esse suco apresenta poucas alterações nas características naturais,</p><p>como sabor e aroma. Por isso, sua exportação está aumentando em detrimento</p><p>do FCOJ, embora o FCOJ tenha 13 vantagens, como maior facilidade e menores</p><p>custos para o transporte e armazenamento, devido a menor quantidade de água</p><p>na composição.</p><p>Todas as partes dos frutos usados para a produção de suco de laranja são</p><p>aproveitadas. Além do suco, existem outros componentes da laranja, conheci-</p><p>dos como subprodutos, que também são usados comercialmente. Os principais</p><p>subprodutos do processamento industrial de suco são o óleo essencial, o limo-</p><p>neno ou terpeno cítrico e o farelo da polpa.</p><p>Os óleos essenciais são óleos voláteis que são retirados da casca das frutas.</p><p>Eles têm maior aplicação nas indústrias alimentícia e farmacêutica. Podem ser</p><p>usados para dar sabor em bebidas, sorvetes e outros alimentos. Além disso, são</p><p>usados para a fabricação de medicamentos e cosméticos, como sabonetes e</p><p>Fonte: Naranja Y salud (1999)</p><p>16</p><p>perfumes. São utilizados ainda pelas indústrias de produtos de limpeza.</p><p>O limoneno é um líquido incolor, que resulta da destilação do líquido obtido</p><p>pela prensagem da casca, bagaço e sementes, após a extração do suco. É usado</p><p>como solvente industrial e também pelas indústrias farmacêutica e alimentícia</p><p>como componente aromático e para dar sabor a alimentos.</p><p>O farelo de casca de laranja é obtido por meio da secagem e peletização</p><p>das cascas, sementes e polpas, que equivalem a aproximadamente 50% do peso</p><p>da fruta. É usado como complemento para a ração animal, principalmente para</p><p>bovinos.</p><p>Frutos dos citros preparados usando técnicas do processamento mínimo é</p><p>outra forma interessante de consumo e muito pouco explorada no Brasil. Além</p><p>de agregar valor ao produto, o processamento mínimo é importante por ofere-</p><p>cer produtos frescos e adequados à sociedade moderna, que busca alimentos</p><p>saudáveis e fáceis de consumir. Além do consumo familiar ou individual, laranjas</p><p>ou tangerinas minimamente processadas são adequadas para consumo em es-</p><p>colas, hospitais, restaurantes e lojas de fast food.</p><p>Geralmente, não há perda de qualidade dos frutos minimamente processa-</p><p>dos em relação aos frutos frescos, desde que o processamento seja feito de for-</p><p>ma correta, entretanto. É importante destacar que o processamento mínimo não</p><p>é uma atividade simples, já que o produto, além de manter a qualidade, tem que</p><p>ser produzido de forma higiênica.</p><p>Os principais fatores responsáveis pela qualidade dos frutos minimamente</p><p>processados são a temperatura e a atmosfera no interior da embalagem, porque</p><p>são eles que determinam a velocidade de degradação dos frutos.</p><p>O processamento mínimo de frutos dos citros consiste basicamente em des-</p><p>cascar os frutos, removendo flavedo e albedo para obtenção da polpa, que pode</p><p>ser dividida em fatias ou em gomos. Em seguida, a polpa dividida é lavada com</p><p>água contendo produtos microbicidas. O objetivo é sanitizar o produto e eli-</p><p>minar o suco acumulado nos locais de corte, que por estar exposto, favorece a</p><p>degradação do produto. Após serem lavados, os gomos ou as fatias devem ser</p><p>rigorosamente secos para evitar o desenvolvimento de microrganismos. Por últi-</p><p>mo, o produto deve ser colocado na embalagem, geralmente bandejas, e depois</p><p>selados com plástico transparente.</p><p>17</p><p>TAXONOMIA</p><p>No grupo de plantas denominado citros (termo coletivo, estão incluídas al-</p><p>gumas espécies que não pertencem ao gênero Citrus, como Fortunella, Poncirus</p><p>trifoliata e híbridos. Todos pertencem à família Rutaceae, subfamília Aurantio-</p><p>ideae, cujas características principais são: ovário apoiado sobre o disco floral</p><p>(nectário), presença de pontos translúcidos (transparentes) nas folhas, que cor-</p><p>respondem às glândulas de óleo e frutos com placentação axial, que se caracte-</p><p>riza pela disposição dos óvulos ao longo do eixo do ovário multilocular.</p><p>Os frutos são classificados como hesperídios, que são considerados um tipo</p><p>especial de baga, cujo epicarpo é coriáceo, com numerosas glândulas de óleo. O</p><p>endocarpo é membranáceo, dividido em gomos e</p><p>revestido internamente por</p><p>numerosos pelos suculentos que constituem a parte comestível.</p><p>No Brasil, o cultivo e o estudo das plantas dos citros recebem o nome de</p><p>citricultura. Na Tabela 8 podem ser consultados os nomes dados aos citros e à</p><p>citricult ura em cinco diferentes idiomas.</p><p>Tabela 8. Nomes atribuídos às plantas e ao cultivo dos citros em vários</p><p>idiomas</p><p>Idioma Plantas Cultivo</p><p>Português</p><p>Inglês</p><p>Espanhol</p><p>Italiano</p><p>Francês</p><p>Citros</p><p>Citrus</p><p>Agrios, cítricos</p><p>Agrumi</p><p>Agrumes</p><p>Citricultura</p><p>Citrus industry</p><p>Citricultura</p><p>Agrumiccoltura</p><p>Agrumiculture</p><p>As plantas do gênero Fortunella produzem frutos que são conhecidos como</p><p>cunquates, kinkans ou ainda laranjinha da China. Os cunquateiros são usados</p><p>como plantas ornamentais, para consumo in natura dos frutos, cuja forma de</p><p>consumo difere dos demais citros: a parte comestível é a casca, e a polpa é des-</p><p>cartada, devido à acidez excessiva, exceto do cultivar ‘Meiwa’, cujos frutos po-</p><p>dem ser consumidos totalmente. São usados principalmente para a fabricação</p><p>de doces e geleias.</p><p>Existem duas espécies principais de cunquates que são utilizadas comercial-</p><p>mente: a Fortunella margarita (cunquate oval ou Nagami) e Fortunella japônica</p><p>(cunquate redondo ou Marumi).</p><p>O cunquateiro Nagami é uma planta arbustiva, com altura variando em tor-</p><p>no de 2,5 a 4,5 metros, bastante ramificada, com ramos finos de cor verde clara.</p><p>As folhas são de cor verde escuro e formato lanceolado. A planta produz flores</p><p>brancas, que podem estar isoladas ou agrupadas em cachos. Os frutos são ovais,</p><p>medindo até 4,5 cm de comprimento por 3 cm de diâmetro, com peso varian-</p><p>03</p><p>18</p><p>do de 5 a 20 gramas. Apresentam casca lisa, brilhante, de coloração alaranjada,</p><p>quando maduros, glândulas de óleo grandes e bem evidentes. O sabor do fruto</p><p>é mais pronunciado do que o das demais espécies de cunquateiros. Os frutos</p><p>têm 4-5 segmentos (gomos), com 2-5 sementes por fruto e o sabor do suco é</p><p>ácido.</p><p>O cunquateiro Marumi é semelhante ao Nagami, porém, com folhas meno-</p><p>res. Os frutos são redondos ou levemente ovais, mas de menor tamanho, pesan-</p><p>do em torno de 10-12 gramas. A casca do fruto é lisa, de coloração alaranjada,</p><p>porém, mais fina e mais doce. Os frutos têm 6-7 segmentos e 3-6 sementes por</p><p>fruto (números superiores aos apresentados pelo Nagami).</p><p>Existe outro cunquateiro, pouco conhecido fora do Oriente, cujo nome é</p><p>‘Meiwa’ (Fortunella crassifolia Swingle), que é muito apreciado para o consumo in</p><p>natura, devido aos frutos serem mais doces do que os dos outros cultivares. Os</p><p>frutos são levemente ovais a redondos, com comprimento em torno de três cm</p><p>e diâmetro de 2,5 cm. Apresenta casca lisa, albedo espesso e praticamente não</p><p>tem suco.</p><p>O gênero Poncirus tem apenas uma espécie (P. trifoliata). Entretanto, há vá-</p><p>rios clones, que diferem entre si quanto ao hábito de crescimento, à morfologia</p><p>e aos efeitos sobre a variedade copa, quando são usados como porta-enxertos.</p><p>Os principais clones são ‘Barnes’, ‘Benecke’, Pomeroy, ‘Limeira’, ‘Rubidoux’, ‘Flying</p><p>Dragon’ (P. trifoliata var monstrosa)</p><p>As plantas de Poncirus são caducifólias e tolerantes ao frio. Por isso, são utili-</p><p>zadas como porta-enxertos em países situados em maiores latitudes, com inver-</p><p>nos mais rigorosos, como o Japão. Lá, ele normalmente é enxertado com copa</p><p>de tangerineiras Satsumas, que estão entre as plantas do gênero Citrus mais to-</p><p>lerantes ao frio. No Brasil, são utilizados principalmente no Rio Grande do Sul.</p><p>Plantas do gênero Poncirus produzem frutos impróprios para o consumo.</p><p>Além do uso como porta-enxertos, também podem ser usadas como cerca viva,</p><p>devido aos espinhos longos e resistentes.</p><p>A taxonomia dos citros é complexa e controvertida, principalmente das es-</p><p>pécies que constituem o gênero Citrus, devido à grande diversidade observada</p><p>entre as plantas. Essa diversidade surgiu ao longo dos séculos de cultivo, ori-</p><p>ginada de mutações e de cruzamentos intervarietais, interespecíficos e inter-</p><p>genéricos, pois as espécies do gênero Citrus e afins se cruzam com facilidade.</p><p>Geralmente, os novos indivíduos produzidos são perpetuados pela embrionia</p><p>nucelar, que permite a produção de plantas geneticamente iguais à planta mãe,</p><p>por via seminífera.</p><p>Devido a esse fato, vários sistemas de taxonomia para o gênero Citrus foram</p><p>e têm sido propostos. Esses sistemas diferem entre si principalmente quanto ao</p><p>número de espécies que compõem os vários gêneros. Hoocker (1875) classifi-</p><p>cou o gênero Citrus em somente quatro espécies; Engler (1931) propôs 11 es-</p><p>pécies; Swingle (1943), 16 espécies, e Tanaka (1961) 159 espécies. Os sistemas</p><p>basearam-se nas características morfológicas e no suposto local de origem das</p><p>espécies para sua classificação.</p><p>As diferenças com relação ao número de espécies existentes entre os siste-</p><p>mas de Swingle e Tanaka são explicadas pelo fato de que Swingle considerou</p><p>vários grupos de plantas do gênero Citrus como híbridos, enquanto Tanaka os</p><p>considerou como espécies verdadeiras. Por exemplo, Swingle classificou todas</p><p>as tangerineiras como pertencentes à espécie Citrus reticulata, enquanto Tanaka</p><p>as classificou em 35 espécies diferentes.</p><p>Embora os sistemas de Swingle e Tanaka sejam mais usados atualmente,</p><p>pesquisas mais recentes realizadas, baseadas em estudos químicos, bioquími-</p><p>cos, morfológicos e moleculares indicam números de espécies para os Citrus,</p><p>diferentes dos descritos anteriormente. Esses estudos sugerem a existência de</p><p>19</p><p>apenas três espécies válidas ou verdadeiras. Elas são Citrus medica (cidras), Citrus</p><p>reticulata (tangerinas) e Citrus maxima (toranjas).</p><p>Segundo a classificação de Swingle, o gênero Citrus é dividido em dois</p><p>subgêneros: Citrus e Papeda. O subgênero Citrus inclui 10 espécies, das quais</p><p>oito cultivadas, e o Papeda inclui seis espécies não cultivadas.</p><p>As oito espécies cultivadas do gênero Citrus são: Citrus sinensis (L.) Osbeck</p><p>(laranjas doces), Citrus aurantium L. (laranjas azedas), Citrus reticulata Blanco</p><p>(tangerinas), Citrus paradisi Macf (pomelos), Citrus aurantifolia (Christm.) Swing.</p><p>(limas ácidas), Citrus limon (L.) Burm (limões verdadeiros), Citrus medica L. (cidras)</p><p>e Citrus grandis, atualmente classificada como Citrus maxima (L.) Osbeck (toran-</p><p>jas).</p><p>Devido à facilidade de hibridação entre os Citrus e afins, existe um número</p><p>considerável de híbridos interespecíficos e intergenéricos, que são incomuns em</p><p>plantas de outros gêneros. Esses híbridos foram originados de hibridações natu-</p><p>rais ou obtidos em programas de melhoramento e são usados para a produção</p><p>de frutos ou como porta-enxertos, como é o caso dos citrangeiros e citrumelei-</p><p>ros.</p><p>Como exemplos de híbridos, podem ser citados os tangores (Citrus reticulata</p><p>Blanco x Citrus sinensis (L.) Osb.), tangeleiros (Citrus reticulata Blanco x Citrus</p><p>paradisi Macf.), citrangeiros (Citrus sinensis (L.) Osb. x Poncirus trifoliata (L.) Raf.)</p><p>citrumeleiros (Citrus paradisi Macf. x Poncirus trifoliata (L.) Raf.), orangeleiros</p><p>(Citrus paradisi Macf. x Citrus sinensis (L.) Osb.).</p><p>20</p><p>MORFOLOGIA</p><p>As plantas dos citros cultivadas comercialmente são compostas por dois ge-</p><p>nótipos, que unidos pela enxertia, formam duas partes: a superior, que inclui</p><p>parte do tronco, ramos, folhas e frutos, é denominada “copa”. Já a parte inferior,</p><p>que também é formada por parte do tronco, geralmente pelos primeiros 15 cen-</p><p>tímetros a partir do nível do solo e também pelas raízes, é denominada “porta-</p><p>-enxerto”.</p><p>Sementes de citros originam plantas que têm uma raiz pivotante caracte-</p><p>rística. Entretanto, em pomares comerciais, as raízes das plantas diferem desse</p><p>padrão, devido às podas efetuadas nas raízes durante o processo de produção</p><p>e plantio das mudas. Por isso, o sistema radicular é formado por algumas raízes</p><p>principais (geralmente duas a três), que fixam a planta ao solo e alcançam a pro-</p><p>fundidade de vários metros, dependendo do porta-enxerto e das características</p><p>do solo (Figura 1). A ramificação sucessiva origina raízes cada vez mais finas, até</p><p>formar as radicelas, que são as</p><p>raízes responsáveis pela absorção de água e nu-</p><p>trientes.</p><p>O crescimento em profundidade das raízes é importante, pois a planta adul-</p><p>ta deve suportar todos os seus órgãos vegetativos, além da carga de frutos. En-</p><p>tretanto, o crescimento depende de vários fatores, como as espécies de copa e</p><p>porta-enxertos utilizados, idade da planta, carga de frutos, densidade de plantio,</p><p>clima, pragas, doenças, podas, métodos de cultivo, classe e fertilidade do solo e</p><p>quantidade e localização da umidade.</p><p>Entre os principais fatores que determinam o crescimento das raízes dos ci-</p><p>tros, está a textura do solo. Em solos argilosos, o crescimento das raízes é limi-</p><p>tado, tanto em profundidade como lateralmente, enquanto que, em solos de</p><p>04</p><p>Figura 1. Sistema radicular de laranjeira enxertada, mostrando</p><p>inexistência de uma raiz pivotante, em função do sistema usado</p><p>para a produção e plantio das mudas</p><p>21</p><p>textura média ou arenosos, o crescimento é mais pronunciado.</p><p>As radicelas dos citros se localizam, em sua maioria, na camada superficial</p><p>do solo, havendo várias pesquisas que apontam que cerca de 60% do sistema</p><p>radicular das plantas está na profundidade de 0−0,20 m, e 90% entre 0 e 0,40</p><p>m. Esse manejo da cultura é importante, principalmente no que diz respeito ao</p><p>uso de implementos que revolvem o solo, pois os implementos podem romper</p><p>raízes, favorecendo doenças e reduzindo o volume de raízes responsáveis pela</p><p>absorção de água e nutrientes. Além disso, o conhecimento da distribuição do</p><p>sistema radicular da cultura no solo permite aumentar a eficiência de várias prá-</p><p>ticas culturais, como adubação, irrigação e manejo do solo, visando ao controle</p><p>de plantas daninhas.</p><p>O tronco dos citros é ereto e cilíndrico, sendo que nas plantas</p><p>empregadas para o plantio de pomares comerciais, apresenta</p><p>altura variando entre 30 a 70 cm, dependendo da altura em</p><p>que foi feita a poda de formação da copa.</p><p>O tronco tem a função de sustentar a parte aérea da planta e conectá-la com</p><p>o sistema radicular, conduzindo água, nutrientes, produtos da fotossíntese e</p><p>hormônios. É nele que se encontra a região da enxertia. Em função das caracte-</p><p>rísticas genéticas do porta-enxerto e da copa, o diâmetro do tronco do cultivar</p><p>copa, na região da enxertia, pode ser semelhante, (Figura 2 a) menor (Figura 2</p><p>b) ou maior (Figura 2 c) que o diâmetro do tronco do porta-enxerto. A primeira</p><p>situação apresentada é considerada normal. As demais são descritas como sin-</p><p>tomas de incompatibilidade de enxertia, embora várias combinações de porta-</p><p>-enxerto/copa com essa característica sejam economicamente viáveis. Como</p><p>exemplo, há a enxertia de plantas do gênero Citrus, com exceção da laranjeira</p><p>‘Pêra’ e limões, sobre Poncirus trifoliata e seus híbridos, no quais o diâmetro do</p><p>porta-enxerto sempre é nitidamente superior ao do enxerto.</p><p>Como no tronco da planta estão os feixes vasculares que permitem o fluxo</p><p>de seiva das raízes para a copa e vice-versa, injúrias causadas por pragas, doen-</p><p>ças e danos mecânicos nessa parte podem trazer prejuízos ao crescimento, pro-</p><p>dução de frutos ou mesmo matar as plantas, como ocorre no caso da gomose</p><p>de Phytophthora.</p><p>A ramificação do caule principal origina várias brotações, cuja altura e ân-</p><p>Õ</p><p>Figura 2. (a) Diâmetro do porta-enxerto e da copa semelhantes (tan-</p><p>gerineira ‘Poncã’ enxertada em limoeiro Cravo); (b) diâmetro do porta-</p><p>-enxerto superior ao da copa (tangerineira ‘Poncã’ enxertada sobre ci-</p><p>trumeleiro ‘Swingle’); (c) diâmetro do porta-enxerto inferior ao da copa</p><p>(trifoliata ‘Flying Dragon’ enxertado sobre limoeiro Cravo)</p><p>a b c</p><p>22</p><p>gulo de inserção dependem da espécie e cultivar. Essas brotações vão originar</p><p>ramos que serão responsáveis pela sustentação de todos os demais da planta. A</p><p>partir dos ramos primários são formados os secundários e assim, sucessivamen-</p><p>te, até a formação dos ramos vegetativos e reprodutivos terminais. Plantas de</p><p>citros oriundas de semente (seedlings) apresentam um período juvenil relativa-</p><p>mente longo, variando de 4 a 8 anos a partir da germinação das sementes, cujo</p><p>tempo depende da espécie e da variedade. São mais curtos para tangerineiras,</p><p>intermediários para limoeiros e mais longos para laranjeiras. Plantas de citros</p><p>juvenis apresentam hábito de crescimento ereto, espinhos longos e, em grande</p><p>número (Figura 3 a), tendência a alternância de produção e distribuição desigual</p><p>dos frutos na copa, nos primeiros anos de produção.</p><p>Ramos jovens dos citros são de cor verde claro, apresentando quinas proemi-</p><p>nentes, devido a crescimentos desiguais, que se iniciam na base de cada pecíolo.</p><p>Essas quinas originam uma seção, quando o ramo é cortado transversalmente</p><p>(Figura 3 b). Com o desenvolvimento, os ramos se tornam cilíndricos e com colo-</p><p>ração acinzentada ou castanha (Figura 3 c), sendo possível visualizar claramente</p><p>a separação entre os surtos de crescimento.</p><p>Nos citros, geralmente observa-se a ocorrência de ramos modificados (espi-</p><p>nhos), que se inserem nas axilas das folhas. A região do ramo onde se inserem</p><p>as folhas, gemas e espinhos recebe o nome de nó (Figura 3 d). A quantidade e</p><p>vigor dos espinhos dependem da espécie, cultivar, idade da planta e grau de</p><p>juvenilidade. Quanto mais juvenil, maior o número e vigor dos espinhos (Figura</p><p>3 a). Os espinhos dificultam a execução de determinadas práticas, tanto na fase</p><p>de produção das mudas quanto no campo, como a colheita dos frutos. A limeira</p><p>ácida ‘Galego’ (Citrus aurantifolia) é um cultivar que se caracteriza por apresentar</p><p>numerosos e agudos espinhos nas axilas das folhas, medindo em torno de 1 cm</p><p>de comprimento. A pulverização de ácido giberélico em porta-enxertos de citros</p><p>pode induzir ao surgimento de folhas e brotações em espinhos, que se transfor-</p><p>mam em ramos vegetativos. Esse fato foi observado em porta-enxertos de limo-</p><p>eiro ‘Volcameriano’, pulverizados com ácido giberélico aplicado na concentração</p><p>de 20 g do ingrediente ativo por litro.</p><p>As folhas dos citros são de cor verdes claro quando novas e verdes escuras</p><p>quando amadurecem. Com exceção do Poncirus trifoliata, cujas plantas são ca-</p><p>ducifólias, os citros são plantas perenifólias, portanto, não se adaptam a regiões</p><p>com inverno rigoroso.</p><p>Existe uma variabilidade considerável entre espécies e cultivares de citros</p><p>quanto à forma e tamanho das folhas (Figura 3 e), que são aparentemente sim-</p><p>ples, mas botanicamente são consideradas folhas compostas unifoliadas que</p><p>perderam os folíolos durante a evolução das espécies. Na maioria das espécies</p><p>de Citrus, o pecíolo das folhas é alado, cuja presença é útil na taxonomia de es-</p><p>pécies e reconhecimento de cultivares. Por exemplo, em folhas de pomeleiros</p><p>e toranjeiras, as asas são proeminentes e nas laranjeiras elas são pequenas e</p><p>ausentes nos limoeiros (Figura 3 f ). Plantas de Poncirus trifoliata e híbridos têm</p><p>folhas compostas por três folíolos, tornando fácil sua identificação em viveiros e</p><p>nos campos de produção de sementes de porta-enxertos (Figura 3 e).</p><p>As folhas dos citros são distribuídas em espiral em torno do caule, cuja di-</p><p>reção é revertida a cada fluxo. A filotaxia é 3/8 para a maioria das espécies, en-</p><p>tretanto, as toranjas e pomelos apresentam filotaxia de 2/5. A distribuição das</p><p>folhas nos ramos é importante para que haja melhor captação da luz solar inci-</p><p>dente.</p><p>23</p><p>As flores dos citros são hermafroditas, entretanto há espécies como Citrus</p><p>medica (cidra) e Citrus limon (limões), que produzem flores masculinas devido</p><p>ao abortamento do pistilo (Figura 4 a). Têm de três a cinco sépalas de coloração</p><p>verde, de três a cinco pétalas de cor branca ou púrpura (limões, cidras), sendo</p><p>que cinco é o número mais comum para ambas (Figura 4 b). Os estames variam</p><p>entre 20 e 40, soldados pela base em grupos de três a quatro (Figura 4 c). As</p><p>anteras apresentam grãos de pólen amarelos brilhantes, que são transportados</p><p>por insetos, principalmente abelhas. Há cultivares que são estéreis, como a li-</p><p>meira ‘Tahiti’, cujas flores não produzem pólen e laranjeiras de</p><p>umbigo (‘Bahia’),</p><p>cuja produção de pólen é muito pequena. O pistilo é formado pela união de</p><p>vários carpelos, com o ovário situando-se na sua base e o estigma no seu ápi-</p><p>ce. Durante certo período, o estigma apresenta um fluido viscoso no seu ápice</p><p>para facilitar a aderência, hidratação e germinação dos grãos de pólen (Figura 4</p><p>d). Há diversos cultivares que apresentam esterilidade feminina, por defeito na</p><p>formação do saco embrionário, sendo relatada sua presença em cultivares de</p><p>tangerineiras do grupo das satsumas e nas laranjeiras de umbigo.</p><p>Figura 3. (a) Ramos de citros de planta juvenil, com espinhos longos; (b) ramo jovem de laranjeira,</p><p>com quinas proeminentes devido ao crescimento desigual que se inicia na base de cada pecíolo.</p><p>Essas quinas originam uma seção triangular quando o ramo é cortado transversalmente; (c) ramo</p><p>maduro de laranjeira com caule cilíndrico e folhas de cor verde escuro; (d) nó, formado pelo con-</p><p>junto de gema, espinho, e folhas; (e) folhas de citros com diversos tamanhos, formatos e caracte-</p><p>rísticas das asas no pecíolo; (f ) ramo novo de citros, mostrando a distribuição das folhas</p><p>a b</p><p>c d</p><p>e f</p><p>24</p><p>Figura 4 – (a) Flor estaminada de limoeiro (Citrus limon), com as pétalas púrpu-</p><p>ras do lado externo; (b) flor de Poncirus trifoliata, com cinco pétalas brancas; (c)</p><p>flor de laranjeira mostrando os estames em grupos de três, soldados pela base;</p><p>(d) detalhe das anteras de coloração amarela e ápice do estigma, mostrando a</p><p>presença de líquido viscoso que favorece a adesão dos grãos de pólen</p><p>Os frutos são classificados como hesperídios, um tipo especial de baga, for-</p><p>mada pelo epicarpo ou flavedo (parte externa, pigmentada), pelo mesocarpo ou</p><p>albedo (tecido normalmente branco, esponjoso), que praticamente não existe</p><p>em tangerinas maduras, e pelo endocarpo (gomos ou segmentos) (Figura 5). A</p><p>casca dos frutos é formada pelo exocarpo e o mesocarpo.</p><p>O flavedo (Figura 5 a) é glabro em todas as espécies cítricas, com exceção</p><p>dos frutos de Poncirus trifoliata, que são pubescentes. O flavedo é formado por</p><p>algumas camadas de células parenquimáticas, com formato tabular, compactas</p><p>e cobertas pela cutícula. Abaixo dessas células, estão algumas camadas de cé-</p><p>lulas globosas. Nelas se observa a presença de glândulas de óleo essencial, cuja</p><p>composição química é complexa. Podem existir mais de 300 componentes quí-</p><p>micos diferentes, cuja maioria é volátil, são responsáveis pelo aroma da casca</p><p>dos frutos. São utilizados na indústria química, perfumaria, alimentos, produtos</p><p>de limpeza e medicamentos. A composição dos óleos essenciais, também pre-</p><p>sentes nas folhas, depende da espécie, da variedade e de fatores climáticos. Nos</p><p>frutos imaturos, o flavedo contém cloroplastos e estômatos funcionais, o que</p><p>lhes confere certa capacidade fotossintética.</p><p>Durante a maturação dos frutos, os cloroplastos são gradualmente transfor-</p><p>mados em cromoplastos, ricos em carotenoides, que são responsáveis pela co-</p><p>loração amarela ou laranja dos frutos. As laranjas sanguíneas apresentam outros</p><p>pigmentos, como as antocianinas, que são responsáveis pela coloração averme-</p><p>lhada do suco e, às vezes, da casca. A elas são atribuídas propriedades medi-</p><p>cinais, como ação anti-inflamatória, hormonal, anti-hemorrágica, antialérgica e</p><p>anticancerígena.</p><p>O mesocarpo (albedo) é de cor branca, cuja espessura e consistência variam</p><p>de acordo com a idade dos frutos e com a espécie (Figura 5 b). Na fase inicial do</p><p>crescimento dos frutos (divisão celular), as células estão intimamente ligadas en-</p><p>a b</p><p>c d</p><p>25</p><p>tre si, formando um tecido compacto e o albedo é espesso. Na fase de expansão</p><p>celular, inicia-se a formação de espaços celulares, que vão aumentando com a</p><p>idade dos frutos. Em frutos maduros, o albedo é formado por células grandes,</p><p>com grandes espaços intercelulares, que tornam o tecido esponjoso. Nessa fase,</p><p>o albedo é mais fino devido ao aumento do volume de suco nas vesículas, que</p><p>pressiona a casca de dentro para fora, tornando-a mais lisa e fina.</p><p>Quanto à variação das características do albedo em função da espécie, cons-</p><p>tata-se que é bastante espesso e compacto nas cidras (Citrus medica), espesso e</p><p>esponjoso nas toranjas (Citrus grandis), chegando a medir de 2 a 3 centímetros,</p><p>intermediário em laranjas (Citrus sinensis), fino em limas ácidas e doces (Citrus</p><p>aurantifolia), e praticamente ausente em frutos de algumas variedades de tan-</p><p>gerineiras (Citrus reticulata) (Figura 5 c).</p><p>As vesículas de suco são estruturas multicelulares alongadas, que estão</p><p>unidas à região dorsal do gomo por filamentos denominados pedicelos, cujo</p><p>comprimento varia em função da localização da vesícula no gomo. São drenos</p><p>terminais, cujo desenvolvimento é complexo. Não estão conectadas ao sistema</p><p>vascular, portanto, a água e sólidos solúveis, necessários ao seu enchimento,</p><p>que são levados por transporte não vascular (célula a célula), via simplasto pelos</p><p>plasmodesmos ou via apoplasto.</p><p>Em alguns cultivares de citros (laranjas de Umbigo) ocorre a formação de</p><p>um segundo grupo de carpelos localizado na extremidade estilar, formando um</p><p>fruto secundário denominado “umbigo”, que pode estar oculto pela casca ou</p><p>mesmo formar uma protuberância externa (Figuras 5 d e 5 e).</p><p>a</p><p>b</p><p>c d</p><p>26</p><p>Os carpelos, que são considerados folhas modificadas, orientadas vertical-</p><p>mente, com suas margens curvadas para o eixo central, formam os lóculos ou</p><p>gomos dos frutos. O número de carpelos nos frutos dos citros varia de acordo</p><p>com os gêneros. No gênero Fortunella, eles variam de três a sete, enquanto nos</p><p>gêneros Citrus e Poncirus, o número mais comum de carpelos está entre oito a</p><p>doze.</p><p>Em cada carpelo, existem duas fileiras, contendo de quatro a seis óvulos</p><p>cada, que irão originar as sementes, que são, geralmente, de cor creme, forma</p><p>irregular, fusiformes ou pontiagudas. Quando desenvolvidas, as sementes são</p><p>coriáceas e escorregadias.</p><p>O número de sementes nos frutos varia consideravelmente (Figuras 5 a, 5 b e</p><p>5 c). Há desde cultivares sem sementes, cujos frutos são formados por parteno-</p><p>carpia, até cultivares com número superior a 40 sementes por fruto. A ausência</p><p>de sementes é uma característica desejável para cultivares cujos frutos são con-</p><p>sumidos in natura. Ela pode ser ocasionada por autoincompatibilidade (falta de</p><p>formação de em briões após autopolinização, embora os gametas sejam funcio-</p><p>nais), esterilidade masculina (problemas no desenvolvimento do pólen ou dos</p><p>estames) e ou feminina (comprometimento da viabilidade do saco embrionário</p><p>ou do pistilo). Cultivares triploides, como a limeira ácida ‘Tahiti’, não produzem</p><p>sementes devido à irregularidade na meiose.</p><p>Na reprodução por sementes, os citros produzem dois tipos de</p><p>embriões: o sexual (oriundo da fecundação) e os nucelares ou</p><p>apomíticos, que se originam das células não fertilizadas do te-</p><p>cido nucelar. Esses embriões originam plantas que têm o mes-</p><p>mo genótipo da planta-mãe. Em uma mesma semente de ci-</p><p>tros, podem ser encontrados vários embriões. Geralmente, um</p><p>deles é resultante da fecundação do óvulo, cuja informação ge-</p><p>nética depende dos genitores, e os demais são geneticamente</p><p>iguais à planta produtora da semente (planta-mãe).</p><p>A poliembrionia é um dos principais obstáculos para o melhoramento dos</p><p>citros usando métodos convencionais, em função da dificuldade de separação</p><p>Õ</p><p>Figura 5 – (a) Corte transversal da laranja ‘Serra d’Água’, indicando</p><p>suas principais estruturas; (b) frutos de lima doce, com diversos</p><p>estádios de desenvolvimento, mostrando os aumentos ocorridos</p><p>na razão endocarpo/casca; (c) tangerina mostrando a ausência de</p><p>albedo; (d) parte interna do umbigo de laranja ‘Bahia’ com vesícu-</p><p>las de suco no interior; (e) laranjas ‘Bahia’ provenientes da mesma</p><p>planta, mostrando umbigos com diferentes tamanhos</p><p>e</p><p>27</p><p>das plantas oriundas de embriões sexuais e nucelares. A maior parte das espé-</p><p>cies de citros é poliembriônica. Entretanto, há espécies monoembriônicas, como</p><p>a cidreira (Citrus medica), toranjeira (Citrus</p><p>maxima), limoeiros (Citrus limon) e</p><p>tangerinas do grupo das clementinas (Citrus clementina).</p><p>Os embriões zigóticos têm maior dificuldade de sobrevivência, por causa da</p><p>competição por espaço e nutrientes que existe entre eles e os embriões nucela-</p><p>res. Geralmente, quanto maior o número de embriões por semente, menor é o</p><p>tamanho e a sobrevivência do embrião sexual. Os embriões nucelares limitam a</p><p>variabilidade genética existente na progênie de um cruzamento qualquer, o que</p><p>reduz a probabilidade de obtenção de novos genótipos.</p><p>28</p><p>DESENVOLVIMENTO DA PLANTA E</p><p>DO FRUTO</p><p>1. PLANTA</p><p>O ciclo de vida de uma planta de citros utilizada comercialmente pode ser</p><p>dividido em três diferentes fases, cuja duração depende de vários fatores como</p><p>cultivar copa e porta-enxerto, clima, solo, tratos culturais e incidência de pragas</p><p>e doenças.</p><p>As fases são:</p><p>• Propagação - É a fase compreendida entre a semeadura dos porta-enxer-</p><p>tos e o momento em que as mudas estão com o desenvolvimento adequado</p><p>para serem plantadas no campo. O período de produção da muda varia em fun-</p><p>ção do sistema usado (céu aberto ou em ambiente protegido), do porta-enxerto</p><p>e dos tratos culturais, principalmente adubação, irrigação e controle de pragas</p><p>e doenças.</p><p>• Formação da Planta - é a fase em que a planta apresenta crescimento ati-</p><p>vo, formando toda a sua estrutura vegetativa (raízes, tronco, ramos e folhas) para</p><p>sustentar a produção futura. A produção é muito pequena ou nula no primeiro</p><p>ano após o plantio, porém aumenta gradativamente à medida que a planta vai</p><p>envelhecendo. Nessa fase, os recursos gerados com a venda dos frutos são in-</p><p>feriores aos custos de produção. Portanto, é necessário que o produtor possua</p><p>reservas de recursos suficientes para realizar os tratos culturais necessários. A</p><p>duração média dessa fase é de quatro a cinco anos.</p><p>• Produção - Inicia-se a partir dos cinco anos. A produção máxima de fru-</p><p>tos pelas plantas é alcançada aos oito a dez anos após o plantio, mantendo-</p><p>-se estável por vários anos. Nesse período, o crescimento vegetativo da planta</p><p>é pequeno, havendo apenas a substituição de folhas que caem e de ramos que</p><p>eventualmente secam. Os pomares de citros, quando bem manejados, apresen-</p><p>tam potencial para produzir comercialmente durante mais de 30 anos. Poste-</p><p>riormente, entram na fase de senescência, na qual a produção e, consequente-</p><p>mente, os lucros advindos dela decrescem gradualmente. Entretanto, devido ao</p><p>manejo inadequado e, principalmente, à alta incidência de doenças e pragas, os</p><p>pomares em algumas regiões do Brasil têm sido renovados com idade em torno</p><p>de 20 anos ou menos.</p><p>O desenvolvimento dos ramos dos citros sofre influência acentuada do cli-</p><p>ma, principalmente da temperatura e da umidade. O crescimento normalmente</p><p>ocorre em dois surtos anuais bem definidos nas regiões de clima frio, enquanto</p><p>nas regiões mais quentes, de clima tropical ou subtropical úmido, podem ocor-</p><p>rer de três a cinco surtos.</p><p>O surto de crescimento mais importante ocorre na primavera, quando a</p><p>planta emite ramos vegetativos e reprodutivos (Figura 6 a).</p><p>05</p><p>29</p><p>Os brotos dos citros são classificados de acordo com a presença ou não de</p><p>flores nos ramos e com o número de flores e folhas presentes:</p><p>- broto vegetativo (Figura 6 b – 1),</p><p>- broto reprodutivo unifloral com folhas (Figura 6 b - 2),</p><p>- broto reprodutivo multifloral com folhas (Figura 6 b - 3),</p><p>- broto reprodutivo unifloral sem folhas (Figura 6 b - 4),</p><p>- broto reprodutivo multifloral sem folhas (Figura 6 b - 5).</p><p>Os demais surtos de crescimento ocorrem no verão e outono, quando os</p><p>ramos geralmente são mais longos, mais vigorosos, com folhas maiores e entre-</p><p>nós mais compridos e não produzem flores, a não ser que condições climáticas</p><p>indutivas ao florescimento ocorram antes da brotação das plantas. As flores dos</p><p>citros originam-se de gemas presentes nas brotações novas, que, por sua vez,</p><p>são originadas de gemas presentes em ramos provenientes dos surtos ou fluxos</p><p>de crescimento do ano anterior. Percebe-se, portanto, que somente ramos ma-</p><p>duros, porém, com idade inferior a um ano, têm capacidade de emitir brotações</p><p>reprodutivas. Por isso, a produção dos citros está concentrada na parte externa</p><p>da copa.</p><p>O florescimento principal dos citros ocorre no início da primavera (agosto</p><p>- setembro no hemisfério Sul e final de março a início de maio no hemisfério</p><p>Norte). No entanto, algumas espécies e cultivares florescem várias vezes durante</p><p>o ano, como a cidreira, os limoeiros verdadeiros, a limeira ácida ‘Tahiti’ e algumas</p><p>laranjeiras, como a ‘Pêra Rio’.</p><p>Uma planta de citros adulta produz elevado número de flores, podendo</p><p>alcançar mais de 100.000 unidades. Mas o número de frutos produzidos pela</p><p>planta é baixo, quando comparado ao número de flores, podendo oscilar entre</p><p>0,1 a 15% do total de flores produzidas. Essa variação depende da idade das</p><p>plantas, manejo do pomar, pragas, doenças e uso de técnicas para aumentar o</p><p>vingamento, como anelamento de troncos e ramos. Geralmente, o vingamento</p><p>de frutos é maior em plantas mais novas, durante a fase de formação do que em</p><p>plantas mais velhas, que já estão na fase de produção.</p><p>A necessidade de polinização e fecundação para que ocorra a fixação dos</p><p>frutos dos citros é variável, dependendo do cultivar em questão. Flores dos cul-</p><p>a b</p><p>1</p><p>2</p><p>43</p><p>5</p><p>Figura 6 - Laranjeira durante brotação de primavera, emitindo ramos reprodutivos (ramos com flo-</p><p>res) e ramos apenas vegetativos (a); Tipos de brotações dos citros (b): broto vegetativo (1), broto</p><p>reprodutivo unifloral com folhas (2), broto reprodutivo multifloral com folhas (3) broto reproduti-</p><p>vo unifloral sem folhas, (4) broto reprodutivo multifloral sem folhas (5).</p><p>30</p><p>tivares de citros, cujos frutos produzem muitas sementes, necessitam ser polini-</p><p>zadas e fecundadas para a produção de frutos. Entretanto, existem variedades</p><p>partenocárpicas, que não necessitam polinização e fecundação para que produ-</p><p>zam frutos. Ainda existem aquelas que necessitam apenas da polinização, mas</p><p>não da fecundação para que haja o desenvolvimento dos frutos. A polinização</p><p>é efetuada por insetos, principalmente abelhas, que são atraídas pela fragrância</p><p>liberada por elas.</p><p>Durante o florescimento e frutificação, ocorre queda acentuada de flores e</p><p>frutos em vários estádios de desenvolvimento (Figura 7 a). Nas flores remanes-</p><p>centes, as pétalas caem ao mesmo tempo em que o ovário inicia o seu desenvol-</p><p>vimento. Os pequenos frutos no início do desenvolvimento que estão propen-</p><p>sos a “vingar” apresentam coloração verde escura e são brilhantes, enquanto os</p><p>que irão cair ficam amarelados (Figura 7 b).</p><p>2. FRUTO</p><p>O crescimento dos frutos dos citros é do tipo sigmoidal simples, podendo</p><p>ser dividido em três fases - embora não seja possível distinguir claramente o tér-</p><p>mino de uma fase e o início da subsequente. Elas são denominadas de fase I (di-</p><p>visão celular), II (expansão celular) e III (amadurecimento dos frutos). A duração</p><p>de cada fase depende da espécie de citros e das condições climáticas. Em Viçosa</p><p>(MG), o desenvolvimento de tangerinas ‘Poncã’ a partir de cinco milímetros de</p><p>diâmetro até a colheita dos frutos, realizada quando com valor médio de sólidos</p><p>solúveis totais de 11,1 e acidez total titulável de 0,5 durou 276 dias (9,2 meses)</p><p>(Figura 8).</p><p>- Fase I: começa logo após o florescimento, antes da queda das pétalas, o au-</p><p>mento em tamanho dos frutos é pequeno, restrito praticamente à casca. A divi-</p><p>são celular, porém, é intensa. Na fase I são formadas praticamente todas as célu-</p><p>las do fruto, cuja expansão na fase subsequente será responsável pelo tamanho</p><p>final dos frutos. Sua duração é de 1,0 a 1,5 meses após a antese, dependendo das</p><p>condições climáticas e do cultivar, podendo ir até o período de queda fisiológica</p><p>dos frutos (“queda de junho”, no hemisfério Norte, ou “queda de novembro”, no</p><p>hemisfério Sul).</p><p>- Fase II: a espessura da casca diminui e o albedo se torna mais fino, com o</p><p>aumento do conteúdo de suco nas vesículas, resultando</p><p>em aumento de volume</p><p>do endocarpo, que exerce pressão de dentro para fora sobre a casca, “esticando-</p><p>-a”. Durante essa fase, o volume celular pode aumentar centenas de vezes.</p><p>Sua duração varia de acordo com as espécies e cultivares, a temperatura e</p><p>Figura 7 - Frutinhos abscindidos de lima ácida Tahiti com diferentes tamanhos (a); frutos no início</p><p>do desenvolvimento que estão propensos a “vingar” têm coloração verde escura e são brilhantes,</p><p>enquanto os que irão cair ficam amarelados (b). Viçosa – MG</p><p>a b</p><p>31</p><p>a umidade, indo de dois até 10 meses. Ela determina a época de colheita dos</p><p>frutos, e é maior nas variedades tardias; intermediária nas variedades da estação,</p><p>e menor nas precoces. Em locais de clima subtropical, em que as temperaturas</p><p>durante o inverno são mais baixas, a duração da fase II é maior do que nas re-</p><p>giões tropicais. É por essa razão que os frutos de um mesmo cultivar de citros,</p><p>plantado, por exemplo, na região Norte de Minas Gerais, são colhidos mais cedo</p><p>do que os do mesmo cultivar, cujas plantas se desenvolveram na região Sul do</p><p>estado. À medida que as vesículas de suco absorvem água, elas crescem pro-</p><p>gressivamente, ocupando as cavidades dos lóculos, enquanto o albedo se torna</p><p>mais fino. O volume de suco alcança o máximo no final dessa fase, quando tam-</p><p>bém tem início o acúmulo de açúcares. A fase II termina com o início do amadu-</p><p>recimento dos frutos.</p><p>- Fase III: é a fase de amadurecimento dos frutos, na qual praticamente não</p><p>há crescimento do endocarpo. Entretanto, nesta fase ainda pode haver pequeno</p><p>crescimento da casca em algumas tangerinas, como satsumas e ‘Poncã’, em</p><p>detrimento do endocarpo, o que resulta na separação da casca do endocarpo,</p><p>gerando espaços vazios, prejudicando a aparência dos frutos e aumentando</p><p>a suscetibilidade a danos por compressão. Essa desordem é conhecida como</p><p>puffing (inglês), bufado (espanhol) ou estufamento dos frutos.</p><p>Durante a fase III ocorre principalmente o aumento do conteúdo de sólidos</p><p>solúveis; redução da acidez do suco; aumento no Índice de Maturação (Figura 9)</p><p>e alteração na cor da casca, que se torna laranja ou amarela, dependendo do cul-</p><p>tivar e do clima. Em regiões onde ocorrem temperaturas elevadas durante a fase</p><p>de amadurecimento, a casca dos frutos pode permanecer verde ou esverdeada,</p><p>mesmo quando ele está internamente apto para o consumo.</p><p>Figura 8 - Crescimento de tangerinas ‘Poncã’ a</p><p>partir de cinco milímetros de diâmetro até a co-</p><p>lheita dos frutos, que ocorreu quando estavam</p><p>com valor médio de teores de sólidos solúveis</p><p>totais de 11, 1 e acidez total titulável de 0,5. Vi-</p><p>çosa – MG.</p><p>32</p><p>3. PRINCIPAIS FATORES QUE AFETAM O CRESCIMENTO DOS FRUTOS</p><p>O crescimento dos frutos depende de fatores que podem atuar isoladamen-</p><p>te ou em conjunto. Considerando apenas os fatores endógenos, ou inerentes à</p><p>planta, o crescimento dos frutos é influenciado principalmente pela genética,</p><p>tipo de inflorescência, área foliar, número de flores e de frutos presentes na plan-</p><p>ta, disponibilidade de carboidratos e hormônios.</p><p>a) Tipo de inflorescência e área foliar</p><p>Brotações com maior relação folha/fruto, como é o caso das inflorescências</p><p>com folhas, geralmente apresentam maior fixação de frutos, taxa inicial de cres-</p><p>cimento e tamanho final de frutos. Isso ocorre provavelmente, porque as inflo-</p><p>rescências com folhas têm maior disponibilidade de carboidratos, maior força de</p><p>dreno e melhor conexão vascular com o fruto, em decorrência da maior produ-</p><p>ção de hormônios pelas folhas.</p><p>Geralmente, o tamanho da área fotossintética disponível para o crescimento</p><p>de cada fruto é o principal fator na determinação de seu tamanho, embora a área</p><p>ideal de folhas para o crescimento dos frutos, para o mesmo cultivar não seja</p><p>fixa. Ela pode variar de acordo com a idade da planta e as condições ambientais.</p><p>A influência do número de folhas disponíveis por fruto é exemplificada na</p><p>Figura 10, que mostra o efeito de várias relações folha/fruto (controle, 10, 20,</p><p>30 e 40 folhas por ramo) sobre o crescimento dos frutos de laranjeira ‘Salustia-</p><p>na’, situados em ramos que foram anelados quando os frutos tinham o tamanho</p><p>médio de 30 mm. No tratamento controle, ou testemunha, o número natural de</p><p>folhas por ramo foi mantido acima de 40. Observa-se que o diâmetro equatorial</p><p>e massa fresca dos frutos foram maiores na medida em que houve aumento do</p><p>número de folhas por ramo, provavelmente devido à maior disponibilidade de</p><p>carboidratos e de minerais. Nessa etapa, 30 folhas por fruto foram suficientes</p><p>Figura 9 - Evolução dos teores de suco (%) teores de sólidos solúveis (SST), acidez titulável (AT) e</p><p>Índice de Maturação (Relação brix/acidez) de quatro cultivares de laranjeiras em Viçosa – Minas</p><p>Gerais, no período entre 27 de abril a 31 de agosto de 2007</p><p>33</p><p>para garantir o seu crescimento. Isso porque as curvas para 30 e 40 folhas estão</p><p>muito próximas, tanto para o diâmetro quanto para a massa dos frutos.</p><p>b) Número de flores</p><p>O número médio de flores emitidas por planta de citros é alto, se comparado</p><p>com o de frutos que a planta pode manter até a maturação. Portanto, a per-</p><p>centagem de flores que vinga é muito baixa (Figura 11), podendo ser inferior a</p><p>0,2%. No exemplo ilustrado na Figura 11, em pomar de limeira ‘Tahiti’ não irriga-</p><p>do, o percentual de frutos colhidos foi de 2,95%. Nesse caso, a fixação dos frutos</p><p>pode ser considerada alta porque as plantas de ‘Tahiti’ eram jovens. É conhecido</p><p>que, em plantas jovens, a percentagem de fixação dos frutos é maior de que em</p><p>plantas mais velhas, devido, principalmente ao número muito menor de flores</p><p>produzidas nas plantas jovens.</p><p>Frutos Colhidos</p><p>Botões florais</p><p>caídos</p><p>Flores caídas</p><p>Frutos caídos</p><p>2,95% 2%</p><p>49,71% 45,41%</p><p>Figura 10 - Efeito da relação folhas/frutos sobre o diâmetro dos frutos (mm), situados em ramos</p><p>anelados de laranjeira ‘Salustiana’. No tratamento controle, o número natural de folhas presentes</p><p>por ramo foi mantido acima de 40 folhas. Valencia – Espanha</p><p>Figura 11 - Percentagem de estruturas reprodutivas (botões florais, flores e frutos) caídas</p><p>durante o período de florescimento e frutificação e percentagem de frutos colhidos em</p><p>plantas de limeira ácida ‘Tahiti’ com cinco anos de idade. Viçosa – MG</p><p>34</p><p>Apesar da baixa fixação de flores e frutos nos citros, a produção das plantas</p><p>geralmente é alta, devido ao número elevado de flores produzidas, que pode ser</p><p>superior a 100.000 em plantas adultas. Somente em situações particulares, como</p><p>no caso de plantas novas e também em cultivares que apresentam alternância</p><p>de produção, nos anos de baixo florescimento, o pequeno número de flores pro-</p><p>duzidas pode reduzir a produção.</p><p>Há um equilíbrio entre a produção de flores e o número de frutos produ-</p><p>zidos para a maioria das espécies e cultivares de citros. A exceção são alguns</p><p>cultivares de tangerineiras, que produzem grande número de frutos, causando</p><p>o esgotamento de suas reservas nutricionais e, consequentemente, resultando</p><p>em produção de frutos de tamanho pequeno e em produção alternante na safra</p><p>seguinte à que ocorreu a produção excessiva. Esse fenômeno ocorre com frequ-</p><p>ência com a Poncã, que é a principal tangerineira cultivada no Brasil.</p><p>Nos demais cultivares, quando a produção de flores é elevada, o vingamento</p><p>é menor, indicando a existência de um mecanismo de compensação, que equili-</p><p>bra o número de frutos produzidos pela planta, de acordo com a capacidade de</p><p>fornecimento de metabólitos para evitar o esgotamento das reservas, garantin-</p><p>do o crescimento, floração e produção no ano seguinte.</p><p>c) Número de frutos</p><p>Durante o desenvolvimento, a competição entre flores e frutos por água, ele-</p><p>mentos minerais e carboidratos resulta em correlação negativa entre o número</p><p>de frutos por planta e o seu tamanho na colheita, ou seja, quanto menor o nú-</p><p>mero de frutos por planta, maior o tamanho individual de cada um deles. Entre-</p><p>tanto, essa correlação somente é significativa até determinado número de frutos</p><p>por planta, que é variável de acordo</p><p>com cada cultivar e com o ambiente. Acima</p><p>desse número limite de frutos por planta, o tamanho final é pouco influenciado</p><p>pelo seu número na planta; ou seja, alcançam um tamanho mínimo, indepen-</p><p>dentemente do número de frutos presentes na planta.</p><p>O conhecimento dessa relação é fundamental para o emprego de técnicas</p><p>que visam aumentar o tamanho dos frutos de diversos cultivares de tangerinei-</p><p>ras e reduzir a alternância de produção. Práticas culturais, como o anelamento</p><p>dos ramos e desbaste de frutos, visam basicamente aumentar a disponibilida-</p><p>de de carboidratos e reduzir a competição entre os frutos, o que normalmente</p><p>resulta em aumento no tamanho dos frutos. Quanto foi realizado o anelamen-</p><p>to em troncos de limeiras ‘Tahiti’ com quatro anos de idade, constatou-se que</p><p>houve aumento no número de frutos por planta e redução na massa média dos</p><p>frutos, quando comparado com a incisão anelar e com a testemunha (Figura 12).</p><p>N</p><p>úm</p><p>er</p><p>o</p><p>de</p><p>fr</p><p>ut</p><p>os</p><p>p</p><p>or</p><p>p</p><p>la</p><p>nt</p><p>a</p><p>Técnica de interrupção do floema</p><p>Massa média dos frutosFrutos/ planta</p><p>0</p><p>84</p><p>Anelamento M</p><p>as</p><p>sa</p><p>m</p><p>éd</p><p>ia</p><p>p</p><p>or</p><p>fr</p><p>ut</p><p>o</p><p>(g</p><p>)</p><p>200</p><p>400</p><p>600</p><p>800</p><p>1000</p><p>82</p><p>80</p><p>78</p><p>76</p><p>74</p><p>72</p><p>70</p><p>68</p><p>66</p><p>Incisão Testemunha</p><p>Figura 12 - Valores médios do número de frutos colhidos por planta e</p><p>da massa média dos Frutos de limeiras ácidas ‘Tahiti’ com quatro anos</p><p>de idade, submetidas ao anelamento e incisão anelar no tronco. Viçosa</p><p>– MG</p><p>35</p><p>d) Carboidratos</p><p>Os frutos em franco desenvolvimento são os drenos mais fortes nas plantas</p><p>dos citros. O crescimento dos frutos depende, basicamente, da disponibilidade</p><p>de água, minerais, carboidratos e hormônios. A mobilização de carboidratos dos</p><p>órgãos de armazenamento para as inflorescências é fundamental para que ocor-</p><p>ra fixação satisfatória e o desenvolvimento normal dos frutos.</p><p>A desfolha das plantas realizada ao final da fase I de crescimento dos frutos</p><p>e início da fase II, momento em que há aumento significativo da demanda dos</p><p>frutos por carboidratos e minerais, causa interrupção do crescimento e poste-</p><p>riormente a abscisão dos frutos. Quando é realizada após a queda fisiológica</p><p>(june drop), a desfolha somente paralisa o crescimento dos frutos, mas não causa</p><p>abscisão.</p><p>A variação sazonal do teor de amido nas folhas e no lenho maduro indica</p><p>que ele se acumula durante o repouso do inverno. Na primavera, as reservas de</p><p>amido diminuem em função do transporte para as brotações vegetativas e re-</p><p>produtivas em formação, iniciando, neste momento, forte competição entre os</p><p>órgãos em desenvolvimento.</p><p>As reservas de amido nas folhas dependem da área foliar disponível por fruto</p><p>e do seu estádio de desenvolvimento. Em avaliações realizadas durante 42 dias,</p><p>em folhas de laranjeira ‘Salustiana’, situadas em ramos com diversas relações fo-</p><p>lhas/fruto, constatou-se que houve redução nas reservas de amido nas folhas,</p><p>considerando as avaliações inicial e final, além das reservas serem maiores nas</p><p>folhas situadas nos ramos com maior número de folhas (Figura 13).</p><p>e) Hormônios</p><p>As giberelinas, citocininas e auxinas participam do processo reprodutivo dos</p><p>citros. Entretanto, as giberelinas são as mais relacionadas à fixação e ao desen-</p><p>volvimento dos frutos. A aplicação de ácido giberélico no momento da antese</p><p>promove a divisão celular e estimula o transporte de minerais e fotoassimilados</p><p>até os ovários. Em alguns cultivares autoincompatíveis, como as tangerineiras</p><p>do grupo das clementinas, a aplicação de giberelinas compensa a ausência de</p><p>Figura 13 - Valores médios do número de frutos colhidos</p><p>por planta e da massa média dos Frutos de limeiras ácidas</p><p>‘Tahiti’ com quatro anos de idade, submetidas ao anela-</p><p>mento e incisão anelar no tronco. Viçosa – MG</p><p>36</p><p>autofecundação, aumentando a fixação e o desenvolvimento dos frutos.</p><p>Em cultivares polispérmicos (aqueles cujos frutos apresentam muitas se-</p><p>mentes), o desenvolvimento dos frutos está relacionado à presença de semen-</p><p>tes, que por sua vez depende da polinização. Normalmente, plantas desses culti-</p><p>vares têm maior fixação de frutos, porque a polinização e as sementes estimulam</p><p>a síntese de hormônios nos ovários em desenvolvimento, principalmente de gi-</p><p>berelinas, que evitam a queda de flores e frutos na fase inicial de crescimento.</p><p>Esse fato ocorre com a tangerineira ‘Dancy’, tangoreira ‘Murcotte’, tangerineira</p><p>‘Poncã’ e mexeriqueira ‘Rio’, que produzem muitas sementes e apresentam alta</p><p>fixação de frutos.</p><p>A aplicação exógena de giberelinas em ovários não polinizados de cultiva-</p><p>res polispérmicos aumenta a fixação, reforçando a importância da polinização e</p><p>das sementes nesses processos. Em cultivares partenocárpicos, como a laranjeira</p><p>‘Bahia’, as paredes do ovário são apontadas como as responsáveis pela produção</p><p>de hormônios, porém, em concentrações muito baixas, explicando a menor fixa-</p><p>ção de frutos observada em plantas desse cultivar.</p><p>4. ABSCISÃO DOS FRUTOS</p><p>A abscisão consiste no desprendimento de frutos, flores e folhas da planta. É</p><p>controlada por hormônios, principalmente o etileno, auxinas, ácido abscísico e</p><p>pela atividade de enzimas de degradação da parede celular e por vários agentes</p><p>bióticos e abióticos.</p><p>Nos frutos dos citros, existem duas zonas de abscisão: uma na união do ramo</p><p>ao pedúnculo e outra na região do cálice ou disco floral (Figura 14), formadas</p><p>por camadas de células parenquimáticas de paredes finas e praticamente sem</p><p>lignina e suberina.</p><p>Durante o primeiro mês após a antese, a abscisão ocorre principalmente na</p><p>região compreendida entre o pedúnculo e o ramo, mas, com o crescimento dos</p><p>frutos, há aumento progressivo de abscisão na região compreendida entre o dis-</p><p>co floral e ovário.</p><p>O processo de abscisão é contínuo ao longo do tempo, caindo, simultanea-</p><p>mente, botões florais, flores abertas e frutinhos (Figura 15). A etapa seguinte à</p><p>queda inicial de frutos é denominada “queda fisiológica”, conhecida como queda</p><p>Figura 14 – Setas indicam as duas zonas de absci-</p><p>são em laranjas: uma situada entre o pedúnculo</p><p>e o ramo e a outra no ponto de união do pedún-</p><p>culo com o fruto</p><p>37</p><p>de novembro no hemisfério Sul e june drop no Norte. A queda fisiológica é causa-</p><p>da pela competição entre as folhas e os frutos jovens por assimilados, entretan-</p><p>to, é também influenciada por fatores ambientais. A queda de frutos nessa etapa</p><p>é aumentada pela ocorrência de estresses ambientais. A partir desse ponto até</p><p>o amadurecimento dos frutos, a queda somente ocorre devido a danos mecâ-</p><p>nicos, fatores climáticos, desordens fisiológicas e ataque de pragas e doenças.</p><p>Figura 15 - Abscisão de frutos de limeira ‘Tahiti’. Frutos prestes a cair ficam me-</p><p>nores e amarelados</p><p>Em Viçosa (MG), a queda de botões florais da limeira ‘Tahiti’ pode prolongar-</p><p>-se até o início de novembro. Mas a maior abscisão ocorre no início do flores-</p><p>cimento, prolongando-se até meados de agosto. A queda de botões florais é</p><p>inexpressiva entre setembro e outubro.</p><p>Por outro lado, a queda de flores é maior nos meses de outubro e novembro,</p><p>encerrando-se no final de novembro, quando existem apenas frutos na planta.</p><p>Com o final da fase de floração e início da frutificação, intensifica-se a abscisão</p><p>de frutos, havendo, nesse caso, dois períodos de maior abscisão: o primeiro de</p><p>meados de outubro até início de novembro, e o segundo, de menor intensidade,</p><p>do final de novembro até meados de dezembro (Figura 16).</p><p>Figura 16 - Número médio de estruturas reprodutivas caídas (botões flo-</p><p>rais, flores e frutos) do início do florescimento até próximo à colheita de</p><p>plantas jovens de limeira ‘Tahiti’ (Viçosa – 2007)</p><p>38</p><p>5. AMADURECIMENTO DO FRUTO</p><p>Nos citros, a respiração dos frutos declina lentamente nos últimos estádios</p><p>do desenvolvimento e a evolução do etileno é muito lenta durante a maturação.</p><p>Em função dessa característica, são classificados como frutos de amadurecimen-</p><p>to “não climatérico”. Durante o amadurecimento, não ocorrem variações drásti-</p><p>cas na composição química dos frutos – as mais evidentes ocorrem nos teores</p><p>de suco, no conteúdo de</p>
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